sexta-feira, 23 de maio de 2008

II ENCONTRO PIAUIENSE DE ESTUDANTES DE ENFERMAGEM: Trabalho em Enfermagem: Construindo uma nova prática social"



De 21 a 24 de Maio está acontecendo esse encontro, que me surpreendeu pelo número de participantes de estudantes dos municípios do interior e de outros estados. Estive lá, numa roda de conversa sobre movimentos sociais e saúde, representando o movimento de usuários em saúde mental adeptos da luta antimanicomial. Infelizmente de dez segmentos de entidades ligadas ao movimento social em saúde, somente nós e o MORHAN estivemos presentes. Os movimentos sociais perdem excelente espaço de atuação, quando desperdiça oportunidades como essas de levar o debate para estudantes sequiosos de aprender com a realidade, que a formação acadêmica não oferece o bastante, senão nos campos de estágio ou pesquisa. Esses futuros profissionais entre outras coisas, queriam debater com os movimentos sociais as questões de saúde coletiva, a concepção do Sistema Único de Saúde (SUS), sua viabilidade num sistema capitalista, de estado neoliberal e cidadãos sem consciência de direitos. Queriam entender como se articulam as políticas sociais e as questões de saúde, as questões da formação em saúde e real atuação nos serviços após formados. Senti saudade da época de centro acadêmico e diretório central dos estudantes.
Falamos, discutimos saúde mental, hanseanise e a saúde do trabalhador. Falas mais politizadas, mais próximas da realidade, falas mais ingênuas (talvez na sala houvesse uns 50 estudantes com menos de 27 anos), mas uma palavra velha conhecida nossa, era a ordem: Luta.

domingo, 18 de maio de 2008

18 DE MAIO: DIA NACIONAL DA LUTA ANTIMANICOMIAL


Diário da Crise

Hoje dia 18 de maio é um dia de denúncias e comemorações para aqueles que têm consciência política e consciência que vive com transtorno mental sem esconder-se e assume a causa da luta antimanicomial no Brasil.


Meus sintomas agudos parecem finalmente estarem em remissão. Tento voltar a escrever a monografia, mas ainda há um certo desconforto mental após um esforço de concatenação de idéias. Tento me acalmar e continuar. Os problemas cotidianos e a maternidade me extenuam o que acentua o aparecimento dos sintomas, menos psicóticos, mais oscilações do humor. Mas leve, como impaciência, irritabilidade, sem ansiedade. Acho que estão num padrão normal a reação aos eventos, reações que qualquer pessoa sem o transtorno demonstraria.
Reafirmo que minha melhora é resultante da busca da medicação que mais se ajusta a meu organismo (mesmo levando em conta os efeitos colaterais), e a associação com terapias complementares. Dessa vez, a orientação correta do psiquiátrica que diante dos sintomas psicóticos não se adiantou, apenas refez o ansiolítico que havia acabado e manteve o estabilizador do humor e as sessões de terapia auricular, as últimas com acumputura.
Estou com quase impeceptível "desordem mental", característica das crises, mais serena e produtiva.
Hoje é um domingo de sol, não vou à piscina, volta a minha rotina da escrita. Graças a Deus.

terça-feira, 13 de maio de 2008

DIÁRIO DA CRISE: 3

"Os homens
pensam que possuem uma mente,
mas é a mente que os possui"
"Há pessoas que amam o poder,
e outras
que tem o poder de amar"
Bob Marley

Acho que os sintomas psicóticos entram em remissão. O psiquiatra tinha razão, quando o ansiolítico começou a agir. Reduziu minhas reações de desespero antes as situações limites, que se apresentavam no meu dia a dia me causando o stress, que puxavam os sintomas bipolares. Tenho estado serena, triste por conta do término de um relacionamento, mas não deprimida. Na mão coloca-se outros anéis. E põe-se óculos coloridos. Faz um sol e um perfume silvestre maravilhoso, dos arbustos perto da escola. É meio dia e meio. Esperamos terminar o dia bem, ainda trabalho à tarde e noite. A perícia médica me negou licença médica e ainda insinuou fraude, minha e de meu psiquiatra. Não tive forças para discutir no momento. Depois na militância pegarei de cheio aquele médico. Há momentos que só você pode domar sua loucura, senão não volta mais a lucidez.
13 de maio

segunda-feira, 12 de maio de 2008

DIÁRIO DA CRISE: 2


12 DE MAIO

Desde ontem me sinto menos frágil, o aumento da dosagem do ansiolítico e manutenção da mesma de estabilizador, junto com as psicoterapias parecem finalmente ajustar minha emoção. Meu espírito parece se fortalecer. Apesar que ainda ontem a noite, a mente bastante inquieta, reproduzia as vozes que ouvira durante o dia. Tentei relaxar para calá-las e dormi razoavelmente bem.
Hoje fez uma manhã de maio linda. Parou de chover e o sol de Teresina brilhou como nunca, cheio de vento, nuvens brancas e o azul do céu. Lucidez!
Com 300mg de estabilizador mais 2mg de ansiolítico, eu diria que tive hoje uma vida produtiva média. Tive paciência e alguma sorte em resolver alguns negócios e algumas coisas muito boas me aconteceram, que superaram alguns dissabores afetivos. Me sinto uma árvore forte, de muitos galhos, numa floresta densa entre outras. Vento fraco e nem vento forte nos derruba, pertinho corre um rio que nos cumprimenta as vezes sereno, outras vezes agitado. É a vida.

DIÁRIO DA CRISE:1

09 de maio

Aniversário do meu amigo Ciro. O estabilizador e o ansiolítico fazem a parte deles, mas parece não ser suficientes. De manhã fui a terapeuta naturista, que também é pessoa que vive com transtorno e produtivamente... fiz a terapia auricular chinesa, segundo ela, com as sementinhas e do in. No final da manhã realmente a inquietação mental era bem menor que ontem. A tarde fiz massoterapia com relaxamento. Resolvi coisas do dia a dia, mais calma hoje. A noite tomei passes espiritas, sempre nas crises ajudam no meu reequilíbrio. Foi um dia de me cuidar. Filha pequena ao lado. Comprei um vestido azul.

quinta-feira, 8 de maio de 2008

A LUTA PELA SANIDADE; não perder noção de realidade, continuar produtiva e razoavelmente feliz.


"Não sei....se a vida é curta
Ou longa demais para nós,
Mas sei que nada do que vivemos tem sentido,
se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser:
Colo que acolhe,
Braço que envolve,
Palavra que conforta,
Silêncio que respeita,
Alegria que contagia,
Lágrima que escorre,
Olhar que acaricia,
Desejo que sacia,
Amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo,
É o que dá sentido à vida
É o que faz com que ela
Não seja nem curta nem longa demais
Mas que seja intensa
Verdadeira....pura,
Enquanto durar."

Cora Coralina

Uma bela amiga diagnosticada como boderline, me retorna uma mensagem dizendo que eu teria me tornado uma referência para que ela não desistisse da luta constante contra os sintomas... outra linda amiga me manda este scrap com este poema de Cora Coralina, amputada, anjinha de uma asa só, escreve só com um braço. Minha filha surda é uma talentosa bailarina. Me preocupo com o stress de uma amiga terapeuta, correndo, literalmente para os CAPS do interior. Diversidade humana...
Passo mais um dia afastada do trabalho. O psiquiatra (me acompanhou no "grande surto" na antiga pré internação do Hospital Areolino de Abreu, não lembro dele) me explica que o fato da ausência do ansiolítico, que acabara a uns cinco dias atrás, talvez estivesse provocando o aparecimento de sintomas psicóticos. Que são os mais incapacitantes: vozes, alucinações, delírios, impaciência exarcebada , agressividade, e ou outros.
Que a vida seja longa, como foi a vida da poetisa acima. E a lucidez, a capacidade de perceber, de criar, fazer arte, amar, se indignar e lutar. Luta boa de heróis cotidianos. Viva a Marta. Viva a Sandra. Viva a Liza. Viva a Mirra. Viva o Humberto.Viva o Nilo. Viva o Carrano. Viva meu pedreiro, que não tem nenhum cabelo no corpo, por conta de uma febre (?), ele me diz: Pavio longo, não esquente ainda, pavio longo...

terça-feira, 6 de maio de 2008

O MEDUNA FECHOU: VIVA O DR. CLIDENOR!

http://180graus.brasilportais.com.br/geral/sanatorio-meduna-vai-encerrar-atividades-5547.html

Conheci de perto Dr. Clidenor, idealizador e criador do Meduna. Na sua época,1940, dirigindo o atual Hospital Areolino de Abreu, foi considerado o Pinel Piauiense..."enfilerou os seus doentes e foi com eles para a rua, para uma praça, depositar 1450 quilos de correntes de ferro ao sol, num testemunho de repúdio e de desafronta. Aquela tonelada de ferro ficou como um monumento marcando a divisão da era da ciência psiquiátrica no Piauí:antes e depois de Clidenor." (citado em Panorama da Assistência Psiquiátrica no Piauí)
Estávamos num fórum sobre saúde mental no auditório Mestre Dezinho, em 1997. Ele me cumprimentou e falou:" Você fala bem. E foi paciente do Meduna. Tá vendo, como dá certo."
Apaixonado por Dom Quixote, consta que há uma biblioteca sua com um acervo de trezentas edições nas mais variadas línguas, dessa obra. Sem falar na estátua de bronze na entrada do sanatório, com Rocinante e tudo. É isso, os homens fazem história.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.