segunda-feira, 28 de junho de 2010

MEDUNA: O CASTELO DA PRINCESA DO SAPO



Hoje a tarde (28) todas fomos princesas. Caroline, Bia e eu. Recebemos ordens da rainha Elizabeth da Inglaterra. Caroline organiza um chá de casa nova e a rainha a orienta. Quando sair da internação integral em apartamento no MEDUNA, que não tem mais enfermarias para SUS. As alamedas e os pátios antes lotados de gente que caminhava sempre sem ter para onde ir, estão agora vazias. Estranha tranquilidade. Ainda não acredito que um dragão tenha tombado, depois de agonizar por tanto tempo.
Caroline acredita, oscilando lucidez e delírio que está num castelo (para quem não conhece, o hospital parece mesmo um castelo medieval, com uma estátua de Dom Quixote à entrada), é uma princesa, a tal princesa do sapo, deve ser aquela que beijou o sapo asqueiroso que se transformou em príncipe. Não conheço outra. Sou uma princesa africana, minha "surrada" sandália dourada se transformou em última moda na côrte, aprovada por prícipe Willians da Inglaterra. Tento convencê-la que sou da plebe. O que ela prontamente argumenta que se assim o fosse jamais ali teria entrado. Entre um cigarro, alguma lucidez, lembrança dos pais que não a visitam. Afirma que é filha adotiva. Sonha que na sua alta, voltará a trabalhar e ter novamente sua casa, se inscreverá num destes programas federais de moradia. Sonhamos juntas que um psicótico possa um dia ter prioridade na conquista da moradia. Residência assistida, por uma familia sócioafetiva (expressão que aprendi com Alcir Marcus, dos Direitos Humanos) planejo rapidamente mais um projeto. Socióloga, ela me dá uma lista de ordens ditadas por rainha Elizabeth, consta muitas coisas na sua lista de aquisições para a casa nova, coisas da Ásia, toda Europa e África, argumenta que precisamos valorizar todas as culturas.
Barack Obama aparece no quiosque de palha carcomido por cupins, também o vejo e pergunto se Micchele se parece comigo. Ela diz que não acha.
Treze dias de internação e ainda deliróide. Não há terapeuta ocupacional. Não consigo saber sobre a psicologia.Tem assistente social. Bela amiga e princesa.. seremos felizes para sempre. Fora do castelo!

CAPITALISMO: Uma história de amor


CAPITALISMO: UMA HISTÓRIA DE AMOR, do cineasta e documentarista Michael Moore.
Recomendado por email de Patricia Andrade, mulher culta e de luta. Crítica de Heitor Augusto no Cineclick.
http:cinema.cineclick.uol.com.br/


domingo, 27 de junho de 2010

IV Conferência Nacional de Saúde Mental e Controle Social


Hoje (27) começa em Brasilia a IV conferência de saúde mental intersetorial, após nove anos da terceira setorial, conquista dos movimentos ligados a luta antimanicomial, constituídos por trabalhadores, usuários, familiares e simpatizantes da causa. A conferência termina dia 02 de julho. A delegação do Piaui, de 23 pessoas não leva nem um louco "genuino" ( ex paciente de Meduna e HAA, militante) entre o segmento de usuários. Louco só AD. O restante do grupo de usuários irão quatro conselheiros, senhores que numa reunião do dia 04 de abril numa apresentação de um projeto de CAPS III, num conjunto de 16 conselheiros municipais nenhum conhecia um CAPS, Amparo Oliveira organizou uma excussão pelos CAPS da capital. Comparem com alguns do interior do Estado. Dos encrenqueiros , politiqueiros, interesseiros e desinteressados por saúde mental do conselho estadual não vai nenhum, somente seu Brito, espécie de secretário, sem certificação. Setoriais ninguém de referência maior em educação, justiça ou trabalho. Estamos lascados. Os gestores, excluindo Marta Evelin, não conheço nenhum assumidamente militante antimanicomial.
Lucimar do MORHAN, tem irmão esquizofrênico, já aposentado por invalidez, se solidariza comigo quanto a ausência de delegados pertencentes ao movimento de usuários. Informa-me que irá como representante do Conselho Nacional de Saúde, se eu quisesse poderia está enviando propostas que ela ajudaria a defender.Mas não apareceu para construir a conferência, apesar dos meus convites. Caramba! A conferência estadual se tornou reduto extremamente normal, onde prevaleceu a normativa da competição, da ganância pelo exercicio dos micros poderes, pela perspectiva manicomial, onde os normais gritavam literalmente mais alto e garantiam a manobras interesses meramente individuais. Faltaram usuários organizados conscientes de seus direitos, intransigentementes orgânicos na defesa das políticas que beneficiem nosso povo tão sem acessibilidade, estigmatizado e excluído.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

SAÚDE

Foto minha, voltando de Cocal dos Alves e Pedro II a trabalho da gerência de saúde mental. O sol se pondo para nascer do outro lado do mundo, atrás de uma carnaúba.
Estou saudável e querendo me manter assim, sem crises. Bom, não está doente. Agradeço a Deus, medicação que vem dando certo, a acupuntura semanal, fitoenergia, bionergia e uma atitude de deixar para lá, o que pode pertubar a harmonia desse "ciclo de saúde", ou remissão que pretendo, continuada.
Li um livro sobre o amor em dois dias, de tão leve e suave que era. Cuidei de plantas e mudei algumas coisas de lugar na minha casa. Dificilmente faço isso. Estou apaixonada por coisas e pessoas e vários projetos embalam meus sonhos. Euforia que não é doença, é esperança. Me emociono com a dor daqueles que como crianças pequenas, não sabem dizer o que sentem, aqueles que mesmo sem terem cometido crime algum, continuam em cárceres domésticos, entre grades, sem hospital psiquiátrico ou penitenciária. Porque uma família os ama e querem protegê-los.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

A ARTE DA ARTICULAÇÃO DE REDES SOCIAIS:INSISTÊNCIA OU UM ATAQUE DE NERVOS!!!!!!!!!

Um dia antes de viajar para o congresso da ABRASME e outro evento de Serviço Social e Saúde Mental no Rio de Janeiro, de 1 a 5 de junho. Passei rápido, ofegante por conta das escadas na Farmácia de Medicações Excepcionais, na 24 de janeiro. Pedi informações para inscrição, peguei um laudo que a médica do CAPS precisaria preencher e levei para Bia. Usando os últimos vinte comprimidos de Respiridona emprestado por um parente. Na quarta, 9, dei entrada com o pedido.
Ela está com cinco dias sem medicação hoje. Diz escutar vozes e ter pesadelos, medos e vontade de abrir a porta da casa e sair correndo. A mãe liga para a farmárcia, é informada que a medicação já está disponível, pega amanhã.

Dia 08 de junho
Aconteceu uma audiência no juizado da Redonda, Bia, que apanhou na rua é a ré. Viajo a trabalho. Mas antes tentamos lembrar ao pessoal dos Direitos Humanos que eles deveriam acompanhar a mãe. Tentamos poupar Bia, que desde o dia anterior demonstra preocupação, um tanto deprimida, relata. Não aparecem. E o texto final é estarrecedor. Não temos gente suficiente para ajudar. A própria Bia, passa na Coordenadoria de Direitos Humanos e Juventude e alguém diz que não vale a pena recorrer da sentença. Eis fragmento do texto:

[...] A mãe da autora do fato se compromete a controlar esta para que não cause nenhum aborrecimento ou risco a integridade física da vítima; além de evitar todos os cuidados para que a autora do fato não tenha acesso ou o manuseio com arma branca como canivete, faca ou qualquer tipo de arma; e também não permitir que a autora do fato transite desacompanhada na rua onde residem e na própria cidade, no sentido de não haver riscos à integridade física da vítima e da família desta, sob as penas da lei e de responsabilidade pelos danos recorrentes, com o que concordou a vitima, com a ressalva do direito de apresentar Representação criminal no prazo de 06 (seis) meses a contar da data do fato, na forma do art. 38 do CPP [...].

Promotor de Justiça: Albertino Rodrigues Ferreira, Juiz: Jorge da Costa Veloso e outro juiz leigo: Ronaldo Pinheiro Moura. A moça que bateu, levou um advogado: Antônio Anésio Belchior Aguiar e defensor público que os Direitos Humanos prometeu não apareceu.

Pode? A Reforma Psiquiátrica preconiza a desospitalização, a inserção na comunidade dos normais, é legítimo proibir quaisquer pessoa andar pela rua que mora e cidade sozinha? Fere o princípio da autonomia, da recontratualização de laços sociais, da vida sob condição psicótica com menos vexame possível que tanto lutamos nesta lida antimanicomial cotidianas. Pergunto se o CAPS sudeste que ela frequenta sabia da audiência? Por que uma assistente social, lá tem duas, não a acompanhou ,a mãe? Se o Projeto Terapêutico Singular da Bia consta a necessidade destas intervenções psicossociais na prática.
Estamos sós!!!!!!!!!!!

Para quem chegou agora... as postagens sobre Bia, estão do mês de abril (2010) para cá.


OI AMIGONA!!!!!!!!!


Uma linda amiga, uma das educadoras de minha filha me envia belos scraps, flores, fadas, poesias e diz que não sou romântica. Agradeço sempre de "próprio punho". Sou assim. Recebo dezenas de pps. Saibam, que adoro quebrar correntes. Não resisto! E raramente devolvo aquelas "declarações de amizade" para provar que se é amiga mesmo. Sou um caso per-di-do! Mas hoje recebi uma dessas mensagens cheias de carinho entre mulheres e repassei. Recebi dezenas de volta. O amor é um grande laço mesmo. Uma correntinha dourada feminina de ouro 18 (que nunca tive, gosto de bijouterias grandes e que pareçam bijouterias mesmo, latão, bolona colorida...), mas algumas amigas conseguiram me envolver nessa onda de carinho. Agradeço aqui, minhas IRMÃS.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

ACESSIBILIDADE III

Hoje, (18/06) minha filha surda de dez anos tirou moldes nas orelhas para receber novo aparelho de surdez, me foi dado o direito de escolher a marca, e minha filha a cor: rosa. Escolhi um que segundo conhecedores são mais potentes e melhor indicado para o caso dela, surdez profunda ( não pesquisei o preço no mercado, mas geralmente os bons chegam até três mil reais ou mais, a unidade). O Hospital Flávio Santos, um ambiente climatizado, bonito, internet ao alcance de todos, telões com jogos da copa, etc. Funcionários simpáticos, das jovens atendentes aos fonoaudiólogos pelos quais fomos atendidas, com gentileza, que nos prestaram todas as informações necessárias. Tudo pelo SUS, num processo rápido, que desde a entrada com o pedido, moldes, adaptação, talvez não chegue a um mês. E ainda consegui a terapia fonoaudiológica uma vez na semana. Essa a partir de agosto.

Há mais de dois meses, acompanho uma escola e a família de uma criança de sete anos, com visível crise mental. Inquietação, insônia, bizarrices. Não para na sala de aula e em lugar algum. Cansa professores, direção, funcionários de apoio e a avó, que o cria. A mãe se encontra presa. Posto de saúde mais próximo, a médica clínico-geral e também psiquiatra pede um eletrocefalograma (é isso?), está escrito como justificativa na requisição: distúrbios neurovegetativos. A avó não consegue, tem que dormir para conseguir marcar esse exame no posto de outro bairro ou alguma coisa com o médico da família que precisa assinar. O menininho de olhos vermelhos de insônia, abraça qualquer mulher que se aproxime, como que buscando a mãe. E se acalma pelos instantes do abraço.
Só temos um CAPS i, em reforma e sabem todos que acompanham o blog que discordo em qualquer lugar com a existência dele dentro do terreno do hospital Areolino de Abreu, a recepção no azulejo branco, inóspito como hospital, sem brinquedos, sem cara de criança, sem cor, sem enfeites. Sem querer que o pequeno tivesse esse primeiro contato frio com a psiquiatria, levei-o comigo ao consultório do meu querido psiquiatra. Que levou um susto, claro. Sem o tal eletro, nada de medicação. Vamos nós fazê-lo no CAPS i, ou HAA, aparelho quebrado. Mas o bondoso médico, na sua experiência, passou a medicação, que a avó já levou para casa. Conseguimos uma terapeuta naturista que o atenderá terça-feira. Uma assistente social, colega competente, me diz que o CAPS i, nada pode fazer sobre o fator psicossocial que acentua a crise, a prisão da mãe, apenas
apoiar a criança. Pergunto sobre a prática de acionar as redes sociais, intersetoriais? Não dar nem para ligar para os Direitos Humanos, Defensoria Pública, tentar saber da real condição penal da mãe, presa por portar substâncias ilícitas há cinco meses. Segundo parentes, uma mãe presente na vida do filho. Pois é... Capscômio i!!!
Até quando será assim para as crianças psicóticas (criança enlouquece sim),? Cadê o diagnóstico e a reabilitação precoce, como se faz na surdez com ganhos significativos para aquisição de habilidades e competências para a vida adulta, vivendo com a deficiência ou patologia?

domingo, 13 de junho de 2010

LOUCOS NÃO TEM ACESSIBILIDADE!!!



Ontem (12) paticipei com minha filha surda da IV Caminhada da Acessibilidade organizada pelo Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência - CONEDE/PI, seguindo uma programação que se encerra dia 28 com um Fórum Estadual pela inclusão da pessoa com deficiência. Ao chegar na concentração (não acompanhei a caminhada por conta de cansaço físico) na praça Rio Branco, dei de cara com uma louca sem blusa, com os seios a mostra, caminhava alheia a qualquer olhar. Minha filha ficou muito imprensionada. É difícil explicar algumas coisas para ela. Se andasse sozinha teria acompanhado a moça e feito uma intervenção. Vou colocar uma camiseta a partir de agora sempre na minha bolsa.
Alguns discursos de políticos, atrações artísticas, lanche na praça, levei meu cofrinho do Ninho e resolvi fazer um protesto "enlouquecido", sacudi muito e barulhentamente a latinha: "ACESSIBILIDADE PARA OS LOUCOS". Pasmem !Aquelas pessoas, cadeirantes, deficientes físicos, familiares, trabalhadores pareciam nunca terem ouvido falar que nós existimos. Pior é que é verdade, além da lei 10.216/001 que redireciona as formas de tratamento, considerada a lei da Reforma Psiquiátrica e várias portarias que tratam todas das formas de tratamento mais comunitário, em nove anos apenas de aplicação ainda não baniu totalmente os tratamentos fechados e desumanos existentes Brasil afora. E aos desospitalizados ou aqueles que pertencem ao um novo tipo de usuário, que diagnosticado não é mais diretamente exposto aos benzadiazepinicos que causam dependência, usam medicação mais atuais e com mais resolutividade deixando-os mais tempo sem sintomas. Sofrendo apenas da doença social do preconceito e estigma, não há leis que protejam estes loucos que não rasgam mais dinheiro, ao contrário sabe muito bem a importância dele. São na maior parte do tempo laborais, mas com limitações da doença, paradoxalmente.Não conseguem como em outras deficiências ,física por exemplo ou mental os benefícios da previdência. Porque deficiência mental é diferente de transtorno mental, segundo o decreto 3.298/1999, reformulado em 2004 pelo decreto 5.296, que nem sequer faz quaisquer referência a transtorno mental. Esse decreto entre outras coisas, garante cotas para deficientes em concursos. Não somos considerados deficientes, mas também não somos considerados normais para uma sociedade que ainda necessita e muito de passeatas para conquistar a aceitação de milhares de cidadãos e cidadãs de direito, respeitando suas diferenças.

sábado, 12 de junho de 2010

ALCIONE NÃO MORREU!!!!!!!!!!!



Ia no mês de abril visitar Bia no HAA, um tanto triste pela atitude dos vizinhos quanto a omissão, hostilidade com alguém que vive com transtorno mental. Totalmente descrente da bondade humana. Voz alta me faz levantar a cabeça, é Alcione. Presente do dia! Quem acompanha o blog, lembra que me informaram que ela havia sido atropelada e morrido. Está lá perto da Praça Pedro II, ex paciente do HAA e Meduna, está estabilizada e inteligente. Conversamos sempre. Precisa de dentes. Me diz que se conseguir aposentadoria (BPC) deixa de pedir. Prometo tentar articular a rede, buscar quem ajude. Pego seu endereço e lhe dou meus telefones, para que ela me ligue cobrando. Alguém pode indicar projetos, programas de saúde bucal em Teresina? Estudantes de Serviço Social ou Psicologia Social poderiam acompanhá-la a um posto do INSS, localizar seus atestados de suas internações? O Ninho tem uma demanda grande, não damos conta. Aceita-se voluntários, se possível com transtorno mental.

TERAPIA COMUNITÁRIA

SESSÃO DE TERAPIA COMUNITÁRIA

Trabalhando a Autoestima

19 de junho de 2010

Venha participar dessa roda de autocuidado e autoconhecimento, que se dá através da partilha das preocupações, dores, sofrimentos, angústias, inquietações, e experiências de vida proporcionando seu crescimento e amadurecimento pessoal, bem como a construção de redes solidárias de auto-inclusão psicossocial.

Dia: 19 de junho de 2010 (sábado)

Horario: 9h às 12h

Local: EADCON (Av. Frei Serafim, 3302 – enfrente ao Círculo Militar)

Informações: (86) 9444.0896 - E mail: narcizochagas@gmail.com

Contribuição voluntária: R$ 10,00


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NARCIZO CHAGAS
(86) 9444.0896
wwww.twitter.com/narcizochagas
www.narcizochagas.blogspot.com
www.idepensino.blogspot.com
www.centrodialogu.blogspot.com

terça-feira, 8 de junho de 2010

A LUTA DE AILTON EMERSON POR SUBJETIVIDADE

Postar no blog‏
De: Ailton Emerson - Assistente Social em Formação (ailton.emerson@hotmail.com)
Enviada: terça-feira, 8 de junho de 2010 13:39:24
Para: Edileuza (madileuzazem@hotmail.com)
Eu, Ailton Emerson, cheguei no CAPS-LESTE hoje para uma consulta de rotina, falar com o psiquiatra que me acompanha. Na recepção o rapaz que cuida dos prontuários e não de pessoas me disse que eu não poderia falar com o Dr. Cristovão, porque eu não tenho perfil para ser atendido naquela instituição, alegando que não participo das atividades "terapêuticas". A primeira coisa que me chamou atenção é que estão decidindo por mim, quando, como e porque tenho que falar com meu psiquiatra, segundo, quando é que os trabalhadores de saude mental vão entender que portador de transtorno mental não é aquela pessoa incapaz e que aceita tudo e todo tipo de "terapia" para uma possivel cura. Eu, Ailton Emerson, me recuso a bordar, montar quebra - cabeça e participar de oficina de contos, nenhum preconceito contra quem gosta e faz essas atividades, mas pra mim esse tipo de atividade, nem é ludica nem terapêutica. Fico me perguntando por que a equipe não se pergunta, se eu e outras pessoas estão indo somente pra atendimento psiquiatrico, o problema está na gente ou não instituição ou profissionais? Mas o que vem acontecendo é que os profissionais não se reinventam e nem olham para as particularidades de cada geração, as identidades dos usuários, seus desejos e emoções. Nós não somos só pessoas que tomam medicação pra controlar ou diminuir as nossas loucuras, somos estudantes, trabalhadores, artistas, estagiários, enfim, temos identidades múltiplas e híbridas, identidades essas que sou eu que escolho e não quero que seja atribuída por outrem. Para o leitor, que fique claro que esse não é uma questão pessoal e nem divisionista, o problema é que a cultura de manicomio ainda persiste e forte, o tanto quanto no Hospital Areolino de Abreu nos novos serviços. Entendo que para prender não se basta colocar entre grades e tratar como bicho, acredito que para acontecer uma verdadeira reforma psiquiátrica, tem que se libertar também a subjetividade desses usuários, prendendo na mente, com tutelas, jugamentos e coisas parecidas.
Eu reclamei, não sei como os profissionais entenderam, talvez como de outras vezes, "agressividade" colocada inclusive no prontuário. Enquanto o atendimento continuar dessa forma, continuarei "agressivo" sim, porque acredito que interesse de profissionais, de familiares e os meus não são os mesmos, podem até tentar me calar e me atribuir UMA IDENTIDADE, mas tenho várias, sou portador de transtorno mental, estudante universitário, estagiario do Hospital Areolino de Abreu, faço controle social, esse entendido não só nos espaços de foruns e conferencias, mas dentro da instituição, então eu tenho IDENTIDADES, e que são escolhidas por mim.

"O segredo não é correr atrás das borboletas,

mas cuidar do jardim para que elas venham

até você"

(Mario Quintana)

"Diz-se violento um rio que tudo arrasta,

mas não se diz violento as margens que o comprimem"

(Bertold Brecht)


PAULO AMARANTE E A ESPERANÇA...

Paulo Amarante, psiquiatra e pesquisador em Saúde Mental da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), diz que o Brasil vive uma nova concepção em saúde mental com a integração de pessoas com transtornos mentais em atividades culturais e com a valorização do atendimento fora dos hospitais.

“Ninguém é doente mental. Existem pessoas em sofrimento psíquico ou com transtorno mental. Todas as pessoas passam por fases difíceis que acabam. Mesmo os casos gravíssimos”, defende Paulo Amarante. Durante o Congresso, o psiquiatra conversou com Brasília Confidencial.

Brasília Confidencial - Segundo a OMS, 10% da população do mundo têm transtorno mental. Por quê?

Paulo Amarante - Porque não sabemos exatamente o que é o transtorno mental. É muito difícil precisar o comportamento diferenciado, exótico, estranho, de um comportamento patológico. A obra ‘O Alienista’, de Machado de Assis, faz essa crítica. E muitos outros autores também. O que é normal aos olhos de um, não é normal aos olhos de outro. Isso não é só relativo, mas muito fundamental.

BC - A loucura do nosso dia a dia está nesses 10%?

Amarante - Sim. Angústia, stress, depressão, ansiedade, pânico, coisas que ninguém sabe bem o que são. Nossa linha da psiquiatria é uma linha crítica, que não acata construções sociais como a ideia de que exista um “mau” permanente rondando e que deve ser isolado ou necessariamente medicado. Na verdade, quando você olha para o outro dizendo ‘você é doente’, você produz essa condição ao outro.

BC - Qual o eixo central desse congresso?

Amarante - A superação do modelo manicomial, desse modelo tradicional que diz que a pessoa com transtorno mental tem que ser isolada porque tem um defeito na capacidade de discernimento, de juízo. As pessoas são diferentes e podem ser incorporadas à sociedade com as suas diferenças. Isso implica em lutar contra uma tendência contemporânea de medicalizar tudo. Hoje, a tristeza se torna doença ao ser medicalizada. Quanto mais a gente defende a diversidade, paradoxalmente a psiquiatria defende a patologização. O conceito de diversidade é oposto ao de patologia. As pessoas são diferentes, por exemplo, no humor. Mas se você olhar tudo como doença, você vê doença.

BC - Há muitos manicômios no Brasil?

Amarante - Temos ainda 30.000 leitos psiquiátricos em cerca de 300 manicômios.

BC - Há projeções para baixar esses números?

Amarante - Estamos baixando. Há 10 anos tínhamos 60.000 camas. Baixamos 50% em uma década.

BC - Alguma política específica ajudou para isso?

Amarante - Primeiro destaco a força do movimento social da luta anti-manicomial. Ele perpassa toda a sociedade brasileira envolvendo pacientes, familiares e técnicos. Um movimento que luta e que constrói possibilidades. Segundo, há políticas nacionais. Fizemos aprovar a lei da Reforma Psiquiátrica, a partir de um movimento social, que determina que os manicômios sejam progressivamente fechados e substituídos por novas alternativas. Nos últimos anos essa lei e outras portarias foram se aperfeiçoando a partir do crescimento da relação do Estado com a sociedade civil.

Durante o II Congresso Brasileiro de Saúde Mental, Rio

Ler na íntegra em Brasília Confidencial

http://www.brasiliaconfidencial.inf.br/?p=16945

segunda-feira, 7 de junho de 2010

NINHO: CUIDADOS EM SAÚDE MENTAL JUVENIL/UFPI

Uma insistência de carrapato que durou seis anos, desde de 2004 que tentamos sensibilizar a comunidade da UFPI através de vários professores do CCHL, para a questão do discente com transtorno mental que abandona disciplinas em crise, tranca o curso, perde ou passa muito tempo para terminá-lo. Finalmente conseguimos com a sensibilidade de duas grandes intelectuais, professora Valéria Silva e Lila, ambas do departamento de Serviço Social, organizar um projeto, aprová-lo em várias instâncias e como Valéria já começou a fazer, já está acontecendo com suas Oficinas de Vivências Terapeuticas em Saúde Mental. O grupo convida para quinta-feira,9, às 15:00 na sala do NUPEC, no CCHL para uma reunião de organização dos futuros trabalhos.
Estudantes que vivem com transtorno mental, amigos, estudantes das áreas de arte e saúde são bem-vindos. Aguardamos a todos.Redes sociais só se constróem com solidariedade. Coisa mais cara que dinheiro.

ACESSIBILIDADE

"Louco só descansa quando morre" são dizeres de meu amigo Nilo Neto, usuário de Santa Catarina. Passei uma semana fora, participando do congresso da ABRASME. Tenho tantas coisas para postar. Mas cheguei na madrugada do domingo e ainda não parei. Amigos do Ninho ( amigas já muitas queridas) em crise, audiências na justiça e como dupla identidade, também sou trabalhadora em saúde mental, muito trabalho para fazer. É respirar. Tentar acalmar a mente por vinte minutos e medicação. Acupuntura, não terei tempo de fazer nesta terça. Mas viajar revitaliza. Estou bem feliz por ter voltado sozinha, duas conexões, usando meus direitos de acessibilidade. Só precisei de ajuda na confusão daqueles portões de embarque tumultuados. Psicótico é ansioso. Ia lá me identificava como pessoa com transtorno mental e embarcava com ajuda, como cadeirantes, crianças e idosos desacompanhados. Senti a surpresa em alguns funcionários da empresa aérea. A nossa é uma "deficiência" invisível. É preciso sempre uma beve explicação que tenho dificuldades de gravar informações sobre localização, espaço. Espero que algum dia alguém pense em transformar em lei que possamos sermos considerados prioridade nestas situações e em filas como idosos, mulheres grávidas e pessoas com crianças de colo.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.