sexta-feira, 29 de abril de 2011

INTERNAÇÃO PARA DEPENDÊNCIA QUÍMICA OU SERVIÇO ABERTO?

A luta por uma reforma psiquiátrica antimanicomial no Brasil tem muitos fronts, enquanto segue-se denúncias (vi ontem uma reportagem na televisão, jornal do sbt, manhã) sobre condições de maus tratos e mortes em hospitais de São Paulo, especificamente em Sorocaba e os movimentos de defesa dos direitos de pessoas com transtornos mentais, principalmente os antimanicomias se organizam, colocam a boca no trombone e acionam os orgãos de direitos humanos de Brasília, não se ouve (ou ler) nem um texto daqueles que defendem os hospitais especializados, sucateados, sem recursos humanos, o velho hospício depósito de bichos de sete cabeças, canto dos malditos. As renomadas técnicas científicas psiquiátricas parecem não estarem a favor da vida, quando seus defensores não se posicionam em situações como esta.
No Jornal Diário do Povo de hoje, 29/04, o psiquiatra Samuel Rego em artigo intitulado "Todos contra o crack", na página de opiniões, falando sobre dependência química enquanto doença psiquiátrica, acentuando que só campanhas de prevenção não basta,  defende a construção de hospitais especializados para desintoxicação dos casos mais graves. Ora, não sei se é um defesa individual deste ou é um novo pensamento da APP (Associação Psiquiátrica Piauiense) que sempre defendeu os leitos em hospitais gerais e hoje temos na capital leitos no hospital do Satélite, Promorar e Primavera, nos dois primeiros já tive a oportunidade de conferir pessoalmente que não atendem transtornos mentais, perguntando para enfermeiros de plantão , não sabiam que tais hospitais fazem parte do projeto piloto sugerido por Firmino Filho, secretário de saúde municipal no TAC de janeiro de 2010 junto ao Ministério Público, no hospital da Primavera tive informações que tais leitos disponibilzados geralmente são utilizados  por dependentes químicos e finalmente temos o SHR - ad (Serviço Hospitalar de Referência em álcool e outras drogas do Hospital do Mocambinho, que foi uma trabalheira de cinco anos para ser implantado. Bom registrar que enfrentou significativa rejeição da comunidade e de alguns técnicos. Que eu saiba ainda não se tem uma avaliação precisa de resultados do serviço. São apenas dez leitos, no mesmo jornal na coluna do Zózimo, tem uma notinha à direita: "Mais leitos", a coluna afirma que o governador Wilson Martins esteve com o ministro da saúde, Alexandre Padilha e teria conseguido duplicar este número. Temos até inicio de 2011, 30 leitos em hsopitais gerais divididos nos municípios de União, Água Branca, Oeiras, Piracuruca, Floriano, São Pedro, Campo Maior, Simplício Mendes e Valença. Imprescindível é que profissionais sejam capacitados para tal atendimento. Em 2010 a Gerência de Saúde Mental/SESAPI aprovou no MS recursos para implantação do Centro Regional de Referência para formação permanente de profissionais que atuam nas redes de atenção integral à saúde e assistência social, uma escola de supervisores clínicos, ambos  especializados na abordagem do crack, àlcool e outras drogas. Se houvesse realmente por parte de alguns técnicos a coragem de cobrar do poder público, de somar conosco, saberíamos do andamento destes projetos.
Temos agora os leitos SUS das comunidades terapêuticas, não conheço a portaria, como deve ser a estrutura, imagino que deverá existir uma equipe médica tradicional. Também não sei se comunidades do Piauí foram beneficiadas. Não concordo com os tratamentos fechados, longos meses afastados da vida em comunidade, o usuário volta para casa e do lado ou na frente tem uma boca de "crack" e toda uma situação social que o vulnerabiliza. Os alcólicos anônimos se mantêm sóbrios com o apoio da irmandade, refletindo seus sofrimentos na cabeceira de mesa e negando o álcool por mais um dia. Então se uma outra via precisa ser criada, reinventada , não estará na perspectiva do hospital especializado, na permanência do estigma que o dependente químico divide com o louco.   

Um comentário:

Saulo disse...

Bela reflexão sobre como são tratados os dependentes químicos no Brasil.

É sempre importante lembrar que a dependência química é multicausal. Não adianta tratar somente o dependente, mas também a sociedade e o sistema que o estimula.

Parabéns !

Mauro

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.