quinta-feira, 6 de agosto de 2009

TRISTEZA

O Ninho está fazendo dois anos de existência este mês de agosto. Infelizmente temos uma triste constatação, as pessoas chegam até o grupo, ou vamos até elas e damos a ajuda possível. O esforço é que na sequência esta pessoa passe por dois momentos seguintes, aprendam a desenvolver estratégias pessoais de convivência com o transtorno, desenvolvendo capacidades de uma auto-ajuda e resiliência, "transformem a sua dor em competência", como diz Adalberto Barreto, criador da Terapia Comunitária, nesse processo consigam somar com o grupo no sentido da ajuda mútua. A maioria não passa do segundo momento e não fica no grupo. Trabalhamos visando a autonomia, não são obrigadas a ficar, mas constatamos que talvez não estejamos desenvolvendo em grupo uma visão política crítica das políticas públicas em saúde mental, conhecimentos que permitam a adesão a militância no movimento de usuários.
Uma característica do movimento de usuários em Teresina é a participação significativa de técnicos em saúde mental, estudantes das áreas afins e poucos usuários e quase nenhum familiar, sem prática mais contundente em mobilizações. Precisaríamos de um movimento de usuários fortalecido, capaz de fazer pressão e forçar negociações com gestores em relação a qualidade dos serviços ofertados. Não temos um CAPS III, dispositivo da Reforma para urgência e emergência psiquiátrica, daí continuarmos a mercê do plantão de urgência do HAA. Soube hoje através da gerência de Saúde Mental que houve negociação entre gestores municipais e estaduais para a abertura de mais dois CAPS II e nenhum CAPS III, levando-se em conta uma cultura já instituída em capitais que contam ainda com hospitais psiquiátricos a suplência dessa necessidade. Triste. Marcha Teresina já! Pena, que só quem ler este blog sejam técnicos, não são usuários. A maioria continua silenciosa, atrás de um atestado de normalidade. Constrangida, fingindo não me conhecer quando me encontra no consultório.
Tanta luta de pioneiros e corajosos trabalhadores e movimento da luta antimanicomial da década de 70 e um Ninho ainda com filhotes na casca do ovo, se constituíndo e nos deparamos com profissionais sem nenhum perfil para os serviços substitutivos, emendando as paredes dos manicômios derrubados ou seja reproduzindo por onde passam o inóspito, o cemitério dos vivos que são as práticas manicomiais. O manicômio está impregnado na cabeça, como cimento seco.

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PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.