sábado, 2 de abril de 2011

ESTIGMA

Minha amiga, moça muito educada, formada, branca, visivelmente pessoa que vive com transtorno mental. Como eu, Beatriz, Ailton e tantos outros que convivemos. Calmos ou agitados somos pessoas, temos direitos, o principal é sermos respeitados como somos. Algumas pessoas "normais" ou não diagnosticadas são extremamente grosseiras no exercício do preconceito e da discriminação, são cegas pela crença que somos sempre surtados, incapazes e não temos nenhuma consciência do mundo e o pior demonstram "piedade" por não sermos normais. A citada amiga fala comigo ao telefone, geralmente tranquila, atenta as ações do Ninho, está agitada, pergunto o motivo: a procura de casa para alugar foi grosseiramente maltratada por uma mulher que disse que não alugaria a casa para ela, por se tratar de uma pessoa pertubada. Indignação. E nada podemos fazer, senão consolarmos uns aos outros. Se demonstrarmos nossa raiva podemos até sermos internados por populares, é só chamar a polícia e o SAMU. Estas pessoas normais sempre terão razão. Então resta-nos ficarmos tontos, sem sabermos como reagir, a estima vai para baixo dos pés e adoecemos por uns dias.
Precisamos reforçar uma identidade de pessoa que vive com limitações psíquicas, mas capaz de gerenciar a própria vida e encarar situações como essas com mais fortaleza, precisamos desmontar o arsenal de preconceitos que recaem sobre nós. Particulamente não gosto que me chamem de nervosa. Fico zangada e digo sempre que não sou nervosa, sou psicótica! Pessoa que vive com transtorno mental e que portanto tenho até prioridade de atendimento no que ou onde esteja. Ênfática e sem nenhum constrangimento. Foi um exercício longo até chegar aqui, penso que se serei mesmo tratada como louca pejorativamente, então prefiro não me acalmar, me disfarçar de normal e tirar proveito do que é doloroso e injusto. Geralmente depois da minha explicação minuciosa sobre o que é TAB e gentileza da minha parte, as pessoas se desarmam contra a diferença e concedem exatamente o que quero. Agradeço sempre, chamando-as pelo nome. Normal é bobo!

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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.