terça-feira, 18 de maio de 2010

18 DE MAIO: LUTA ANTIMANICOMIAL E CAMILLE CLAUDEL

Manejando os sintomas de uma crise recente, não tive propriamente insônia, mas dificuldades para conciliar o sono. Ouvi música, tirei várias coisas do quarto, troquei lençóis. Realmente algumas coisas poderiam está tirando meu conforto, ou apenas estava ali uma manifestação da mania. Antes, por conta da demora do sono, revi partes de Camille Claudel, que já havia iniciado.Filme francês da década de 80 com Isabelle Adjani e Gérard Depardieu, os atores são soberbos em suas interpretações, a reconstituição de época, figurinos, todos esses detalhes que fazem um bom filme. Vi-o antes do grande surto em 1991, a loucura para mim antes das internações integrais no Meduna e HAA (não me orgulho delas e nem me envergonho, apenas são lembranças dolorosas), era apenas uma "doença" chocante, e aqueles que a tinham me causavam piedade e certo cuidado, poderiam ser perigosos ou incapazes. Senso comum. Revendo o filme vinte anos depois, militante das causas da saúde mental e profissional da área. Penso dolorosamente naquele talento todo e numa prisão perpétua de trinta anos num manicômio.
Penso em mim, como Camille sou fóbica, impressionável, paranóica. Sinto medos, acho que me perseguem, que tem inveja e que querem tirar coisas de mim. Parte realidade, parte manifestação da doença mental, a medicação, a psicoterapia, as terapias complementares, o autoconhecimento dado hoje pela infinidades de informações sobre as doenças mentais, a liberdade de assumir publicamente, não como um condenado caminhando para a forca, mas como alguém que deseja um espaço em meio ao discurso de tolerância forjado pelos movimentos ligados ao gênero e a sexualidade, da diversidade humana. A loucura enquanto condição de exitência, outra forma de viver a sujetividade humana.
Sete da manhã, de atestado médico mais uma vez, a cabeça parece "choca", purgada, o cérebro vai acordando devagar, embora há mais de uma hora esteja fora da cama. Intestino e estômago me incomodam, efeitos colaterais da medicação. Tenho hora marcada para acupuntura, que auxilia muito na redução dos efeitos colaterais. Penso em mim que decidi não me tornar refém dos sintomas, só me incomoda a sensação de invalidez para algumas situações, sala de aula, que gostava muito. Camille se negava a esculpir no hospital. Eu e tantos outros estamos fora dele por conta da luta manicomial, do movimento da reforma psiquiátrica. Sinto-me agente histórico, faço parte dessa luta. Novos loucos protagonistas de uma história que pode dar qualidade de vida, de menor sofrimento a tantos outros recentemente diagnosticados. Manicômios nunca mais! Até aqueles sem muros destruiremos!

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