Uma nova crise sempre é possível. O surto é apenas o pico desta, o olho do furacão. Lá tem 19 anos e enfrenta sua segunda crise aguda. Branca, magra, longos cabelos negros, não perde totalmente a lucidez, a primeira impressão em crise é apenas de uma jovem problemática. Há menos de um ano,esteve na urgência do HAA a primeira vez, voltou horas depois, após uma tentativa de suicidio e auto mutilação, arranhou-se bastante com as próprias unhas. Dessa vez como da primeira, veio para casa sedada, nos braços. Entre a primeira e esta segunda agudição, houve uma remissão de sintomas, daqueles que marinheiros de primeira viagem acham que estão totalmente curados: familia e paciente.
Não adiantaram nossos conselhos para que esta mantivesse consultas regulares com o psiquiatra para manutenção do seu bom estado de saúde. O urgentista apenas receitou um estabilizador de 500 mg e a moça continua logorréica, inquieta, fazendo tantas bizarrices que até os cães e gatos da casa estão inquietos. A cuidadora descompensando junto, senhora de mais de 50 anos, deu-lhe uns tapas para que ela aceitasse a medicação das vinte horas. Não a culpo.Fico apenas muito preocupada. Penso se não teria sido melhor uma internação integral de poucos dias. Mas no hospital psiquiátrico não é assim. Lidar com paciente em crise é muito dificil para todos dentro de casa. Final de semana, o CAPS do território é longe para familia, o HAA também. Um leito no hospital geral perto de casa seria o ideal.
Como sempre fica a constatação que somos institucionalmente abandonados, que gestores não se interessam e nem seus comandados em resolver, intermediar soluções previstas em conferências, algumas que já viraram leis através de portarias. Necessário apenas a coragem e o compromisso de cumprí-las.
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