quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

RODA VIVA DE 21 DE FEVEREIRO DE 2011: A PSIQUIATRIA "MODERNA" DISTINGUE MESMO QUEM É NORMAL OU LOUCO?

Vejam a resposta do Dr. Márcio Amaral, vice-diretor do IPUB, sobre o famigerado programa Roda Viva com o Valentin Gentil. Parece que esse programa foi gravado no passado e apresentado agora na Cultura (PSDB paulista) por pressão da ABP. Márcio pega na ferida. E é nela (a volta dos hospícios) que devemos catucar.
Edmar Oliveira

 RODA-VIVA OU "RODA- ZUMBI"?
             (sobre a entrevista concedida por Valentin Gentil, exibida em  21/02/11)
 
    As discussões em torno das políticas públicas para a Saúde Mental têm sido uma espécie de diálogo de surdos. Cada "campo" (para usar uma expressão "na moda") como que se encastela nos seus próprios argumentos e não dá qualquer ouvido aos do outro. Pior do que isso, sequer discutem esses argumentos, de maneira a tentar demonstrar sua fragilidade interna e a superioridade dos seus. Resultado: dois conjuntos endurecidos de idéias entre os quais as pessoas têm sido obrigadas a optar artificialmente. 

   Falando apenas naquilo que interessa à nossa discussão, todas as teses apresentadas pelo eminente colega, para atacar a política de SM no programa citado, baseiam-se em dados epidemiológicos que demonstrariam uma elevação significativa da pop. de rua e dos cárceres, como consequência do fechamento de leitos em hospitais psiquiátricos.  

   Deixando de lado a confiabilidade dos números apresentados (baseados em projeções), podemos todos reconhecer que há mesmo um número enorme de pacs psiquiátricos nas ruas e nas cadeias. Somente para efeito de raciocínio, aceitemos também a relação direta entre os dois fatos. A partir daí, podemos discutir a tese que, necessariamente, resulta dos seus argumentos: a institucionalização dessas pessoas seria melhor do que a sua não institucionalização. A pergunta obrigatória, então, passa a ser: melhor para quem?

   Embora o dilema apresentado (institucionalização permanente versus abandono nas ruas) não seja inevitável, há que desmistificar esse culto da institucionalização em geral. A história recente tem demonstrado serem elas indutoras e facilitadoras das mais diversas perversões. Perguntamos: as crianças órfãs "acolhidas" em orfanatos ligados à Igreja Católica na Irlanda, ou mesmo aqui, estavam em melhores condições do que muitas que cresceram em condições de abandono? Se essas últimas estavam sujeitas a muitos abusos, as primeiras viviam submetidas ao risco constante e inescapável de abusos talvez muito piores. Esse tipo de instituição serve, antes de tudo, ao propósito hipócrita de fazer com que a miséria humana desapareça de sob nossos olhos e para que tudo fique mais limpo e "apresentável". Será que o eminente e respeitado colega acha mesmo que a simples abertura de novos leitos propiciaria "tratamentos modernos" aos pacientes? Quem duvida de que eles seriam novamente esquecidos? Por que não estudar a criação de albergues-assistidos, opcionais e próximos ao local onde naturalmente ficam essas pessoas?
  Sempre que vejo um louvor às instituições impessoais, lembro-me do poema de M.Bandeira, "Flores Murchas":

"Pálidas crianças/ Mal desabrochadas/...Tristes, asiladas/Que pendeis cansadas/Como flores murchas!/...Pálidas meninas/Uniformizadas/Quem vos arrancara/Dessas vestes tristes/Onde a caridade/Vos amortalhou?/Pálidas meninas/Sem olhar de pai!/Ah! Quem vos dissera/Ah! Quem vos gritara/--Anjos debandai!/...Açucenas murchas/Procissão de sombras.../Meninas cansadas/A quem ninguém diz/--Anjos, debandai!" 

   Por fim, havia no programa um clima de tanta submissão e adulação em relação ao entrevistado, que a RODA mais se parecia com uma "RODA ZUMBI". Ao seu final, Marília Gabriela falou bem alto, pedindo que todos os entrevistadores se comportassem: "Meninos...Meninos...!" Tudo tão a propósito! Tinham mesmo se comportado como meninos.

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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.