sexta-feira, 15 de julho de 2011

PASSAGENS PARA HILTON

Hilton é um usuário de um hospital de custódia no Amapá, há mais uns seis anos preso. A informação que tenho é que roubou comida da casa de um juiz da cidade. Sem familia, foi recolhido à casa de detenção e até hoje. Abril de 2010, houve um encontro em Brasília sobre saúde mental e o sistema prisional, a então coordenadora piauiense Gisele Martins foi abordada por uma educadora penitenciária Maria José S. de Almeida que portava uma carta do mesmo, pedindo que alguém o ajudasse a voltar para casa, já que sua pena está mais do que paga.
Eu, estava assistente social da gerência, fui encarregada da localização e abordagem da familia, onde no inicio alguns dos irmãos se mostraram temerosos com seu regresso porque segundo eles, Hilton desde criança foi pessoa com transtorno mental, chegou a morar na rua, ser interno do pavilhão infanto juvenil do HAA, hoje CAPS i e na vida adulta desenvolveu grande agressividade, causando muitos dissabores aos irmãos e pais já falecidos. Numa destas confusões com a familia, um dos irmãos o embarcou em um ônibus que o levou ao Amapá. Mas com um trabalho de sensibilização sobre as novas politicas de saúde mental, os serviços que o usuário poderia  se incluir ao chegar em Teresina. Alguns irmão falaram com ele por telefone na gerência de saúde mental. E então chegaram a decisão que o receberiam, familia simples, desprovida de vultosos bens materiais, dependeriam de passagens aéreas cedidas pelo governo.
Infelizmente Gisele Martins não fez seu possível nesse caso. Tantas passagens aéreas ida e volta para delegados e observadores (gestores como ela e algumas enfermeiras de salto alto) que não tomam nenhum partido de nossas dores de usuários. E passagens para outros congressos e encontros de técnicos da gerência. Será que burocracia é mais importante do que gente? Chego a conclusão que quem está na gestão da saúde mental no Piauí de longe é o idealizado "trabalhador de um novo tipo" de Pedro Gabriel Delgado, o trabalhador teórico e engajado politicamente na luta antimanicomial, aquele que entende da confecção do resgate da identidade, da criação de novas subjetividades. Na gestão estão pessoas normais para quem o usuário é uma "categoria", ente abstrato, não é gente,  não é cliente, não é o fim do serviço e nem o produto final. Quem está na gestão só mexe com papel, reuniões com seus pares na hierarquia do serviço, chegando algum caso de "gente" usuário, reencaminha para quem está com o "pé na lama", nos dizeres de um palestrante carioca, no encontro de Serviço Social e Saúde Mental, em junho de 2010, na UERJ, lama somos nós usuários, quem trabalha direto conosco, tem o pé sujinho, sujinho, não dá para usar salto, não!
A penitenciária através de Maria José entrou novamente em contato comigo. Está aqui, em email recebido há minutos atrás. Hilton está de alta novamente e o juiz ( a tal da medida de segurança?) não o libera se a familia não estiver presente. O que fazer? Procurar a familia? E depois?Fizemos um muro às duras penas para Bia, não gostaria de pedir outra vez. Escrever oficios para a insensível da Lilian Martins nem pensar. Pedir em gabinetes de politicos não tenho tempo e nem aguento chá de cadeira. Que fazer? A gerente de saúde mental só tem 17 dias no cargo, minhas colegas que ficaram por lá nehuma é militante, depois minha paciência com gente normal esgotou com estas pessoas.
Só comunicar a gerência relembrando o caso, dos ofícios enviados a secretaria de segurança pedindo as passagens que foram negadas e não foram enviados a outras secretarias como a própria SESAPI. Farei isso. A familia chegou a procurar a gerência ainda este ano, mas sem gerente por tanto tempo para decidir alguma coisa, o caso foi encaminhado a mim, enquanto ONG. ONG sem financiamento algum senão de doações de amigos e do meu próprio pobre bolso.
Bem, se alguém ler estes posts "desesperados" e entende... envie sugestões.

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