Especialistas apontam falta de acesso ao tratamento e oferta adequada de antidepressivos; o orçamento destinado para a saúde mental reduziu nos últimos dez anos
A
depressão tem a incidência na população igual ao diabetes (10%), porém o
sistema público de saúde ainda não está preparado para oferecer
atendimento de qualidade e gratuito. Estudo realizado na cidade de São Paulo
mostrou que apenas um terço das pessoas com transtornos mentais severos
– como a depressão grave, que pode levar ao suicídio – recebe o
tratamento devido. Especialistas ouvidos pelo iG são unânimes em dizer que falta acesso ao tratamento e oferta adequada de medicamento.
De acordo com dados da Associação Brasileira de
Psiquiatria, em 2004, 6,3% do orçamento de Saúde era destinado para
saúde mental, hoje, dez anos depois, corresponde a 1,8%. O Brasil tem um
programa de governo para o combate de DST/Aids, mas não há um programa
de prevenção a doenças mentais. “Basta comparar os casos de morte por
Aids e os casos de morte por suicídio para ver se isso faz sentido”,
afirma Antônio Geraldo da Silva, presidente da Associação Brasileira de
Psiquiatria. No Brasil, em 2013, morreram 15 mil pessoas por Aids.
Todos os anos são notificados 10 mil casos por ano de suicídio. Vale
ressaltar que cerca de 90% dos casos de suicídio estão relacionados com
depressão grave.
Preconceito: 'Ninguém leva minha depressão a sério'
No
Brasil, a prevalência de depressão é de 25% da população (estimativa de
quem teve, tem ou terá depressão) e 10% sofrem do mal atualmente.
“Existem casos muito simples de depressão, que podem ser tratados por um
clínico geral ou médico da família em postos de saúde, e outros mais
complexos, que precisam de atenção especializada em um centro de
referência”, disse Marcelo Fleck, psiquiatra e professor da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Fleck afirma que os
casos de depressão podem ser divididos em três níveis: o primeiro seria o
mais leve e com possibilidade de tratamento psicossocial no posto de
saúde e pelo clínico geral; o segundo, mais grave e com necessidade de
tratamento medicamentoso orientado também pelo clínico geral; apenas o
terceiro nível, gravíssimo e com risco de suicídio, deveria ser
encaminhado para centros especializados e de referência.
O
problema é que o sistema básico – que seria responsável por mapear o
primeiro e o segundo níveis – não está preparado. "Eu dou estes
treinamentos e os meus alunos, que atuam como clínicos na rede pública,
dizem que não se sentem preparados para diagnosticar a depressão”,
afirma Wang Yuan Pang, pesquisador do Instituto de Psiquiatria do
Hospital das Clínicas de São Paulo e coordenador da pesquisa São Paulo
Megacity Mental Health Survey, que gerou para o relatório internacional
os dados relativos à Grande São Paulo.
Sem
diagnósitco, muita gente volta para casa sem saber que precisa se
tratar de uma doença mental. O resultado é um ônus altíssimo para o
sistema de saúde e para a sociedade, como número de dias de trabalho
perdidos e custos investidos em doenças secundárias relacionadas com a
depressão, como diabetes e problemas cardiovasculares. “A depressão só
perde para as doenças cardiovasculares no que se refere ao ônus para a
sociedade. Não que as outras áreas não sejam importantes também, mas a
psiquiatria não recebe muita atenção, seja em orçamento ou em
programas", afirma Andrea Feijó Mello, médica responsável pelo
Ambulatório de Estresse e Depressão da Unifesp, em São Paulo.
Andrea
concorda que é preciso um maior treinamento em psiquiatria para o
atendimento básico. “Outro problema é que o médico é sobrecarregado. O
sistema público preconiza que ele atenda um paciente a cada 15 minutos e
para casos de depressão precisa de mais tempo que isso para avaliar o
paciente. Até porque, na maioria das vezes, o paciente apresenta queixas
físicas, como dor de cabeça, cansaço e não os sentimentos, como
desânimo, falta de vitalidade”, afirma.
No Brasil, existem 1.891
centros de atenção psicossocial (Caps) que fazem o atendimento de
pessoas com depressão e outros transtornos mentais. De acordo com o
Ministério da Saúde, os Caps tem equipes multiprofissionais e
transdisciplinares que realizam o atendimento a "usuários com
transtormos mentais graves e persistentes, a pessoas com sofrimento e/ou
transtornos mentais em geral".
"Eu sempre pergunto no Ministério
da Saúde por que, em vez de criar vários centros espécíficos para
doenças mentais, não ter um psiquiatra ou profissional habilitado para
tratar transtornos mentais em cada posto de saúde?", argumenta Silva.
Não só os CAPS mas toda uma rede de serviços (RAPS- Rede de Atenção Psicossocial) já estabelecidas em leis e portarias deveria funcionar dando respostas a situações de crise depressivas. O ambulatório do posto de saúde é um ponto de atenção da rede. Já acompanhei uma experiência interessante de "desmame" de usuários de CAPS com sintomas estabilizados, através do CAPS foram levados num primeiro momento para uma apresentação com os futuros cuidadores deles, técnicos e funcionários de um posto de saúde. Infelizmente, falta não só o psiquiatra como também o psicólogo, uma iniciativa de prática integrativa e complementar por exemplo.
No caso da depressão, unipolar ou co-comorbidade na bipolaridade, esquizofrenia e outras estamos nós pacientes sujeitos a intervenção constante de "especialistas do senso comum" e
"pesquisas" suspeitas como esta: "Chega de Prozac - coma iorgute. Nosso
intestino tem 100 milhões de neurônios.Ao cuidar bem dele, podemos curar
males como ansiedade e depressão." 20 linhas imprensadinhas, falando de
uns tais probióticos que ingeridos estimulariam os neurotransmissores
do bem-estar e pronto. Povo deprimido e neurótico ou desculpe-me,
ansioso. CURADO! Revista Galileu/10/2011. E jornal Diário do
Povo, 24/08/2014 o professor e escritor Ataualpa Filho dar sua opinião
sobre "estresse, resiliência e depressão" dizendo que o amor ainda é
melhor que Rivotril."Amar é antidepressivo [ ]...o maior medo é não ser
amado." A estabilidade de uma relação afetiva e a fé em Deus ajudam
muito no tratamento, afirma o escritor. Esquece ele que temos no país uma mulher espancada ou morta a cada dois minutos por companheiros, namorados, maridos e ex-maridos. Sem falar nas mães solteiras, abandonadas por namorados e no meio homoafetivo, também não é esse mar de rosas total. Para um depressivo um relacionamento afetivo tem duas faces, pode até ajudá-lo de certa maneira, mas é preciso ser racional o suficiente para reconhecer a vulnerabilidade individual e os riscos em determinadas relações. Tem um
livro de um autor espírita com o título terrível de: "Depressão: cura-te
a ti mesmo", alguém deve conhecer algum escrito por padre. Um novo filão da autoajuda religiosa. Sandices de gente normal querendo "normatizar" a
depressão que vai desde a receita da meditação adequada, alimentos que combatem a
depressão, exercícios físicos, etc. A melhor crítica a este
comportamento coletivo em relação a depressão
foi Artificial Happness: Felicidade Artificial, o lado negro da nova
classe feliz. Livro escrito por um anestesista americano,PHD em
Filosofia Política, Ronald W. Dworkin, de 2006. Edições Planeta,comprei
num sebo do SALIPI por cinco reais. O autor faz um apanhado histórico da relação da medicina americana com o diagnóstico da depressão, da educação física, da medicina alternativa e finalmente da religião. Leia em:
Nenhum comentário:
Postar um comentário