sábado, 3 de dezembro de 2011

EM TEMPOS DE CONFERÊNCIA DE SAÚDE ...

Em email recente a gerente de saúde mental/SESAPI me informa sobre a implantação de dois serviços destinados a mulheres dependentes químicas, que já teriam sido aprovados pela bipartite: Centro de Referência Feminino em Tratamento ad com internação de até 10 dias e Centro de Referência Feminino em Recuperação ad com internação possível até 12 meses. Imagino que quem já ouviu  Leda Trindade explanar em eventos sobre a estrutura de funcionamento destes serviços saiba mais do que eu.
Só gostaria de pontuar algumas questões: a gestão estadual de saúde mental longe das discussões nacionais a respeito das internações de longo prazo tão combatidas pelo ideário da Reforma Psiquiatra, privilegia neste segundo serviço o confinamento até um ano e as mulheres que são mães? Seus filhos em idade escolar, pré adolescentes, muitas profissionais do sexo se adaptarão? Lembro da  extinta comunidade terapêutica feminina gerenciada por freiras, Sítio Reviver, freiras e prostitutas dificilmente rezariam juntas. Confecção de trabalhos em saúde mental tem conteúdo muitos subjetivos, abrir um serviço para este público, não é como abrir um posto de saúde ou um hospital que atenda patologias agudas: extrair uma unha ou fazer uma cirurgia do coração são situações comuns de acontecer, mais raras nas vidas da maioria das pessoas. O posto de saúde e o hospital geral terão sempre um público fluído e intinerante. Um serviço para usuários de saúde mental receberá crônicos por anos a fio.
 O Amigo no Ninho atendendo solicitação da APROSPI (Associação das Prostitutas do Piaui) que informava a existência de significativo número de mulheres dependentes de álcool e outras drogas, algumas com comorbidades psiquiátricas,rejeitavam a idéia de frequentar o CAPS ad, unissex, receio de exposição pública e a própria busca ativa que nunca chegou a este grupo. O Ninho elaborou e aprovou na etapa municipal da IV conferência de saúde mental/intersetorial, a instalação de um CAPS - mulher que atenderia a dependência química e sobreviventes de ideação suicida, (proposta 84 do relatório final), garantindo a não identificação pública como acolhimento. Esta proposta está no relatório do consolidado da conferência nacional de saúde acontecendo em Brasília estes dias.
Se as pessoas lotadas na gerência de saúde mental estadual vivessem a luta antimanicomial saberiam destas propostas discutidas em grandes rodas e plenárias públicas e estariam na luta para implementá-las. Outra proposta de número 71, é "a retirada do CAPS i de dentro do espaço fícsico do Hospital Areolino de Abreu (HAA)". Existe um termo de ajuste de conduta (TAC) assinado junto ao Ministério Público, vencido em 15 de janeiro de 2011não cumprido até hoje. Tentamos mobilizar alguns delegados que foram a conferência para defenderem propostas para implantação de ambulatórios infanto juvenis em saúde mental na atenção básica com equipe mínima composta de psiquiatra, psicólogo e psicopedagoga. A idéia é acreditar mesmo na reabilitação precoce e aquelas crianças e adolescentes psicóticos com sintomas estabilizados possam serem desvinculadas do CAPS i e continuarem tratamento de manutenção no posto de saúde mais próximo de sua casa. Esta proposta não é mais "sonhadora" que as clínicas familiares criadas recentemente pelo Ministério da Saúde.

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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

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