quarta-feira, 28 de março de 2012

ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM TERESINA: A INSERÇÃO SOCIAL PELO TRABALHO

Olá colegas da saúde mental, técnicos, usuários, familiares e simpatisantes da causa antimanicomial

Ainda no inicio de março passei por outros motivos no CAPS sudeste, mas convidei seus técnicos nas pessoas da a.s. Didata e enfermeira Marta a nos mobilizarmos para fazermos um seminário de um dia, ou mesmo apenas uma manhã, pela passagem do 18 de maio, uma sexta-feira, com o tema: ATENÇÃO PSICOSSOCIAL EM TERESINA: A INSERÇÃO SOCIAL PELO TRABALHO, pensei em  palestras com técnicos do SEBRAE, SASC e SINE, uma mesa redonda com representantes do AVAP, CEREST (médico trabalhista), CONEDE (conselho estadual da pessoa com deficiência), Fazenda da Paz e um representante da FMS (questão da flexibilidade da marcação de consulta nos ambulatórios facilitando a vida do usuário reabilitado trabalhador no acesso a sua consulta de manutenção e prevenção a crise).
Peço ajuda e sensibilização a todos que fazem a atenção psicossocial em Teresina para o sucesso da Rede de saúde mental que é a articulação via CAPS para resultados sociais positivos que seria esta entrada no mercado de trabalho da pessoa que vive com transtorno mental, com funcionalidade produtiva e protegida por esta mesma rede em possibilidades de fracasso.
Com esperança de criarmos juntos ou as/os colegas da FMS e CAPS fazerem. O Ninho não tem a mínima possibilidade de fazer este evento totalmente relevante para centenas de usuários reabilitados psicossocialmente.
Edileuza Lima
Email enviado em 27 de março para vários endereços de companheiros/as que fazem a rede de saúde mental em Teresina. Somente uma resposta de uma simpatisante de nosso trabalho, Edna Carla. Reenviei novamente hoje, há pessoas muito ocupadas que passam alguns dias sem abrir emails. Espremos que seja o caso e tenhamos sorte que ao publicizar nosso desejo de realizar o evento com a temática da inserção social da PCTM no mercado de trabalho, os leitores comentem e consigamos apoio.

HOMOAFETIVIDADE JUVENIL E SAÚDE MENTAL

Preconceito pode afetar saúde mental de adolescente homossexual, aponta tese

Pesquisa da Unicamp revela que fatores culturais podem fazer com que adolescentes com orientação homossexual tenham a saúde mental mais fragilizada que adolescentes heterossexuais. De acordo com a psicóloga Daniela Barbetta Ghorayeb, autora da tese “Homossexualidades na adolescência: saúde mental, qualidade de vida, religiosidade e identidade psicossocial”, orientada pelo professor Paulo Dalgalarrondo, o preconceito sofrido pelos adolescentes está entre um dos fatores de risco para a saúde mental. “Não podemos dizer que o preconceito é causa determinante de pior saúde mental, mas o identificamos como fator de risco”, diz Daniela.
A reportagem é de Maria Alice da Cruz e publicada pelo Jornal da Unicamp, 26 de março a 8 de abril de 2012.

A psicóloga acrescenta que uma das finalidades desse estudo, assim como de outros dois, de mesmo desenho, desenvolvidos no Laboratório de Saúde Mental e Cultura da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, é avaliar o impacto da discriminação na saúde mental de sujeitos de orientação homossexual.

De modo geral, 40% dos adolescentes homossexuais manifestaram prevalência de transtornos mentais, contra 20% do grupo controle. O transtorno depressivo maior e o risco de suicídio estão entre os fatores preocupantes para os especialistas. De acordo com os resultados da pesquisa, obtidos em entrevistas realizadas com adolescentes selecionados por Daniela, 35% dos sujeitos que se identificaram como homossexuais apresentaram transtorno depressivo maior em algum momento da vida. Entre entrevistados do grupo controle (heterossexuais), apenas 15% apresentaram depressão. Quanto ao risco de suicídio, 10% dos adolescentes homossexuais demonstraram tendência em algum período da vida. Daniela esclarece que o grupo controle é pareado por idade, escolaridade e gênero.

Se a formação da identidade naturalmente é algo complexo ao longo da adolescência, quando vem acompanhada de temor ao preconceito e às dificuldades nas relações sociais, pode tornar-se uma fase de sofrimento. De acordo com Daniela, especialista no atendimento a adolescentes, a busca por serviços de saúde mental é maior (62,5%) entre adolescentes homossexuais. “O problema se acentua com as mudanças naturais ocorridas nesta fase da vida”, salienta. Mesmo apresentando uma porcentagem menor, a procura por cuidados especializados também é grande entre adolescentes heterossexuais (47,5%), conforme a pesquisa. Ela explica que quando decidiu estudar a homossexualidade na adolescência, partiu primeiramente da reflexão sobre a sexualidade nesta fase da vida de maneira geral. A transformação do corpo da infância para a adolescência representa uma série de ganhos, mas também perdas e conflitos, como um sentimento de perda da condição infantil, segundo a pesquisadora.

Num estudo anterior, realizado com adultos de orientação homossexual, Daniela descobriu que o impacto do preconceito na saúde mental é diferente entre homens e mulheres. Na própria cultura brasileira, o contato afetivo entre mulheres é visto com naturalidade, mas entre homens, sejam homo ou heterossexuais, o afeto é visto com preconceito. “Em nossa cultura, a proximidade física entre mulheres é vista como expressão de carinho apenas. Há uma relação mais afetiva. Quando se pensa em duas mulheres juntas é como se aquilo não fosse tão escandaloso. Existe uma tolerância maior do que em relação aos homens”, explica.

Família

O acolhimento do adolescente homossexual por parte da família funciona como fator de proteção em relação ao preconceito. “É importante que a família aceite a diferença sem julgar, pois o adolescente que tem respaldo familiar pode sofrer menos fora de casa. Não se sente desconstruído como sujeito”, explica Daniela.

Por outro lado, muitos manifestam o medo de a família sentir-se envergonhada por conta da orientação sexual. Quando decidem se assumir para a família, os adolescentes podem experimentar sentimento de menos valia, de acordo com o recente estudo. A psicóloga observou que 35% internalizam o sentimento de vergonha da orientação sexual a partir da suposição de que o outro está sentindo vergonha deles. “Eles tomam para si a vergonha que supõem causar no outro. Isso é chamado de internalização da homofobia. Assim como internalizamos coisas positivas e negativas que vêm das relações que estabelecemos, seja em família ou num grupo social. No sentido do preconceito, é como se a violência própria da homofobia se tornasse uma marca que pode fazer com que o sujeito sinta-se sempre à margem, rejeitado”, explica.

Especialistas falam em geração pós-gay
Quem se dispõe a estudar adolescentes tem de estar preparado para surpresas, na opinião de Daniela. Nas entrevistas, um número grande dos entrevistados se recusou a responder sobre sua orientação sexual, por não quererem ser enquadrados em nenhum grupo. Segundo a psicóloga, eles são de uma geração que não aceita mais ser rotulada como gay, bissexual, homossexual, heterossexual, mas sim ser tratada como João, Maria, Beatriz, seja qual for o nome de batismo. Segundo o especialista inglês Philip Hammack, estudado por Daniela, esses adolescentes representam a geração “pós-gay”, que, ao contrário de adultos com orientação homossexual, não têm a sexualidade como o cerne de suas identidades.

“Esses adolescentes vivem numa atualidade que nos apresenta muitos e novos elementos no desenvolvimento e constante transformação da identidade. Como fator marcante tem-se a internet, por exemplo, que é um dos leques que se abrem”, declara Daniela. Para ela, do ponto de vista do desenvolvimento sexual e da liberdade de experimentação, as transformações da cultura constituem uma nova visão de mundo.

A psicóloga espera que os resultados de seu trabalho, armazenados em um banco de dados eletrônico, sirvam para entender os fatores que afetam a saúde mental dos adolescentes, minimizar preconceitos e estereótipos e valham como motivação para o desenvolvimento de futuros estudos. Segundo a psicóloga, a linha de trabalho do laboratório de Saúde Mental e Cultura lança mão de diversas áreas de conhecimento, como a antropologia social, integrando teorias e pesquisas, demonstrando com clareza a dialética que existe entre a formação do sujeito, sua saúde mental e sua inserção na sociedade.

Daniela pontua que a homossexualidade foi tirada completamente do manual de classificação de transtornos mentais em 1986. “É assunto ainda difícil de tratar. Porque há pouco tempo, a ideia era outra”, reflete. Ela estima a necessidade de algumas décadas para que haja a mudança de paradigmas na sociedade, pois a psiquiatria brasileira ainda está no início de seus estudos associando saúde mental de homossexuais a fatores culturais. Em apresentação dos resultados do doutorado na Escócia e na Inglaterra, a pesquisadora observou a naturalidade dos especialistas ao se referir à homossexualidade. “O discurso deles flui de forma menos estigmatizada. No Reino Unido, há muita pesquisa sobre o assunto, então isso muda tudo. Ao contrário do que acontece no Brasil, as reações são diferentes quando se fala sobre o assunto”, reforça.

Para ela, o conhecimento sobre as questões já diminui a ignorância e fornece para as pessoas a chance de repensar aquilo que tinham em mente. O trabalho é importante não só para psicólogos ou psiquiatras, mas para todos os profissionais de saúde, que, conhecendo melhor essa população, podem cuidar melhor do paciente, na opinião da autora da tese. “Tendo informações e quebrando seu próprio preconceito em relação a essa população, este profissional tem condições de realizar o cuidado de forma mais sensível e completa”, deseja Daniela.


Instituto Humanitas

sábado, 24 de março de 2012

SAÚDE MENTAL E EDUCAÇÃO INCLUSIVA: GRANDE NECESSIDADE

23/03/2012 - 13:59

Evento reúne grandes nomes da Saúde e da Educação

Estão abertas as inscrições para o IX Congresso de Psicopegagogia realizado pela ABPp – Associação Brasileira de Psicopedagogia – que, nesta edição, ocorre em parceria como o Projeto Cuca Legal da Unifesp - Universidade Federal de São Paulo, somando ao encontro o I Simpósio Internacional de Neurociências, Saúde Mental e Educação. Entre os dias 5 e 8 de julho, em São Paulo, renomados palestrantes, brasileiros e estrangeiros, vão debater e compartilhar conhecimento em torno do tema central: ”Diálogos entre Neurociências, Saúde Mental e Educação”.
Com uma grade de palestras, conferências, oficinas e colóquios criteriosa e competente, o evento dará ainda a possibilidade de apresentação de trabalhos científicos .
Alicia Fernandez, Claudia Costin, Linamara Rizzo Battistella e Yves de La Taille são alguns dos grandes nomes que estarão presentes. A inscrição pode ser feita on-line, com descontos especiais.
.[ Evento: IX Congresso de Psicopegagogia, de 0 5 a 08 de julho, naUNIP - Campus Paraíso - Rua Vergueiro, 1211 - Paraíso - São Paulo – SP (entre as estações do metrô Vergueiro e Paraíso).Programação e informações : http://www.congressoabpp2012.com.br| http://www.cgceducacao.com.br/].

segunda-feira, 19 de março de 2012

MILITÂNCIA ANTIMANICOMAIL



Nestes últimos meses estou muito envolvida com com meu trabalho de Serviço Social numa escola do município, acompanhamento a minha filha surda pré adolescente que ler as primeiras palavrinhas, a luta pela garantia de seu bilinguismo, o domínio da língua de sinais e o português oralizado. Sou bastante criticada na comunidade surda, onde visivelmente há uma supervalorização da mudez e o uso de sinais. Bem, tenho idéias e as defendo, concretizo-as. Mirra Camille está oralizando, usando as LIBRAS e finalmente lendo, mesmo que pouquinho ainda.
O ativismo na luta antimanicomial precisou de uma certa parada. Mas, para tomar fôlego, não adoecer com excessos de atividades e  exposição a situações de estresses. Definitivamente não há um movimento de usuários forte, resistente, capaz de encarar o governo atual e sua forma de fazer saúde mental, populista, de promessas que não se cumprem e distância total da vocação psicossocial da Reforma Psiquiátrica Brasileira. Apesar de ter super poderes resolvi não mudar o mundo sozinha, afinal sou socialista.

Tornando-me por força das circunstâncias, uma cuidadora "integral", as senhoras me procuram até porque sentem dores nas pernas. E hoje passei no MP para tentar viabilizar exames da medula ossea, os quais o SUS não paga em alguns laboratórios teresinense para uma amiga do Ninho. Dra. Cláudia Seabra gentilmente sai de sua sala e vamos lá esmiuçar talvez mais de cem páginas de processos relacionados a saúde mental, processos administrativos instalados a pedido do Ninho: tomei ciência formalmente, mas continuo não concordando com a reforma do prédio do CAPS i, em vez de sua retirada de dentro do HAA, só memorizei rápido na planta baixa, a construção de um muro de separação e a construção de play ground. Imaginei meus "mateuzinhos" sapecas com diagnósticos de retardo mental, mas que lêem, são curiosos, inquietos, adoram  subir em árvores, muros, voar literalmente numa bicicleta sem dono ... um playzinho é bobagem!!! O restante da planta, para não me considerarem sempre do contra, é de um serviço médico psiquiátrico tradicional, com espaço para terapia ocupacional, consultórios e até repouso, não lembro se havia de dois tipos: para profissionais e usuários.
Não só critico, procuro fazer buscando as parcerias sensíveis a causa do diagnóstico e reabilitação precoce às crianças TGDs, dentre elas as psicóticas. Tentamos mais uma vez em 13 de abril mais um encontro intersetorial entre educação, assistência social e saúde. O encontro acontecerá no auditório da SEMEC. Mais uma vez enviaremos convite a saúde mental do Estado  ( CAPS i) que não compareceu ainda a nenhum destes diálogos.


Dr. Edwirton, diretor clínico do HAA e presidente da Associação Piauiense de Psiquiatria, jovem profissional, também trabalhador da atenção psicossocial me informa por email entre outras preocupações comuns sobre a capacitação às equipes de hospitais gerais sobre a implementação de leitos psiquiátricos em seus espaços, segundo nova portaria 140/12, a qual não conheço o texto. Mas desde a IV Jornada de Saúde Mental de 2002, a temática já era sobre a implantação destes leitos, numa época que os CAPS ainda não haviam chegado por aqui. Ele me afirma que alguns profissionais "híbridos", do HAA e CAPS é que comporão a equipe multiprofissional de treinamento. Só questiono e acho que todos nossos bons profissionais sairiam ganhando seria com a vinda de um técnico do MS que pensou a portaria.
O profissional pelo qual tenho bastante respeito e carinho tem se esforçado para tornar mais "confortável" a estadia integral do usuário no HAA. Aceitarei o convite para conhecer algumas melhorias nas enfermarias. E apoio sua tenacidade em questionar junto ao MP a questão da internação compulsória, via documento expedido por juízes fazendo do hospital verdadeiro manicômio judicial. Nó da Reforma Psiquiátrica, o que fazer com o louco infrator?


Por último, lembrando de ações que não fazemos mais, por falta de voluntários ou seja profissionais capacitados para a intervenção: Onde anda Caroline, socióloga, ex paciente do Meduna, que ela adorava ( tem que aceitar), delirante todas às vezes que a visitei. Perdi-a de vista. Que esteja bem, estabilizada, junto aos familiares, amigos cuidadores... que o Deus que protege os loucos, a acompanhe sempre.

domingo, 18 de março de 2012

O CONTROLE PSIQUIÁTRICO DA DISSIDÊNCIA

Comportamento anti-autoritário, que recomenda avaliar poder antes de respeitá-lo, pode estar sendo reprimido desde a infância por diagnósticos e medicamentos questionáveis
Por Bruce E. Levine, em Alternet | Tradução: Antonio Martins | Imagem: Rico Gatson, O Grupo
Em minha carreira como psicólogo, falei com centenas de pessoas antes diagnosticadas por outros profissionais como portadoras de Transtorno Desafiador de Oposição (TDO), Transtorno do Déficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH), Transtorno de Ansiedade e outras doenças psiquiátricas. Estou chocado por dois fatos: 1) quantos destes pacientes são, em essência, anti-autoritários; 2) como os profissionais que os diagnosticaram não o são.
Os anti-autoritários questionam se uma autoridade é legítima, antes de levá-la a sério. Sua avaliação de legitimidade inclui avaliar se as autoridades sabem de fato do que estão falando; se são honestas; e se se preocupam com aqueles que as respeitam. Quando anti-autoritários avaliam uma autoridade como ilegítima, eles desafiam e resistem a seu poder. Certas vezes, de forma agressiva; outras, de forma agressivo-passiva. Às vezes, com sabedoria; outras, não.
Alguns ativistas lamentam como parecem ser poucos os anti-autoritários nos Estados Unidos. Uma razão pode estar em que muitos anti-autoritários são psico-diagnosticados e medicados antes de formarem consciência política a respeito das autoridades sociais mais opressoras.
Por que profissionais de Saúde mental veem anti-autoritários como portadores de distúrbios mentais
Conquistar aceitação nas escolas superiores ou de especialização de medicina, e obter um doutoramento ou pós-doutoramento como psicólogo ou psiquiatra, significa superar muitos obstáculos. Requer adequar-se comportamentalmente a autoridades – inclusive aquelas pelas quais não se tem respeito. A seleção e socialização dos profissionais de saúde mental tende a excluir muitos anti-autoritários. Graus e credenciais são, antes de tudo, atestados de adequação. Quem estendeu seus estudos, viveu longos anos em um mundo onde é preciso conformar-se rotineiramente com as exigências de autoridades. Por isso, para muitos doutores e pós-doutores em saúde mental, pessoas diferentes, que rejeitam esta adequação comportamental, parecem ser de outro mundo – um mundo diagnosticável.
Descobri que a maior parte dos psicólogos, psiquiatras e outros profissionais de saúde mental não são apenas extraordinariamente adequados às autoridades – mas também inconscientes da magnitude de sua obediência. Também tornou-se claro para mim que o anti-autoritarismo de seus pacientes cria enorme ansiedade entre estes profissionais, o que impulsiona diagnósticos e tratamentos.
Na universidade, descobri que para ser rotulado como alguém com “problemas com autoridade”, bastava não bajular um diretor de treinamento clínico cuja personalidade era uma combinação de Donald Trump, Newt Gingrich e Howard Cosell. Quando alguns professores me disseram que eu tinha “problemas com autoridade”, reagi ao rótulo com sentimentos contraditórios. Por um lado, achei interessante, porque entre os filhos de trabalhadores, com quem havia crescido, eu era considerado de certa forma obediente à autoridade. Além disso, eu tinha feito minhas lições de casa, estudado e recebido boas notas. Entretanto, embora os meus novos “problemas com autoridade” deixassem-me alegre, por ser agora visto como um bad boy, também me preocupava com o tipo de profissão em que estava entrando. Mais especificamente, se alguém como eu era visto como tendo “problemas com autoridade”, como seriam chamados os garotos com quem cresci – atentos a tantas coisas que lhes interessavam, mas não suficientemente interessados com a escola para obedecê-la? Logo a resposta tornou-se clara.
Diagnósticos de doença mental para anti-autoritários
Um artigo de 2009 no Psychiatric Times, intitulado “TDO e TDAH: Enfrentando os Desafios do Comportamento Disruptivo”, relata que os “transtornos disruptivos”, uma categoria que inclui o Transtorno do Deficit de Atenção / Hiperatividade (TDAH) e o Transtorno Desafiador de Oposição (TDO), são os problemas de saúde mental mais comuns em crianças e adolescentes. O TDAH é definido por baixa atenção e tendência à distração; baixo alto-controle, impulsividade e hiperatividade. Já o TDO é definido como “um patrão de comportamento negativista, hostil e desafiante, sem as violações mais sérias dos direitos básicos de outros vistas no transtorno de conduta”. Os sintomas do TDO incluem “desafiar ativamente, ou recusar-se a obedecer com frequência as ordens e regras dos adultos” e “discutir frequentemente com adultos”.
O psicólogo Russel Barkley, uma das grandes autoridades da saúde mental mainstream em TDAH, diz que os que padecem deste mal têm déficits no que chama de “comportamento regrado”, já que são menos obedientes às regras das autoridades estabelecidas e menos sensíveis às consequências positivas ou negativas. Pessoas jovens com TDO também têm, segundo as autoridades do mainstream, os tão falados déficits em comportamento regrado. Por isso é tão comum, entre jovens, um “duplo diagnóstico” de TDAH mais TDO.
Realmente queremos diagnosticar e medicar todos os que têm “déficit em comportamento regrado”?
Albert Eisnten, quando jovem, teria provavelmente recebido um diagnóstico de TDAH, e talvez também de TDO. Ele não prestava atenção em seus professores, fracasou duas vezes nos exames de admissão à escola secundária e tinha dificuldades em conservar empregos. No entanto, Ronald Clark, um biógrafo de Einstein (Einstein: The Life and Times), sustenta que seus problemas não provinham de déficits de atenção, mas de seu ódio à disciplina autoritária, prussiana de suas escolas. Einstein dizia: “Os professores da escola primária pareciam-me sargentos e os do ginásio eram como tenentes”. Aos 13, ele leu o difícil Crítica da Razão Pura, de Kant – por estar interessado no livro. Clark também conta que Einstein recusava-se a se preparar para os exames de admissão ao ensino médio: era uma forma de rebelião contra o “intolerável” caminho exigido por seu pai, rumo a uma “profissão prática”. Depois que ele finalmente ingressou, um professor disse-lhe: “Você tem um defeito: ninguém pode te dizer nada”. As características particulares de Einstein, que tanto espantavam as autoridades, eram exatamente as que lhe permitiram destacar-se.
Para os padrões atuais, Saul Alinsky, o legendário organizador social autor de Regras para Radicais, teria sido certamente diagnosticado com um ou mais transtornos disruptivos. Rememorando sua infância, ele afirmou: “Eu nunca pensava em caminhar na grama até que via uma placa dizendo: ‘Não pise na grama’. Então, eu sapateava em cima dela”. Alinsky também recorda de uma ocasião, quando tinha 10 ou 11 anos, e seu rabino ensinava-lhe hebraico.
“Certo dia, li três páginas sem erros de pronúncia, e de repente uma moeda caiu sobre a Bíblia… No dia seguinte, o rabino voltou e me pediu para começar a ler. Simplesmente sentei em silêncio, recusando-me. Perguntou-me por que estava tão quieto e respondi: ‘Desta vez, é uma nota ou nada’. Ele começou a me bater”.
Muitas pessoas com ansiedade severa e ou depressão também são anti-autoritárias. Uma grande dor em suas vidas, que alimenta sua ansiedade e ou depressão, é o temor de que o desprezo a autoridades ilegítimas as torne social e financeiramente marginalizadas. Porém, também temem que a obediência a tais autoridades cause-lhes morte existencial.
Também empreguei muito tempo com pessoas que, numa época de sua vida, tiveram pensamentos e comportamentos bizarros a ponto de serem assustadores, para suas famílias e para si mesmas. Tinham diagnósticos de esquizofrenia e outras psicoses, mas se recuperaram e desfrutaram, por muitos anos, vidas produtivas. Neste grupo, nunca encontrei ninguém que não considerasse um grande anti-autoritário. Assim que se recuperaram, aprenderam a direcionar seu anti-autoritarismo para fins políticos mais construtivos – inclusive a reforma do sistema de saúde mental.
Muitos anti-autoritários que em fases anteriores de suas vidas tiveram diagnósticos de doenças mentais relatam que, ao serem rotulados como pacientes psiquiátricos, entraram num dilema. Autoritários exigem, por definição, obediência sem questionamentos. Por isso, qualquer resistência a seus diagnósticos e tratamentos causa enorme ansiedade em profissionais de saúde mental com este tipo de postura; e médicos que se sentiam descontrolados rotulavam estes pacientes como “refratários a tratamento”, expandindo a severidade do diagnóstico e entupindo-os de medicação. Às vezes, isso enraivecia de tal modo os anti-autoritários que sua reação os fazia aparecer ainda mais assustadores para suas famílias.
Há anti-autoritários que usam drogas psiquiátricas para ajudá-los a funcionar. Ainda assim, frequentemente rejeitam as explicações das autoridades psiquiátricas sobre quais são suas dificuldades. Podem, por exemplo, tomar Adderall (uma anfetamina prescrita para TDAH). Mas sabem que seu problema de atenção não resulta de um desequilíbrio bioquímico do cérebro, mas de um trabalho enfadonho. Da mesma forma, muitos anti-autoritários submetidos a ambientes muito estressantes podem ocasionalmente tomar benzodiazepínicos como Xanax. Pensam que seria mais seguro usar maconha, mas os testes de drogas existentes nas empresas a detectariam…
Minha experiência sugere que muitos anti-autoritários rotulados com diagnósticos psiquiátricos não rejeitam todas as autoridades, mas apenas aquelas que avaliam como ilegítimas. Ocorre que nessa categoria poderia ser enquadrada boa parte das autoridades, em nossa sociedade…
Agindo para manter o Status Quo
Os norte-americanos têm sido convencidos a considerar desatenção, raiva, ansiedade e desespero imobilizante como condições médicas – e a procurar tratamento farmacológico, em vez de soluções políticas. Haveria meio melhor de manter o status quo do que ver em tais reações problemas de quem está mentalmente enfermo – e não atitudes normais, diante de uma sociedade cada vez mais autoritária?
A realidade é que a depressão está altamente associada com dores sociais e financeiras. É muito mais provável tornar-se deprimido quando você está desempregado, subempregado ou em dívida (ler “400% Rise in Anti-Depressant Pill Use”). E é inegável: crianças rotuladas como portadoras de TDAH prestam atenção quando estão sendo recompensadas, ou quando uma atividade é nova, desperta seu interesse ou foi escolhida por elas (documentado em meu livro Commonsense Rebellion).
Numa idade das trevas anterior, as monarquias autoritárias associavam-se às instituições religiosas. Quando a humanidade superou esta fase e abriu-se o Iluminismo, houve uma explosão de energia. Muito da revitalização tinha a ver com arriscar-se diante de instituições autoritárias e corruptas; e com reconquistar confiança na própria mente. Vivemos uma nova era de trevas: mudaram apenas as instituições. Os EUA necessitam desesperadamente de anti-autoritários para questionar, desafiar e resistir às novas autoridades ilegítimas; e para reconquistar confiança em seu próprio senso comum.
Em todas as gerações, há autoritários e anti-autoritários. Embora seja incomum, na história dos EUA, que os anti-autoritários adotem ações efetivas, capazes de inspirar os demais à revolta que resulta em mudanças, de vez em quando um Tom Paine, Crazy Horse ou Malcolm X aparece. Então, os autoritários marginalizam financeiramente quem resiste ao sistema, criminalizam o anti-autoritarismo, psico-diagnosticam os anti-autoritários e produzem drogas de mercado para sua “cura”.

Bruce E. Leving (site: 
www.brucelevine.net) é psicólogo clínico nos EUA, há cerca de três décadas. Conhecido por suas posições anti-hegemônicas, escreve e debate sobre as intersecções entre Sociedade, Política, Cultura e Psicologia. É autor, entre outros livros, de Commonsense Rebellion (2003), Surviving America Depression Epidemic(2007) e Get Up, Stand Up: Uniting Populists, Energizing the Defeated, an Battling the Corporate Elite (2011).

Enviado há alguns dias por Ricardo Cruz, estudante de Psicologia, mais um parceiro de atividades do Ninho. Bom texto, só acrescento que o  cuidado que temos que ter com a Psiquiatria é o mesmo com a antipsiquiatria, que nega de forma absoluta a doença mental.

sábado, 17 de março de 2012

NÃO SOU FELIZ... E AGORA?

Boa tarde!

O psicólogo Estêvão Bittar acaba de lançar, pela Editora Imagine, o livro "Não Sou Feliz... E Agora?". 

Apesar do título que remete a livros de auto-ajuda, esta produção é  baseado em pesquisas recentes no campo das neurociências, da psicologia
comportamental e da genética e o texto é na verdade uma grande crítica à "indústria da felicidade" que nos hipnotiza (psicofármacos, livros de auto-ajuda, terapias alternativas, consumo exacerbado, etc) e nos impede de alcançar nossos objetivos.

Acredito que livro pode ser utilizado na clínica como recurso de biblioterapia, pois aborda temas muito corriqueiras na psicoterapia: depressão, ansiedade, psicofármacos, felicidade, estresse e outras questões pertinentes.

Quem tiver interesse em saber mais sobre o livro, visite este site:
http://www.editoraimagine.com.br/livro_felicidade.html

Abraço a todos!

Anderson de Moura Lima
Psicólogo - CRP:11/04660
Teresina - Piauí - Brasil
 
Nosso parceiro, Anderson atua no CAPS sudeste. Grande abraço pela contribuição sempre.

quarta-feira, 14 de março de 2012

III CONGRESSO BRASILEIRO DE SAÚDE MENTAL: PRORROGAÇÃO DAS INSCRIÇÕES

Está disponível na página do III Congresso Brasileiro de Saúde Mental o link da Agenda Estratégica "SUS IGUAL PARA TODOS" que foi elaborada e assinada por várias entidades de saúde brasileiras, dentre elas a ABRASME, a ABRASCO, o CEBES e muitas outras. Confira na lateral direita da página http://www.congresso2012.abrasme.org.br/


Inscrições para trabalhos científicos, oficinas, minicursos e trabalhos audiovisuais prorrogadas até 09 de abril.




III Congresso Brasileiro de Saúde Mental - ABRASME
http://www.congresso2012.abrasme.org.br/

terça-feira, 13 de março de 2012

I SEMINÁRIO PARA PROFISSIONAIS NO GRANDE DIRCEU: ALCOOLISMO, DOENÇA? O QUE ACHAM OS PROFISSIONAIS

LOCAL: Teatro João Paulo II
Av. Joaquim Nelson,1861
DATA: 22 de março de 2012
HORÁRIO:08:00 às 12:00
FONE: 3221-8112
INSCRIÇÃO: www.aapiaui.org.br

Infelizmente não há uma articulação em rede suficiente que se trabalhe vários olhares e opiniões. No caso deste seminário os profissionais de CAPS ad não foram convidados, experiências ricas de profissionais que atuam nas comunidades terapêuticas e até mesmo de profissionais que acompanharam a existência e fechamento do pavilhão de alcoólicos, o PA do HAA fechado mais ou menos em 2006ou 2007, não lembro exatamente, mas há toda uma história de intervenção que na época de sua existência o próprio AA fazia visitas aos pacientes constantemente.

domingo, 4 de março de 2012

MINISTÉRIO DA SAÚDE ANUNCIA MAPEAMENTO DE CAPS EM CAPITAIS BRASILEIRAS


Campo Grande (MS) – O atendimento oferecido pela estrutura da saúde no enfrentamento da dependência química é uma preocupação do Ministério, segundo garantiu hoje (2) na Capital o secretário nacional de Atenção à Saúde, Helvécio Magalhães. Durante palestra no 2º Congresso de Secretarias Municipais de Saúde de Mato Grosso do Sul ele anunciou que uma série de ações que serão desenvolvidas para fortalecer os serviços existentes e organizar a estrutura de forma integrada.
Um dos trabalhos imediatos é o mapeamento e diagnóstico da real situação dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs), para que essa estrutura passe a funcionar em rede. A partir da avaliação vai ser elaborado um Plano de Ação.
Para o secretário, no campo da saúde mental há situações diversas, e as particularidades requerem atenção específica. “O problema da dependência química, o problema do crack e as outras questões da saúde mental são tão diversas, tão diferentes que exigem respostas diferentes. O mesmo paciente, o mesmo problema, tem respostas diferentes. Tomamos a decisão de lançar mão de tudo, com cuidado, com regulação”, afirmou o representante do Ministério da Saúde. Um exemplo da ideia de organização que deve ser implantada é a forma de atuação das chamadas comunidades terapêuticas. “As comunidades terapêuticas são uma resposta mágica, totalitária? Não. Mas são parte da resposta. Elas têm um papel, então, têm que ter regulação, têm que ter lógica pública, tem que ter porta de entrada autorizadora pelo poder público”.
Uma das frentes de ação é a reformulação dos Centros de Atendimento Psicossocial (CAPs). Para isso, a Secretaria de Atenção à Saúde vai fazer visitas e diagnósticos nos CAPs em todas as capitais. A agenda das visitas a Mato Grosso do Sul acontece entre 6 e 8 de março. “Temos que mapear cada um, definir a questão de tornar os CAPs Álcool e Droga [CAPS AD) 24 horas – porque, afinal, a dependência não tem hora – ou acoplá-los a prontos-socorros, enfim, vamos fazer um esforço nacional”, explicou o secretário Helvécio Magalhães.
“Outra prioridade é tratar os dependentes químicos, com leitos de retaguarda,  leitos para desintoxicação, leitos de longo internamento. Queremos criar o dispositivo de uma casa de acolhimento de alguns meses como moradia enquanto ele faz o tratamento. Estamos propondo a questão de equipes nas ruas abordando. Estamos propondo também a questão da reinserção social, da prevenção com educação, e o trabalho das comunidades terapêuticas com qualidade e regulação”, elencou o secretário.

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Quem acredita? Nós que estamos na ponta convivendo com o sofrimento das pessoas, usuários e familiares? Quando o secretário Helvécio fala "dos outros problemas da saúde mental", além da dependência química, estará falando dos "loucos genuínos"? Da ideação suicida? Do estigma e da discriminação das pessoas reabilitadas, com sintomas estabilizados que não conseguem trabalho, que não tem prioridades especiais ao acesso a moradia, educação ou a quaisquer outra política pública?

sexta-feira, 2 de março de 2012

INTERNAÇÃO SEMPRE DÁ UM FRIO NA ESPINHA!!!

Edmar Oliveira: Internação involuntária e recolhimento compulsório

Rio -  A Reforma Psiquiátrica comemorou, ano passado, dez anos da lei 10.216, que dispõe sobre a proteção e direitos da pessoa com transtorno mental, tendo custado anos de lutas a sua efetivação. E tramita no Senado Federal o Projeto de Lei (PLS) 111/10, que originalmente propunha a prisão do usuário de drogas. Preparando agora a votação do projeto, dois senadores “melhoraram” a versão original, trocando a “prisão” por “internação compulsória”. Se o projeto torna-se a lei pretendida teremos duas consequências graves.

Primeiro, desfigura-se a lei 10.216. Nela já se permite a internação involuntária, por ato médico, mas é necessário ao judiciário determinar a internação compulsória. Na internação involuntária, a lei 10.216 obriga o internante a comunicar ao Ministério Público, que zela pela garantia dos direitos individuais. Isso possibilita ao internado requerer sua defesa se sentir-se lesado. Portanto não são sinônimos como às vezes se quer fazer acreditar por má-fé.

A internação involuntária deve ser uma indicação clínica extrema, e provisória, para um paciente que será assistido pelo médico requisitante. Na internação compulsória cessam-se os direitos individuais e, por isso, a lei 10.216 exige um processo jurídico e determinação judicial. Aprovada a PLS 111, parte essencial da proteção legislativa aos portadores de transtornos mentais será eliminada.

Segundo, haverá uma consequência trágica para o Estado democrático. Aprovado o PLS 111, o Estado se coloca no direito de tirar o cidadão das ruas, por uso de drogas, com o recolhimento compulsório de pessoas indesejáveis à sociedade. Por isso os autores da “melhoria da lei” traíram-se na proposta de emenda. Não se troca “prisão” por “internação”. Mas “prisão” por “recolhimento”, o que vem a ser o mesmo. E compulsórios, os dois.

Vivemos uma democracia. Para os incluídos. Aos excluídos podemos estar regulamentando um Estado de exceção. Usando a psiquiatria como instrumento repressivo do Estado, como se fez nas ditaduras. E isso é grave.
Edmar Oliveira é psiquiatra

Esta é uma discussão que não temos no Piauí, junto com tantas outras coisas que faltam  a assistência a dependência química. No caso das mulheres as internações integrais acontecem regularmente no HAA. Soube que o governador entre tantas promessas para a questão, promete agora construir um hospital especializado. Ficará mais barato para o Estado que a Fazenda da Paz? E os CAPS ad, chegamos em março do segundo ano de mandato e não há nenhum incremento, nem mais uma unidade aberta na capital. Por que será? Falta gerência de saúde mental com garra e luta antimanicomial.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.