Trabalhando há quase um ano em Araripina,
região do Sertão do Araripe Pernambucano,
fronteira com o Piauí, tenho me assustado com a quantidade de suicidios
em todas as faixas etárias, principalmente na zona rural. Conversando com os
moradores da região, soube que esses fatos são recentes, a população anda
assustada. Com o olhar de pesquisador-interventor-louco, que aprendi com a Professora Lucia Rosa resolvi me envolver
mais ainda nessa dinâmica.
Não precisou muitas conversas/entrevistas
para desconfiar do motivo de tantos suicídios: omissão por parte do Estado com relação a estiagem que tanto assolou/assola
o sertanejo nos últimos anos. Vejamos a fala de uma senhora que o marido se
suicidou sem setembro deste ano “Toda vez que um boi morria, meu marido não
dormia e chorava muito (...) ver os meninos meus netos sem o comer dói na gente
(...) minhas lagrimas também secou” (Moradora do Povoado Sitio Lagoa do Barro –
Araripina-PE). A morte está presente em vários aspectos e sentidos: morre a
esperança, morre o gado, morre a vegetação, crianças morrem.
Vendo de perto essa realidade me questiono
a respeito do mito que foi criado de que nós nordestinos somos fortes por
natureza, mito esse que reforça o descaso com o sofrimento vivenciado por esse
povo. Por enquanto nada de pratico tem
sido feito além da doação de caixões para as famílias enterrarem seus entes.
Sei também que vem acontecendo o mesmo na
região de Picos-PI, já aconteceu de uma
família inteira se suicidar no mesmo dia na Zona Rural de Marcolândia-PI. E a
realidade é que não vemos nenhuma matéria jornalística, os suicídios sendo
registrados como “morte suspeita”, descaso de todas as esferas governamentais.
Pra você que está
lendo esses poucos parágrafos pode parecer que estou fazendo uma associação
equivocada, não sou eu que estou dizendo, são os sujeitos dessa realidade cruel
devastadora material e emocionalmente, tendo seus direitos fundamentais e à
vida negados, falta quase tudo. Falta água, comida, remédios e assim vai, fé e
esperança somente nos santos padroeiros. “Criei meus filho pro mundo, pra vida,
sabe (...) enterrei dois já (...) agora que a agonia é maior (...) esperar em
Deus e Nossa Senhora né?” (Morador do Distrito de Nascente, entre Araripina-PE
e Trindade-PE).
Ailton Emerson Moura Ferreira
Assistente Social do Tribunal de Justiça do
Estado de Pernambuco, lotado na Vara da Infância e Juventude de Araripina-PE.
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