Psiquiatra acusa reforma de atirar doentes para a rua, responsáveis negam
14 de Abril, 2013
O
psiquiatra Afonso de Albuquerque alega que o encerramento dos hospitais
psiquiátricos conduziu alguns doentes para as ruas, outros para lares
sobrelotados e antigos asilos, uma situação negada pelo coordenador
nacional para a saúde mental e pela Misericórdia de Lisboa.
Segundo
Afonso de Albuquerque, a reforma da saúde mental em Portugal, que prevê,
entre outras medidas, a redução dos internamentos e o fecho de
hospitais psiquiátricos, levou a que alguns doentes fossem "parar às
ruas, outros a lares sobrelotados e a antigos asilos que têm sido
reactivados, como é o caso do Pisão e da Mitra".
"Esta reforma tem
quase cinco anos, já encerraram o Hospital Miguel Bombarda, já
diminuíram bastante as camas psiquiátricas noutros hospitais e já se
entrou claramente nessa fase", sustentou o autor do livro "A
discriminação do doente mental no Ocidente".
Contactado pela
Lusa, o coordenador nacional da saúde mental, Álvaro Carvalho, negou
esta situação, afirmando que se isso acontecesse "não era uma reforma,
era um disparate".
"É uma pura fantasia, é o mínimo que posso
dizer", disse Álvaro Carvalho, lembrando que o Hospital Miguel Bombarda
foi encerrado há 18 meses, através de um "processo programado", e que
está a ser feita a avaliação da qualidade de vida dos doentes".
No
livro, Afonso de Albuquerque escreve que a Mitra, entregue em 2011 à
Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e actual Centro de Apoio
Social de Lisboa, "mantém perto de 300 internados, na sua maioria
doentes mentais crónicos e sem-abrigo".
A administradora da Ação
Social da SCML, Rita Valadas, refutou estas declarações, esclarecendo
que o centro "nunca teve 300 pessoas com problemas de saúde mental, nem
nunca foi uma resposta desse tipo".
Para Rita Valadas, o autor
"está muito deslocado da realidade social", ao referir-se a uma situação
dos anos 60, em que a Mitra funcionava de acordo com "uma legislação
que mandava retirar os pedintes da rua".
O centro transitou para a
Misericórdia como lar de idosos, embora acolhesse algumas pessoas com
uma problemática social sem resposta institucional, adiantou.
"O
problema que o centro teve para a Misericórdia foi não ter condições
físicas de resposta para albergar as pessoas que lá estavam", disse,
adiantando que, entretanto, todas as situações foram estudadas e
encontradas alternativas.
Neste momento, o centro acolhe cerca de 80 idosos dependentes, referiu a responsável.
O
coordenador para a saúde mental adiantou que 24 dos doentes que estavam
no Hospital Miguel Bombarda, alguns há mais de 30 anos, estão a viver
numa residência no Restelo, onde têm "uma qualidade de vida apreciável,
porque não estão num hospital e têm acompanhamento personalizado".
Houve ainda 20 doentes que recusaram ir para uma residência e foram transferidos para o Hospital Júlio de Matos.
Num
processo de reestruturação e de reintegração de alguns doentes na
comunidade, o Júlio de Matos transferiu pacientes para lares através da
Segurança Social, um dos quais foi encerrado por excesso de lotação.
Em
Maio de 2012, fechou o hospital do Lorvão, em Coimbra, tendo os doentes
mais graves sido transferidos para o hospital Sobral Cid e "os menos
graves" para uma associação em Miranda do Corvo e para a casa de Saúde
de Condeixa.
Sobre o aumento dos sem-abrigo com doença mental, o
coordenador afirmou que "é mentira", adiantando que o número dos
sem-abrigo oriundos de hospitais psiquiátricos é residual.
"São pessoas que passaram pelo hospital psiquiátrico, mas não é nenhum destes doentes", justificou.
Lusa/ SOL
A mesma história, psiquiatras manicomiais não acreditam na desinstucionalização e reinserção social de pacientes cronificados numa comunidade, em níveis mínimos de funcionalidade. Refortalecimento de laços sociais, resgate de vínculos, autonomia, vivência com a loucura com saúde mental. Em Portugal, como na China, Brasil e tantos outros países mundo afora, o louco ainda necessita de novos espaços sociais que o salve das grades dos manicômios e suas outras torturas à perda de identidade.
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