quarta-feira, 17 de dezembro de 2008

HUMANIZA - SUS (Hospital Areolino de Abreu: Quem conhece ama)

O SURTO PSICÓTICO NÃO É ROMÂNTICO

A antipsiquiatria inglesa e americana que produziu Kingsley Hall e o Mito da Doença Mental de Szasz foram acusadas de romantizar a loucura. Mas plantaram sementes de uma nova forma de ver a loucura e suas outras formas de possibilidades além da doença. Nos tiraram dos "leprosários" da exclusão, pelo menos no plano das idéias que fabricaram sussessivas reformas na maneira de tratar o louco. Ficar completamente indignada com um curso de defesa e ataque em artes marciais para funcionários de um hospital psiquiátrico é porque já passei por lá e sei da violência e descaso como são tratados os loucos pobres, principalmente. Delirante, mas lembro vagamente de um homem negro tocava-me os seios e eu o confundia com meu pai. Não posso afirmar 16 anos depois se era um funcionário ou outro paciente. Sai dos dois manicômios da cidade com os pulsos roxos das cordinhas de amescla ou jeans que confeccionam as tiras de contenção. Passei dezoito dias apenas de crise aguda. Agredia pessoas, ficava nua. Louca clássica. Os sintomas depois das medicações se tornam moderados, leves e finalmente entram em remissão. Como plantonista de Serviço Social uma paciente me deu um tapa no rosto. Lúcida, tempos depois me encontrou na rua e me pediu desculpas.
Ora, novamente o que se tem que questionar é a função terapêutica do hospital psiquiátrico, passe um dia preso num pavilhão com grades e veja se você se manterá calmo, ocioso, só vendo paredes brancas e uma televisão velha. Observe o tempo que cada profissional passa dentro do hospital e os que mais tempo permanecem não percebem as evasões persistentes, várias vezes do mesmo paciente, como minha pesquisa mostrou. É a principal ocorrência no cotidiano do plantão do Serviço Social na urgência e emergência do HAA.
O curso que alguns deveriam está fazendo, já me informaram que já houve uma formação desta, seria da contenção humanizada. Vá hoje na emergência deste hospital que você verá pacientes chegarem amarrados com cordas ou algemados pelos parentes, com os braços para trás. Na minha época se continha na forma crucificada. Muito doloroso.
O hospital continua a produzir dupla cronicidade de um modo de ver a pessoa que vive com transtorno mental, o ser periculoso e incapaz. Crônico e violento, não se tenta nenhuma medicação nova. Desde 2001 mantenho estreita relação com o hospital, posso afirmar que alguns pacientes ainda jovens estão amadurecendo por lá. Se formos observar seus prontuários ( F.20), duvido que a medicação tenha sido mudada com continuidade de tentativas interessadas pelo médico no sentido de melhoras para essas pessoas. Psicoterapia de qualidade, nem pensar, psicólogo cognitivo por lá não conheço nem um. Se tem é invisível, porque fuço, viu!
Por experiência de "louca violenta" afirmo que com seis dias de medicação manicomial não se bate nem em uma flor... para suavizar o relato.

Um comentário:

Anônimo disse...

Não bater, violência como forma de terapia. Mas o profissioanal tem que estar preparado para tal coisa, um dia ele levara um soco e como reagir a isso? Ou tera que separar uma briga e como fazer? Revido, imobilizo, fingo que não vi ou entope o sujeito com diazepam? Isso se torna parte do stress, mas podemos deixar os pacientes em casa, tentar medica-los em casa. O fato é que a pessoa tem que aceitar o tratamento, mas e nos casos crônicos? Assistimos a pessoa amada deteriorar-se, como numa especie de cancer mental ou deixamos em algum lugar onde possa ter tratamento especial nem que seja a força? É um mundo triste, nada bonito e que a superação muitas vezes não ocorre. Isso gera um descontetamento da familia, de profissionais e da sociedade. Nem todo o amor do mundo e muitas vezes nem o melhor remedio do mundo resolve, aceitaremos ainda sim essa pessoa como ela é?

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.