quinta-feira, 5 de novembro de 2009

CONVERSANDO COM AS VOZES DE EDMAR

Terminei a leitura de Ouvindo Vozes, livro de Edmar Oliveira. Como já falei me emocionei várias vezes. Acredito que muitos que trabalham ou fazem militância antimanicomial identificaram histórias parecidas em suas vivências, histórias com finais menos ou mais felizes. Tristezas e alegrias colhidas durante plantões em serviços paiquiátricos ou grupos de apoio.
Eu cá bastante apreensiva sobre o destino do Sanatório Meduna. Se o SUS aumentou o preço para cada paciente, o que era uma das reclamações da sua direção. Alguém sabe o nome dos donos do Meduna? Eu não sei. Se ele permanece aberto, fiquei sonhando o que uma equipe como a de Edmar Oliveira poderia fazer para transformar aquele manicômio em serviços comunitários?
A porta de entrada é o serviço de urgência do Hospital Areolino deAbreu, lá não há mais o P.A (alguém lembra do velho pavilhão de alcólicos? Ficavam lá também o que se chamava drogadito ou era expressão parecida...), o número é cada vez maior de "dependentes químicos" ou "transtorno relacionado ao uso de substância" não ficam no HAA, a lei impede, são atendimentos para o CAPS - ad, temos apenas um. O jeitinho brasileiro "interna" todos esses casos que adentram aquela urgência no Sanatório Meduna, que não tem leitos reservados para dependentes químicos, lá todos são pacientes psicóticos. É para se acreditar nisso.
Não temos nenhum CAPS III, nem uma urgência psiquiátrica além do HAA, não há plantonistas psiquiatras em hospitais gerais. Por que não transformar aquele imenso prédio do Meduna em CAPS III e CAPS - ad masculino e outro CAPS - ad feminino? Sabe-se que muitas mulheres não procuram o CAPS -ad para não se exporem e lotam as enfermarias do Meduna.
Está previsto a abertura de dois CAPS II por pressão do Ministério Público, as casas já estão alugadas passando por reformas, uma na zona sul e outra na região sudeste.
Os psiquiatras que tentam atrapalhar com má vontade a implantação dos serviços da Reforma e brigam desumanamente, atendendo naqueles postos de enfermagem de paredes sujas e rachadas do Meduna e nem percebem (ele e toda uma equipe) que um paciente pode dormir dias sem uma lâmpada numa pequena enfermaria de duas camas. Esses fatos não incomodam, os loucos não tem direitos humanos, o que interessa é defender mais um salário. Não se envolvem, pecam pela omissão, não se queimam. Esses profissionais, infelizmente nesse momento muita gente jovem, serão os mesmos a concorrer em concursos públicos ou não para assumir o trabalho nesses CAPS. Dá medo!

Um comentário:

busquesantidade disse...

Dá prá gente além de ficar revoltado, irritado e todos os ados que conheço referentes a esses casos, não dá prá imaginar o tamanho desrespeito pelo ser humano. Tenho dois casos de esquizofrenia em minha família e vejo como não é fácil pros doentes e nem para quem cuida. Mas aqui uma de minhas primas é tratada com muito cuidado e carinho. A outra não sei. Como não tenho voz e nem vez, o que faço é sempre rezar para que Deus toque no coração dessas pessoas que cuidam dos doentes e tenham um pouco de humanidade. Abraço fraterno. Lourdes Dias.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.