A morte do cineasta Eduardo Coutinho, assassinado a facadas pelo filho após
um "surto psicótico" confirmado pela polícia, resvala em um caso semelhante
ocorrido em 2010, quando o jovem Carlos
Eduardo Sundfeld Nunes matou a tiros o cartunista Glauco e seu filho Raoni,
em Osasco, na Grande São Paulo.
Assassino confesso, Carlos Eduardo foi considerado inimputável --quando é
incapaz de responder pelos seus atos-- pela Justiça em 2011 ao ser diagnosticado
com esquizofrenia. Ele ficou internado em uma clínica psiquiátrica de 2010 a
outubro de 2013, quando a Justiça de Goiás decidiu que ele poderia deixar a
clínica e prosseguir com o tratamento ambulatorial em casa.
"O Código Penal diz que, havendo uma suspeita de insanidade mental, deve ser
realizada a perícia. Se houver um histórico de esquizofrenia, é elemento mais
que suficiente para que o próprio Ministério Público se manifeste a respeito",
disse ao UOL o advogado de Carlos Eduardo, Gustavo Henrique
Badaró.
"Os peritos fazem um juízo retrospectivo. Então, quanto mais perto da data do
fato, melhor e mais preciso ele é. E a esquizofrenia é uma das doenças que podem
levar à imputabilidade."
Ainda não se sabe qual será o tratamento dado a Eduardo Coutinho, filho de
Eduardo Coutinho. No início da tarde desta segunda-feira (3), ele teve prisão
preventiva decretada pela Justiça do Rio de Janeiro. A informação foi confirmada
pelo diretor da Divisão de Homicídio do Estado do Rio, Rivaldo Barbosa de Araújo
Júnior. "Diante de tudo que apuramos e tudo que chegou ao inquérito policial,
Daniel é o autor dessa tragédia familiar", afirmou.
Um laudo sobre o diagnóstico de Daniel ainda não foi divulgado. Caso a
Justiça o considere inimputável, ele pode não cumprir pena, seguindo para
tratamento ambulatorial compulsório. Daniel, de 41 anos, está internado no
Hospital Miguel Couto, na Gávea, na Zona Sul do Rio, sob custódia da polícia.
Ele foi preso em flagrante e deve responder pelos crimes de homicídio e
tentativa de homicídio -- por conta de sua mãe, Maria das Dores Coutinho, de 62
anos, que também está internada na UTI, no mesmo hospital, em estado
grave.
Um policial formando em psicologia vai coletar o depoimento de Daniel no
hospital. A polícia aguarda apenas o aval da equipe médica para a visita. "É um
policial que tem técnica policial, mas que fez o curso psicologia", afirmou
Júnior. Após atacar os pais, Daniel tentou se matar com duas perfurações. Seu
estado de saúde é considerável estável.
"CABRA MARCADO PARA MORRER"
O filme mais famoso de Eduardo Coutinho, sobre a vida e o assassinato de um líder camponês, começou a ser rodado em 1964, mas foi interrompido pelo Golpe Militar. O diretor só conseguiu retomar o projeto dezessete anos depois, procurando e mostrando o que aconteceu com cada um dos personagens que havia entrevistado, inclusive a viúva do camponês. O resultado foi uma das maiores obras-primas do cinema brasileiro e um dos documentários mais importantes da história.
Por Chico Fireman Reprodução
O filme mais famoso de Eduardo Coutinho, sobre a vida e o assassinato de um líder camponês, começou a ser rodado em 1964, mas foi interrompido pelo Golpe Militar. O diretor só conseguiu retomar o projeto dezessete anos depois, procurando e mostrando o que aconteceu com cada um dos personagens que havia entrevistado, inclusive a viúva do camponês. O resultado foi uma das maiores obras-primas do cinema brasileiro e um dos documentários mais importantes da história.
Por Chico Fireman Reprodução
Trajetória
Nascido em 11 de maio de 1933, em São Paulo, Eduardo Coutinho abandonou o
curso de direito por uma carreira no entretenimento. Depois de estudar direção e
montagem na França e voltar ao Brasil em 1960, Coutinho entrou em contato com o
Cinema Novo e o Centro Popular de Cultura (CPC), da UNE.
No CPC, o cineasta começou a trabalhar no que seria considerado seu projeto
mais importante: uma ficção baseada no assassinato do líder das Ligas
Camponesas, João Pedro Teixeira, com elenco formado pelos próprios camponeses do
Engenho Cananeia, no interior de Pernambuco. A produção de "Cabra Marcado para
Morrer" teve que ser interrompida depois de duas semanas de filmagens, quando
ocorreu o Golpe Militar de 1964 e parte da equipe foi presa sob acusações de
comunismo.
O filme só seria completado em 1984, depois de Coutinho reencontrar negativos
que haviam sido escondidos por um membro da equipe, e resolveu retomar o projeto
como um documentário sobre o filme que não foi realizado e sobre os personagens
reais que seriam os atores do primeiro projeto.
Entre 1966 e 1975, atuou principalmente como roteirista de produções como "A
Falecida" (1965), "Garota de Ipanema" (1967) e "Dona Flor e Seus Dois Maridos"
(1976). Em 1975, Coutinho passou a integrar a equipe do "Globo Repórter", onde
permaneceu até 1984.
Depois de "Cabra", Coutinho se firmou como o principal documentarista do
país, com filmes que privilegiavam pessoas comuns e as histórias que elas têm
para contar, como "Santo Forte" (1999), "Edifício Master" (2002), "Peões" (2004)
e "Jogo de Cena" (2007). Seu último longa foi "As Canções", de 2011.
Em 2013, ao completar 80 anos, Coutinho ganhou homenagem na Festa Literária
Internacional de Parati e na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que
organizou uma retrospectiva completa de seus filmes e um livro
reunindo textos de e sobre o cineasta.
Na ocasião, Coutinho
afirmou ao UOL que o público foge de documentários. "Isso é
trágico. Tem uma diferença entre ficção e documentário, e é apenas para a Ancine
[Agência Nacional do Cinema]. Documentário é uma palavra maldita. Se o público
cheirar documentário, ele foge. Só não foge quem não pode", afirmou.
20.nov.2012 - Eduardo Coutinho fumando durante um ensaio
fotográfico em novembro de 2012 Leia
mais Daniel Marenco/Folhapress
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