terça-feira, 21 de abril de 2009

NO CAMINHO TIVE UMA CRISE...




No dia não comemorado do aniversário do Sanatório Meduna, aniversário de setenta anos da tia Inês, avó de A. meu sobrinho, vou buscá-lo de alta, depois de 22 dias de internação. Eu, outro tio e a mãe, zelosa, que lhe fez visita todos os dias.


Meu olhar acompanha rápido o cotidiano do manicômio, pacientes choram para ir embora, outros pedem lembranças, cigarros, brigam por um toco deles. Outros reclamam a suas mães, sentem sintomas de outras doenças, querem mudar de pavilhão, deixar um mais agitado. Uns têm visitas, outros não.


As instalações são velhas, paredes rachadas, lâmpadas queimadas (meu sobrinho relata que o quarto estava no escuro há cinco dias). O posto de enfermagem é um lugar degradante, empoeirado, parede rachada, sem cor e cheia de alguns cartazes velhos, janelas velhas e sujas. Neste lugar atendem médicos, enfermeiros, assistentes sociais.


Lembro de um encontro rápido com seu idealizador Clidenor Freitas num seminário sobre saúde mental em 1997. Ele olhou para mim e comentou que o Meduna dava certo, eu era o exemplo, porque um dia estive lá. No prontuário do meu sobrinho o psiquiatra escreveu, depois de 22 dias de haloperidol, prometazina, fenobarbital e diazepan: "paciente com voz lenta e baixa, discurso coerente". No dia da internação dizia que estava no natal, era emissário de Cristo para uma tal de missão final e depois falava em dinheiro. O hospital psiquiátrico com a internação integral, em acomodações desconfortáveis ainda tira do surto. Lembro novamente de Clidenor e como era empreendedor, talvez se vivo fosse, transformasse seu "animal social" em uma pensão protegida, sua empresa em uma fundação qualquer coisa com ajuda internacional e tudo. Redesenhasse o modelo de atendimento ao ideário da Reforma, desse cor aquelas paredes e perspectivas de recontratualidade social para os milhares de crônicos que se revesam nos leitos mantidos pessimamente pelo SUS e leria toda uma literatura produzida por pessoas que vivem e convivem com transtorno mental, além das trezentas edições em línguas diferentes de Dom Quixote que manteve em sua biblioteca.

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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.