A EXPERIÊNCIA DE KINGSLEY HALL ENQUANTO ESPAÇO DE LIVRE EXPRESSÃO DA LOUCURA? ROMANTIZAÇÃO DO SOFRIMENTO PSIQUICO? ATÉ QUE PONTO AS INFLUÊNCIAS DE OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS DOS ANOS SESSENTA INFLUENCIARAM A IDÉIA DE COMUNIDADE TERAPÊUTICA INGLESA? O QUE A CLÍNICA DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CARACTERÍSTICA E EM CONSTRUÇÃO NA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA TEM A APRENDER COM KINGSLEY HALL?
"Ocasionalmente tínhamos "sessões de pensamento". A finalidade dessas sessões era considerar o que se passava com ela, comigo, entre nós e em Kingsley Hall. Os assuntos iam desde a polarização da comunidade ( totalmente negada: -- Joe você está errado. Sei que as pessoas amam umas às outras e só querem ajudar-me a melhorar.) , passando por esses desejos e ciúmes sexuais ( parcialmente negados: -- Joe, quero voltar para o convento e ser uma freira contemplativa. __ Eu: __ Diga dez aves-marias e falaremos disso amanhã.) , até os sentimentos de raiva e fúria ( __ Joe, eu me sinto muito ruim hoje. __ Eu: É porque você quer matar a mim e a Roberta.).
A mutilação da comunidade e o sexo eram indigestos. A raiva e a violência não o eram. Isso foi o auge da primavera para nós dois. Mary, finalmente, começara a aceitar sua própria experiência da raiva. Passamos horas examinando como, quando e onde ela se sentia zangada. Essa foi uma questão fundamental. A COISA era o resíduo vomitado de pênis e vaginas não digeridos. Mary tinha de examinar seu vômito, a fim de chegar à parte cosmetível da matéria e nutrir-se com ela.
Encorajei Mary a gritar a berrar e chutar e morder. Usava meu tamanho e peso superiores para absorver seus apertos, mordidas e golpes. Um hábil trabalho dos pés evitava que eu fosse chutado em lugares vitais. Esses intercâmbios primitivos tinham muito efeitos benéficos. Mary tornou-se mais capaz de "suportar a COISA" quando o medo da sua raiva diminuiu. Ela começou a ver que sua experiência de ser torturada e assassinada por outras pessoas tinha algo a ver com seus próprios desejos de torturar e assassinar as pessoas que pensava irem "entrar nela". Adquiriu a capacidade de reconhecer as múltiplas modalidade a raiva.
Quando reconheceu a COISA, pôde fazer a si mesma a pergunta superimportante: "Por quê? Elucidava-se para Mary, que era uma senhora muito ciumenta.
[...] Infelizmente, a infra-estrutura emocional de Mary era esmagada pela combinação de ciúmes sexual e caos social. Isso provocava mais ansiedade, medo e culpa do que a recém-descoberta consciência de Mary podia enfrentar. Em conseqüência, a primavera de 66 viu Mary entrar numa "descida" da qual não voltou por quase um ano."
Joseph Berke agradece aos conceitos de Ronald Laing, referindo-se, a consciência de que a psicose pode ser um estado da realidade, com natureza cíclica, através do qual o eu se renova; e à consciência de que a pessoa pode funcionar em vários níveis de regressão ao mesmo tempo.
"Ocasionalmente tínhamos "sessões de pensamento". A finalidade dessas sessões era considerar o que se passava com ela, comigo, entre nós e em Kingsley Hall. Os assuntos iam desde a polarização da comunidade ( totalmente negada: -- Joe você está errado. Sei que as pessoas amam umas às outras e só querem ajudar-me a melhorar.) , passando por esses desejos e ciúmes sexuais ( parcialmente negados: -- Joe, quero voltar para o convento e ser uma freira contemplativa. __ Eu: __ Diga dez aves-marias e falaremos disso amanhã.) , até os sentimentos de raiva e fúria ( __ Joe, eu me sinto muito ruim hoje. __ Eu: É porque você quer matar a mim e a Roberta.).
A mutilação da comunidade e o sexo eram indigestos. A raiva e a violência não o eram. Isso foi o auge da primavera para nós dois. Mary, finalmente, começara a aceitar sua própria experiência da raiva. Passamos horas examinando como, quando e onde ela se sentia zangada. Essa foi uma questão fundamental. A COISA era o resíduo vomitado de pênis e vaginas não digeridos. Mary tinha de examinar seu vômito, a fim de chegar à parte cosmetível da matéria e nutrir-se com ela.
Encorajei Mary a gritar a berrar e chutar e morder. Usava meu tamanho e peso superiores para absorver seus apertos, mordidas e golpes. Um hábil trabalho dos pés evitava que eu fosse chutado em lugares vitais. Esses intercâmbios primitivos tinham muito efeitos benéficos. Mary tornou-se mais capaz de "suportar a COISA" quando o medo da sua raiva diminuiu. Ela começou a ver que sua experiência de ser torturada e assassinada por outras pessoas tinha algo a ver com seus próprios desejos de torturar e assassinar as pessoas que pensava irem "entrar nela". Adquiriu a capacidade de reconhecer as múltiplas modalidade a raiva.
Quando reconheceu a COISA, pôde fazer a si mesma a pergunta superimportante: "Por quê? Elucidava-se para Mary, que era uma senhora muito ciumenta.
[...] Infelizmente, a infra-estrutura emocional de Mary era esmagada pela combinação de ciúmes sexual e caos social. Isso provocava mais ansiedade, medo e culpa do que a recém-descoberta consciência de Mary podia enfrentar. Em conseqüência, a primavera de 66 viu Mary entrar numa "descida" da qual não voltou por quase um ano."
Joseph Berke agradece aos conceitos de Ronald Laing, referindo-se, a consciência de que a psicose pode ser um estado da realidade, com natureza cíclica, através do qual o eu se renova; e à consciência de que a pessoa pode funcionar em vários níveis de regressão ao mesmo tempo.
2 comentários:
E quando o louco se "romantiza"???
Cabe ao terapueta exorcizá-lo? Ou a literatura talvez.... A invisvel linha da realidade e fantasia, podemos viver o romance ou algo fantastico. O problema é que quando cai nas linhas e folhas em branco, vira ficção, ali colocamos uma moldura em nossas experiências.
Hoje, quarenta anos depois, acredito que saibamos mais e infelizmente em alguns espaços aceitamos menos, a experiência do surto e que haja uma "produtividade" de vida dentro dele.
Todo o esforço e cuidados psiquiátricos e comunitários é pra tirar do surto permanente, que o louco, apesar da condição psicótica seja funcional: nos seus contratos sociais, trabalho, arte, amor, estudos. E isso não é ruim. É qualidade de vida.
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