Ao chegar à escola na segunda-feira alguém me informa sobre mateuzinho, com letra minúscula porque designa todos nossos meninos psicóticos, ele estaria bastante agitado e a avó informou que este estaria sem medicação. Este mateuzinho não tem passe livre. Numa mesma casa mora a avó, o avô, tia e primos, mais tios e um irmão. A renda familiar gira em torno do programa Bolsa Família e e pequenos bico feito pelo avô, as pessoas mais jovens são desempregadas. Pai e mãe são separados, cada um com novas familias.
Na última visita domiciliar a avó teria perdido a consulta do mês de agosto no CAPS i ( um parente morreu no dia da consulta) e então só havia retorno marcado para dia 31 de novembro. Talvez também não tenha ido a esta por falta de vale transporte. O inquieto mateuzinho, menino-aranha, exímio escalador de muros, tem olhos quase sempre avermelhados, desconcentrados. Caça passarinho. Não desenvolveu competências e habilidades necessárias para seguir para série seguinte. Segue promovido pela não retenção no ano que estava cursando com direitos a mais dois anos de repetência.
O CAPS i já está de recesso. E a urgência psiquiátrica para crianças e adolescentes?
Outro mateuzinho mora em União, a tia me explica que os parentes se queixam de seu comportamento bizarro, sentar e levantar muitas vezes da mesma cadeira, excesso de hábitos de higiene, muitos banhos e mãos lavadas constantemente. Um tanto fóbico, passa semanas sem querer sair de casa. Tem treze anos e a mãe quer vir a Teresina, tratá-lo nas férias. Onde? A tia deseja que eu informe. Meu coração entre triste e apertado com a constatação que não há um serviço da rede para atendê-lo. Este mateuzinho talvez com uma intervenção rápida e bem feita poderia está se libertando ou aprendendo a conviver com os sintomas sem maiores limitações a seu desenvolvimento. O HAA está lá com a recepção reformada, agora com um número menor de ocorrências de crises agudas barulhentas à porta ( os CAPS estarão acolhendo a crise e ou evitando recaídas graves?), aparentemente tranquilo, mas suas entranhas cheias de grades e cheiro de cigarro dos pavilhôes com suas contenções e quartinhos solitários para os mais agitados estão à espera que os mateuzinhos cresçam, sem ajuda, indefesos contra os sintomas que os assaltam, estigmatizados nas escolas e comunidade, frágeis e vulneráveis mais que outras crianças a exposição ao álcool e outras drogas.
Ninguém se preocupa neste natal das felicitações formais, vazias e destituídas de verdadeira solidariedade por algumas pessoas e causas?
Se algum leitor teresinense deseja fazer uma boa ação de ano novo, passe no Ministério Público, no centro operacional de defesa da saúde com a promotora Cláudia Seabra e nos ajude na cobrança para o gestores estadual e municipal abram não somente novos CAPS, mas ambulatórios na atenção básica voltadas para estas crianças e adolescentes. E além da saúde mental se consiga a articulação das politicas de atendimento a este público: politicas de educação inclusiva, assistência social e trabalho aprendiz, já em condições especiais.
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