terça-feira, 27 de dezembro de 2011

SEM TEMPO DE NATAL PARA FAMILIAS COM DEPENDENTES QUÍMICOS

"O natal foi maravilhoso. Muita paz, harmonia, união, fartura e muita oração. Aproveitamos para agradecer a Deus por tudo, e pedimos muitas bênçãos."

"O nosso natal solidário 2011, foi sensacional. É muito gratificante ver a alegria e um sorriso estampado no rosto de cada criança. Obrigada a equipe e aos amigos solidários."

Estes frases foram postadas no faceboock de Lêda Trindade, gerente de saúde mental da GASM/SESAPI e vereadora de Monsenhor Gil, salvo engano pelo PMDB, imagino que o primeiro post tenha relação com sua familia, conheço alguns parentes seus, realmente pessoas boas e o natal beneficente para crianças, infelizmente, não foi para as crianças no CAPS i. É doloroso, que não haja nenhuma mobilização por parte da equipe do CAPS e nem da GSM, clientela invisível, sem necessidades subjetivas como quaisquer outra criança que gostaria de ganhar uma bola, um carrinho ou uma boneca de natal. Se eu for lá no prédio amanhã, não encontrarei nem um detalhe de decoração que lembre o natal num espaço de cuidados infantis. Se houve uma festa de natal no CAPS i, perdoem-me e como retratação ponho meu nome para organização do natal do ano que vem ou do carnaval.


A felicidade não é deste mundo, diz o livro do Eclesiastes. Interpretando a frase perdida do contexto bíblico, imagino que a felicidade de cada um é ameaçada pela sensibilidade, pelo amor ao próximo. Não posso ser completamente feliz  possuindo um castelo de ouro, se do lado há imensas favelas, miséria, fome e loucura, somado a praga do crack.
Nada tenho nada contra a simpática e feliz Lêda Trindade. Sai para usar o caixa eletrônico, ação simples que sempre me deixa igualmente feliz, a autonomia de gerenciar meu próprio dinheiro e tê-lo por mérito do meu próprio trabalho. Mais pessoas com transtornos mentais e dependência química deveriam serem capazes ou terem  possibilidades de acessibilidade a esta necessidade, eu diria vital para o exercício da autoestima e cidadania de cada um. Então... perto de casa encontrei uma jovem senhora procurando o CAPS sudeste, desnorteada literalmente, já vinha de vários encaminhamentos, numa folha timbrada do atendimento social da NOVAFAPI (Ladeira do Uruguai), ela caminhava desde o Dirceu Arcoverde e estava na avenida das hortas no Renascença I. No papel sua história: filha de 20 anos, dependente de crack, nas ruas, mãe de um menino de cinco anos e avó extenuada fora orientada por uma assistente social que não lhe dera o endereço do CAPS, mas que esta precisava cuidar de sua saúde mental também. A avó já havia andado no CREAS sudeste, no CRAS sudeste, na FACID e agora buscava o CAPS sudeste. Que via crucis!!!
Fizemos várias ligações para encontrarmos ajuda do Consultório de Rua. Ligamos para o HAA, que nos deram o telefone da enfermeira coordenadora, que não atendeu as chamadas. Ligamos para a coordenadora de saúde mental da FMS que nos deu um telefone que atenderia a partir das treze horas da tarde, pelo que parece a equipe de rua só trabalha no período da tarde. Agora a noite dona Socorro confirma que não atenderam, o número é 3215-7731, a mãe da usuária não tinha créditos para ligar para o celular TIM da coordenadora, enfermeira Cristina Maia, profissional que não conheço. Como funciona o serviço de consultório de rua de Teresina? A mãe sabe informar o local que a filha aparece, quer apenas ajuda profissional para convencê-la a aceitar um tratamento, que esta volte para casa, volte a cuidar do neto que está apresentando sinais de distúrbios emocionais, segundo ela, o menino dorme pouco, rói as unhas até a carne viva, é agressivo na creche e parece sempre deprimido. Outro problema: onde a crise emocional desta criança pode ser atendida neste longo período de recesso? Todos nós trabalhadores estamos gozando nossas merecidas férias ou recesso, outras equipes deveriam está de plantão, existe esta rotatividade noutras patologias, na saúde mental sangramos mentalmente até morrer ou matarmos alguém.

Dei a avó, mulher jovem de 35 anos, todos os contatos telefônicos e endereço do CAPS Sudeste, após falar com a própria coordenadora e endereço do único CAPS ad na distante Macaúba, para quem mora no Frei Damião, mas um serviço sem estrutura da omissa FMS com a questão da saúde mental e dependência química.
Há... estou devendo bastante no espaço de terapias naturistas, então encaminhei a mãe para um serviço de acolhimento e tratamento energético em um centro espirita parceiro na comunidade. Torço para que a adoecida mãe sofredora encontre amparo nas politicas públicas e ou na caridade de alguns espiritas.

Também confesso meu egoismo. Focada no trabalho de educação inclusiva das crianças TGDs com ênfase no Transtorno desintegrativo da infãncia ou psicoses infantis, ando evitando intervenções mais diretas com as crises, são cansativas, extenuantes, caras para meu bolso, mas a urgência psiquiátrica vem assim, à minha porta. Ainda é natal, posso ver como Cientista Social como festa comercial que exclui vasta parcela da população ou reconhecer antropologicamente que há na religiosidade da data, o tal espirito natalino que faz algumas pessoas se comoverem com as dores alheias, se não forem enfermeiras já sofrendo da síndrome de Bournaut, ou síndrome do cansaço com a causa.

Que haja festas sem bebidas ou drogas e as familias de pessoas com dependência química possam ter mais força e saúde para a luta em 2012 e principalmente as politicas públicas funcionem.

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POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.