Cansada de ouvir queixas de vários usuários esclarecidos, alguns com nível superior, trabalhador da saúde ou estudante, de Teresina e outras partes do Brasil, escrevi o texto abaixo para post no blog Paciente Psiquiátrico do companheiro carioca Ezequiel A. C. Se vivemos alguma coisa parecida com uma briga como no enredo dos mutantes versos humanos. Louco e normais. Não temos a cura ainda, mas podemos desenvolver uma consciência política, de direitos que nos dêem sobrevida civil suficinte para sofrermos menos.
Em Teresina desde 1997 estou nessa luta de sensibilização de vários grupos sociais para a saúde mental. E sei de vários carreristas acadêmicos que tem suas pesquisas, seus títulos encima de nossos sofrimentos e depois respeitados, concursados, dando suas inúmeras aulas, dirigindo serviços psiquiátricos, etc, mal pisam em eventos que seus "objetos de estudo", o usuário, a família do usuário,tem "permissão" de falar, não vão, mas espalham os boatos que usuário reclamou dos "deuses", os psiquiatras. Deixam o usuário ser ameaçado de processo: o louco que reclamou de serviço psicossocial ruim, será que é inimputável? Dra Cláudia Seabra nos acuda.Qual a posição do Ministério Público? E o controle social? Aceitam loucos nos conselhos estadual e municipal de saúde? Sabemos as respostas. Mobilização, ação, mais que denuncismo e medo.
O poder na relações da clínica psicossocial, ainda é de modelo antigo. O técnico, o trabalhador tem sempre razão, porque ele tem a "razão" o louco não. Ainda não se respeita o que eu chamo de subjetividade da pessoa com transtorno mental. Somos diferentes, porque somos tratados assim. Alienados, alienígena, de outro mundo, do mundo das ilusões. A doença biológica crônica vai além, tira nossa humanidade. Os cuidadores na maioria nos consideram incapazes de pensar, de trabalhar, não querem que falemos porque estamos sempre errados, tudo que vem de nós é fruto de loucura, de descredenciamento.
Já sofro menos com isso. Estudo, tento andar na frente dos normais na informação., tento negociar com eles no máximo, senão brigo mesmo. O poder não é, nem será nos dado, nós loucos, como assim a maioria que não é diagnosticada nos querem, precisamos numa correlação de forças, tomarmos este poder, acreditar que há espaços que faríamos melhor. Se uma administradora, uma professora de educação física, uma nutricionista, uma pedagoga e até gente de n ível médio pode coordenar CAPS, nesse democratismo, um usuário esclarecido também pode. Aposto alto numa nova geração de loucos com identidade híbrida, louco e profissional da área.
Vamos para cima, a causa é mais nossa que de profissional que precisa de nós, da nossa permanência em crise, para receber seu salário para alimentar sua familia. Precisamos de movimentos de defesa dos direitos de pessoas com transtornos mentais com leitura atualizada do momento. Estamos fora do hospital e agora? Queremos os espaços dos normais.
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