sábado, 4 de setembro de 2010

RELENDO FRANCO BASAGLIA E COMPANHEIROS: INSTITUIÇÃO NEGADA

P. - O senhor está dizendo, então, que a situação aqui agora é diferente ...
ANDREA - Muito diferente. Antes, aqui, ficávamos presos atrás das grades, e ainda por cima trancados em grupos de oitenta; não se achava lugar pra sentar, e a gente tinha que dormir no chão. Nem latrina havia. Depois, comer às cinco da tarde e ligeirinho pra cama, até no verão, em pleno verão, quando ainda se dispunha de  três horas de sol. Mandavam a gente dormir assim que acabava de comer. Eu saia pra tomar um pouco de ar no pátio, mas logop aparecia alguém pra me botar pra dentro.
P. - Mas em que sentido as coisas mudaram?
ANDREA - Mudaram do dia pra noite. No começo, quando a gente criou as assembléias e eu fui presidente durante um mês, ninguém abria a boca, todo mundo parecia amedrontado, ninguém tinha coragem de falar. Eu, que era o presidente, dizia: " Se vocês têm alguma coisa pra dizer, digam, é pra isso que estamos aqui; se vocês têm queixas falem." Estavam todos intimidados, depois de ficarem tantos anos presos... Foi tudo coisa do diretor... Depois, primeiro foi o Dr. Slavich que chegou no setor C e disse: "Vamos, peguem dez ou quinze doentes e levem pra passear na colônia..."
página 17

NEGAÇÃO DO HOSPITAL PSIQUIÁTRICO TRADICIONAL
[...] Durante muitos anos o doente mental foi - e ainda é - aquele a quem se pode oprimir brutalmente: um cidadão privado de seus direitos. É aquele a quem se pode privar  da sua liberdade pessoal, de seus pertences, de suas relações humanas, durante um tempo indeterminado - e que se pergunta, desanimado: "Que é que eu fiz de mal?" É aquele que infringiu uma norma. Um "desviado". Durante anos e anos a psiquiatria descabelou-se para construir em volta dele um castelo de critérios e de rótulos, constituindo-se assim ela mesma, em relação a ele uma norma. (página 176)

Teresina recentemente tem várias especializações em Saúde Mental, cursos em Atenção Psicossocial, simpósios e outros na área da Psicologia envolvendo a Terapia cognitiva Comportamental e a Psicanálise. É louvável o interesse de profissionais da capacitação continuada na área, o que questiono é que com tantas capacitações ainda não há uma linguagem única dos serviços, uma resposta às demandas de manifestação da subjetividade do usuário e a ajuda necessária para que este exerça seus contratos sociais com relativa ou total autonomia. Leia-se autonomia, não é independência total, um psicótico exposto as dificuldades da vida produtiva, amorosa, familiar precisa de apoio- não sejamos utópicos. A atenção psicossocial precisa está relendo os "clássicos" e aplicando na prática o que for necessário, adaptando a nossa realidade, criando o novo, "ampliando a clínica". Bia obteve "alta" do CAPS após quatro meses, porque não frequentava as atividades terapêuticas. "Caiu na Rede", não sabe o que é um ambulatório. Mas aprendeu com o grupo de apoio, que a medicação cala as vozes. Diz que assim que pegar em dinheiro vai marcar consulta no Areolino de Abreu.






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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.