segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Políticas Públicas de Saúde Mental ( o artigo )

Em novembro, o Ibope realizou pesquisa em que  perguntava: "Se você pudesse se encontrar com o presidente eleito por cinco minutos,  o que você pediria a ele para você mesmo?" Dos entrevistados, 56% responderam que reivindicariam melhorias na saúde. Foi o maior índice verificado pelo estudo. Isso reflete a realidade da saúde pública no país, que sofre com falta de recursos e má gestão.

No caso da saúde mental, que igualmente enfrenta essas mazelas, há um complicador. A orientação das políticas públicas na área é equivocada e o sucateamento da rede de atendimento é patrocinado pelo próprio governo há 20 anos. Ditados por devaneios ideológicos e interesses corporativistas, "militantes da saúde mental" influenciaram o Ministério da Saúde a adotar uma linha  que pretende reclassificar os transtornos mentais como problema social e não médico. E, ao negar a doença,  justificam seu real objetivo de extinguir  ferramentas terapêuticas e afastar os médicos da assistência.

Entre 2001 e 2008 foram suprimidos mais de 17 mil leitos psiquiátricos no país e esse desmonte continua ao ritmo de 2 mil leitos/ano.  Isso não ocorre por falta de verbas, mas por um planejamento voluntário que condena a psiquiatria e os psiquiatras.   Atualmente, as políticas públicas de saúde mental são orientadas para ignorar os conhecimentos técnicos e as evidências científicas e querem convencer o brasileiro de que o doente mental não precisa de tratamento. Há a intenção de transferir a atribuição de curar os doentes dos médicos para os movimentos sociais, além de responsabilizar as famílias.  Por trás dos slogans, é disso que se trata a chamada "reforma psiquiátrica". Neste momento é fundamental exigir que a assistência em saúde mental volte a ser baseada em informações técnico-científicas para  beneficiar a população e não os militantes.

Antonio Geraldo da Silva é presidente da Associação Brasileira de Psiquiatria

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