quinta-feira, 26 de março de 2009

NO CONSULTÓRIO DO PSIQUIATRA

. Meu psiquiatra, Edson Paz, renomado profissional teresinense, parecia cansado hoje à tarde. Quase trinta pacientes para atender. Me informa que vários psiquiatras da "velha guarda" já não atendem ou estão deixando de atender, fechando consultórios e indicando-lhes os pacientes. Pergunto pelos jovens psiquiatras da cidade, eles existem? Tem leituras mais atualizadas da clínica da Reforma. Vamos descobrir e divulgá-los.
Ansiosa sempre sou uma das primeiras. Chego cedo. Pensando nos outros ansiosos lá fora, tendo encurtar a conversa que se alonga além da consulta. "Gentilmente" sempre nos desentedemos quando o assunto é Reforma Psiquiátrica. Pergunto fingindo está zangada, que história é essa que ele está dirigindo o Meduna? Está, e diz que a situação é difícil. Mas o sanatório se mantém. São duzentos leitos. Não tem CAPS para tudo isso. E repete o argumento dos psiquiatras mais conservadores, que não querem médicos nos CAPS, contesto: Não precisamos de psiquiatras com mentalidade manicomial. Que oriente a familia "amarrar" o paciente em casa, porque a lei proíbe no CAPS. Repete outro argumento que ao fechar hospitais os pacientes ficarão na rua como na Inglaterra. Não sei da reforma inglesa, mas contra argumento que vivemos no Brasil e nossa experiência de Reforma está ainda em curso. Tem vinte anos, não é muito. Chegou ao Piauí apenas apenas em 2006. Ele sempre me diz que o CAPS não deixa de ser um hospital dia, experiência que somos pioneiros no nordeste e ele dirigiu por alguns anos. Digo que na essência não é, o que há de comum são as semi-internações. Não é para ser, o CAPS tem a idéia de território, intervenção domiciliar na crise. Não fazem. Porque os profissionais ainda são impregnados de concepções de clínica manicomial. Deu o remédio e terapia ocupacional para aqueles que conseguem pintar potinhos de cerâmicas ou fazer vergonite, festas das mães, dos pai, juninas com bastante comida, igualzinho ao hospital psiquiátrico. Então, meu respeitado psiquiatra, pessoa a quem realmente tenho apreço, tem razão quando diz que mudamos de modelo hospitalocêntrico para capscêntrico.
. A clínica psiquiátrica GESTA fechou em fevereiro. A maioria dos pacientes eram do PLAMTA, que passou alguns meses sem pagar a clínica. E a exigência de uma resolução do Conselho de Medicina, que determina a presença de plantonista presente às noites, isso exigia contratações de mais profissionais, ou próprio Dr. Edsom, um dos donos não dormiria mais em casa.
. Alguém que trabalha no Centro de Zoonoze, num programa de educação em saúde da Fundação Municipal de Saúde ( FMS ) junto as lideranças comunitárias do Bairro Porenquanto, proximidades do MEDUNA me informa que foram encontrados focos de dengue dentro do espaço do sanatório e nas proximidades onde a população vizinha acumula lixo.
Dengue e loucura se encontram... sempre digo que temos uma pandemia de transtornos mentais nesta cidade e a FMS só pensa na dengue. Imagina que já vi caso de paciente morrer de pneumonia dentro de hospital psiquiátrico depois de sessenta dias internado, paciente jovem, 36 anos, alcólico. Imagino que o Meduna tenha um clínico geral. Louco também contraí dengue. Esperemos o melhor para companheirada internada.
. Conheci um jovenzinho que usa Barbital? Serve para quê? Ele como a maioria dos pacientes não sabia seu diagnóstico, mentiu que estava no "corredor da espera" porque ia ao consultório do dentista. Péssimo poeta. Mas um gracinha de pessoa. Uma outra jovensinha, uma miss, acompanhada pela mãe, que amaldiçoava a medicação e também não sabia seu diagnóstico. Uma depressão revelou a mãe. A moça já usou respiridona, hoje usa haloperidol e clonazepan. Qual o diagnóstico? Não sei, mas os efeitos colaterais desses barras pesadas, realmente são amaldiçoados. Tadinha.

3 comentários:

Anônimo disse...

Só existe uma maneira de ajudar um louco, enfiando anti-psicotico e mandando fazer porta-caneta. Talvez depois disso consiga fazer terapia, e talvez depois disso tenha uma vida. Mas a maioria está condenado, cedo ou tarde tudo volta.

Todo o processo de remedio e terapia tanto psicanalitca como ocupacional ajudou em minha dificuldades, mas não sei ate quando o mundo despencara e tudo que me restar for apenas feito de areia.

LOUCA PELA VIDA disse...

Por que tenho um "sonho" que as neurociências podem descobrir a cura? Ou aprendamos, toda a sociedade viver com a psicose como condição de existência...

Flavinha Roberta disse...

conviver com a psicose eh condição fundamental para a qualidade de vida de todo mundo sejam eles e nós psicóticos ou naum!
Conviver, respeitar, naum repelir sem saber do que se trata, "abrir as cabeças"...difícil? Soh um pouquinho e no que depender de mim, bemmm pouquinho mesmo.
Abraço
=*

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.