terça-feira, 16 de abril de 2013

E A REFORMA PSIQUIÁTRICA CHEGA EM PORTUGAL

Psiquiatra acusa reforma de atirar doentes para a rua, responsáveis negam

14 de Abril, 2013
O psiquiatra Afonso de Albuquerque alega que o encerramento dos hospitais psiquiátricos conduziu alguns doentes para as ruas, outros para lares sobrelotados e antigos asilos, uma situação negada pelo coordenador nacional para a saúde mental e pela Misericórdia de Lisboa.
Segundo Afonso de Albuquerque, a reforma da saúde mental em Portugal, que prevê, entre outras medidas, a redução dos internamentos e o fecho de hospitais psiquiátricos, levou a que alguns doentes fossem "parar às ruas, outros a lares sobrelotados e a antigos asilos que têm sido reactivados, como é o caso do Pisão e da Mitra".
"Esta reforma tem quase cinco anos, já encerraram o Hospital Miguel Bombarda, já diminuíram bastante as camas psiquiátricas noutros hospitais e já se entrou claramente nessa fase", sustentou o autor do livro "A discriminação do doente mental no Ocidente".
Contactado pela Lusa, o coordenador nacional da saúde mental, Álvaro Carvalho, negou esta situação, afirmando que se isso acontecesse "não era uma reforma, era um disparate".
"É uma pura fantasia, é o mínimo que posso dizer", disse Álvaro Carvalho, lembrando que o Hospital Miguel Bombarda foi encerrado há 18 meses, através de um "processo programado", e que está a ser feita a avaliação da qualidade de vida dos doentes".
No livro, Afonso de Albuquerque escreve que a Mitra, entregue em 2011 à Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML) e actual Centro de Apoio Social de Lisboa, "mantém perto de 300 internados, na sua maioria doentes mentais crónicos e sem-abrigo".
A administradora da Ação Social da SCML, Rita Valadas, refutou estas declarações, esclarecendo que o centro "nunca teve 300 pessoas com problemas de saúde mental, nem nunca foi uma resposta desse tipo".
Para Rita Valadas, o autor "está muito deslocado da realidade social", ao referir-se a uma situação dos anos 60, em que a Mitra funcionava de acordo com "uma legislação que mandava retirar os pedintes da rua".
O centro transitou para a Misericórdia como lar de idosos, embora acolhesse algumas pessoas com uma problemática social sem resposta institucional, adiantou.
"O problema que o centro teve para a Misericórdia foi não ter condições físicas de resposta para albergar as pessoas que lá estavam", disse, adiantando que, entretanto, todas as situações foram estudadas e encontradas alternativas.
Neste momento, o centro acolhe cerca de 80 idosos dependentes, referiu a responsável.
O coordenador para a saúde mental adiantou que 24 dos doentes que estavam no Hospital Miguel Bombarda, alguns há mais de 30 anos, estão a viver numa residência no Restelo, onde têm "uma qualidade de vida apreciável, porque não estão num hospital e têm acompanhamento personalizado".
Houve ainda 20 doentes que recusaram ir para uma residência e foram transferidos para o Hospital Júlio de Matos.
Num processo de reestruturação e de reintegração de alguns doentes na comunidade, o Júlio de Matos transferiu pacientes para lares através da Segurança Social, um dos quais foi encerrado por excesso de lotação.
Em Maio de 2012, fechou o hospital do Lorvão, em Coimbra, tendo os doentes mais graves sido transferidos para o hospital Sobral Cid e "os menos graves" para uma associação em Miranda do Corvo e para a casa de Saúde de Condeixa.
Sobre o aumento dos sem-abrigo com doença mental, o coordenador afirmou que "é mentira", adiantando que o número dos sem-abrigo oriundos de hospitais psiquiátricos é residual.
"São pessoas que passaram pelo hospital psiquiátrico, mas não é nenhum destes doentes", justificou.
Lusa/ SOL

 SOL

A mesma história, psiquiatras manicomiais não acreditam na desinstucionalização e reinserção social de pacientes cronificados numa  comunidade, em níveis mínimos de funcionalidade. Refortalecimento de laços sociais, resgate de vínculos, autonomia, vivência com a loucura com saúde mental. Em Portugal, como na China, Brasil e tantos outros países mundo afora,  o louco ainda necessita de novos espaços sociais que o salve das grades dos manicômios e suas outras torturas à perda de identidade.

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