O documentário As Cores da Utopia retrata a vida e a obra do artista plástico baiano Reginaldo Bonfim. A exclusão social de Bonfim devido a esquizofrenia, apesar de sua alta produtividade, é o ponto de partida para que o filme estabeleça o questionamento: o que é normalidade? Onde se situa a verdadeira patologia?
O longa sugere que a loucura envolve comportamentos que vão muito além daqueles estereotipados pela psiquiatria arcaica. E expõe o contra-senso daqueles que cometem as maiores atrocidades contra sua fonte de vida, a natureza, conduzem a humanidade ao caos, mas, apesar disso, se auto-classificam como “normais”. Esses mesmos indivíduos se julgam no direito de excluir da convivência social seus semelhantes, movidos apenas pela intolerância à diferença.
A psiquiatria ortodoxa que se baseia na internação, na medicação excessiva e práticas desumanas é questionada. O vídeo mostra que as pessoas portadoras de transtornos psíquicos são produtivas e podem dar grandes contribuições à sociedade, se tratadas com respeito e dignidade.
As Cores da Utopia, com uma hora e vinte minutos, é o primeiro longa de Júlio Nascimento que, aliando esforços aos de um grupo de profissionais e parceiros, produziu o filme, sem fins lucrativos, de forma independente.
O documentário promove uma reflexão acerca de uma questão que a sociedade tenta isolar nos manicômios, mas que precisa ser integrada definitivamente à dinâmica da vida social, pois lhe é indissociável, e revela uma faceta, ainda que diferente, de nossa própria condição humana.
A razão do nome do documentário
Quando, da praia, alguém direciona o olhar para o mar, tem a ilusão de que o céu beija a água a alguma distância de onde está. A reta formada pelo enlace dos dois é chamada de linha do horizonte. Se essa pessoa pega um barco e tenta alcançá-la, não precisará de muito tempo para perceber que a viagem será infinita.
Essa é a imagem da utopia na explicação do diretor do documentário, Julio Nascimento, uma viagem em busca de um sonho, uma perspectiva, um propósito que nunca será alcançado, mas nem por isso é em vão que o persigamos. Pois, na vida é preciso sempre ter uma meta a ser alcançada, um horizonte para onde velejar. Isso é o que motiva a existência humana: a busca, o projeto.
Reginaldo Bonfim, artista plástico baiano, protagonista da trama, tinha como sonho a construção de seu ateliê. A viagem de Bonfim ao seu horizonte poderia ser perfeitamente alcançável.
No entanto, o preconceito e a falta de recursos foram o cinza da sua existência e tornaram revoltas as águas por ele navegadas rumo à sua utopia. Mas Bonfim abrandou o seu infortúnio com o colorido de seus “delírios”. Íntimo do arco-íris, dele emprestou as cores com as quais fez soprar o vento em direção ao horizonte sonhado, sendo feliz a cada instante da viagem, pintada com as cores de sua utopia.
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