Hum... boa pergunta. Difícil resposta. Pode-se não fazer nada. Ou pode se tentar de tudo. Mas se você quiser investir na criança od (= opositiva e desafiadora) vá se preparando porque o caminho é árduo e íngreme. Essas pessoas são assim desde pequenas. Talvez seja um jeito de ser, talvez seja uma faceta de algumas crianças que têm o TDAH. Ou as duas coisas ou muito mais que isso. O fato é que as famílias ficam enlouquecidas e as mães ficam perdidas e sem chão, deprimem, adoecem e tudo o mais que você pensar é pouco. Os pais, uma grande parcela deles acaba saindo de casa ou se simplesmente se afastam do problema. Geralmente sobra para a mãe. Enquanto a criança é pequena, a família acaba dando um jeito, mas à medida que a criança vai crescendo, a situação fica realmente um sério problema. Nossa, fica uma gritaria, um tal de um culpar o outro, ninguém concorda com ninguém, ninguém obedece ninguém, é patético. Os pais ficam iguais à criança, eles fazem tudo o que eles mesmos pregam para que não seja feito. Mas nós também faríamos igual, poxa, ninguém é de ferro.
Quem aguenta um filho que não
concorda com nada, que te ofende, te xinga, mete o dedo na tua cara,
grita com você, desafia os professores, os colegas, mente, sempre tá
certo e você sempre tá errado e você sempre é o culpado? Impossível: não
há quem aguente mesmo... Remédio também não resolve muito não. A gente
até prescreve, mas os resultados são poucos. Contudo, muito mais da
metade das mães precisam tomar algum remédio, seja pra estresse ou
depressão. Complicado... a verdade é que essas crianças od não funcionam
que nem as crianças que não são od. Como assim? Bem, elas precisam de
regras e limites muito mais do que as outras crianças. O problema é que
elas não lidam nada bem com o não. O limiar de frustração das crianças
od é baixíssimo. E parece que elas não se veem e que elas não percebem o
que elas falam e como falam, elas se acham sempre certas e sempre
injustiçadas. O mundo sempre é culpado bem como os pais, os professores,
etc. Elas não têm essa crítica. E só sabem viver brigando. Qualquer
coisa que o adulto fizer e ou falar eles vão retrucar. E aí? Uma vez a
gente aguenta, mas o problema é que seja lá o que você falar ou fizer,
você nunca vai dar uma à dentro, porque estará sempre errado.
Os pais de crianças od precisariam fazer um treinamento para entenderem o que ocorre com as crianças que têm esse problema. Porque até hoje eu só vi alguma melhora nessas crianças quando existe de fato uma mudança no sistema familiar. Não que ele esteja errado, não é isso. É que essas crianças não funcionam e não respondem ao modus operandi do sistema familiar padrão.
Os pais de crianças od precisariam fazer um treinamento para entenderem o que ocorre com as crianças que têm esse problema. Porque até hoje eu só vi alguma melhora nessas crianças quando existe de fato uma mudança no sistema familiar. Não que ele esteja errado, não é isso. É que essas crianças não funcionam e não respondem ao modus operandi do sistema familiar padrão.
O sistema familiar precisa mudar para um modelo tal que
funcione como um espelho para essas crianças. De modo que elas vivam
segundo essas novas regras e novo molde por um tempo suficiente para
elas o internalizem e passem a usar este novo que elas sirvam de modelo
para que as crianças od possam vivenciá-lo e copiá-lo no dia-a-dia, no
relacionamento com a família e com o mundo de modo geral. Só que isso
leva um tempo. Não se tem resultado de uma semana para a outra. Mas se
formos pensar nos estragos que esse jeito od causa na vida das crianças e
de suas famílias vale a pena o esforço. Sim, porque qualquer pessoa que
não concorda nunca com os outros e que queira que tudo seja conforme
ela quer, é claro que vai ficar sozinha e rejeitada e ela vai acabar
ficando marginalizada e excluída. O que normalmente a gente vê é que a
vida dessas crianças evolui mal em todos os setores. Na escola é comum
que ocorram várias repetências, evasão escolar, distúrbios de
comportamento, drogas e até morte precoce. Cerca de 10 a 20% das
crianças od evoluem para este caminho cujo prognóstico é o pior
possível. A família pode ajudar.
Mas ela precisa mudar para ajudar. Daí
ser tão difícil este processo. Porque mudar é difícil para qualquer um
de nós. Envolve fazer um processo de luto. E normalmente é preciso
agregar a família toda neste processo. É como se a família nuclear
tivesse que aprender uma nova linguagem, para depois ensinar esta nova
língua para a criança od. E nem sempre os pais têm tempo, dinheiro e
disponibilidade interna para isso. Eu atendo muitas famílias que sofrem
este tipo de problema.
E eu posso dizer que fica um clima de impotência e
frustração. Tanto pela minha parte como por parte da família e da
criança. É claro, você vai ao médico à procura de uma solução. E rápida,
de preferência. Quando isso não ocorre, é chato, é claro. Ainda mais
quando o médico diz aos pais que eles precisam mudar. Bem, de todo modo,
eu me disponho a ajudar. Tenho pensado em criar um grupo de apoio para
famílias que têm um filho opositivo e desafiador. E também para quem tem
mãe ou pai opositivo e desafiador. Isso também acontece. Afinal, as
crianças od crescem e também casam e têm filhos e certamente continuarão
opositivos e desafiadores. E nestes casos, os filhos é que vão ter que
saber como lidar com isso. Os grupos seriam quinzenais, fechados e no
Rio de Janeiro, no bairro de Vila Isabel, sem custos e compreendendo
oito encontros de duas horas cada. Em julho eu vou criar uma página
sobre o tema e quem estiver interessado pode postar lá. Se tudo der
certo, o grupo será iniciado em agosto ou setembro deste ano. Essa
iniciativa foi gerada pelo fato de eu atender com muita frequência
famílias com filhos opositivos e desafiadores. Espero que esses grupos
possam ajudar essas famílias. Eu vou precisar de pessoas voluntárias
também. Quem se interessar, como eu disse, em julho eu vou criar uma
página sobre o assunto. Agora em junho, em função de eu ir a dois
congressos, não terei tempo.
Evelyn Vinocur
Postado originalmente em Bipolares uma Reflexão.
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As escolas estão cheias destas "personalidades", pais, mães, avós e escola não sabem o que fazer, de Conselho Tutelar ao consultório do psicólogo, tenta-se tudo no desespero de convivência e educação com os "ODs," No Brasil não há psiquiatria infantil, pelo menos ainda não chegou aqui nos rincões piauienses, um único CAPS i para todo o Estado, que não funciona atendendo a contento toda uma demanda reprimida.
Nós sociedade, precisamos aprender a "domá-los" com urgência ou teremos adultos detestáveis, nesse mundo que avança cada vez mais para a "anormalidade universal."
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