quinta-feira, 15 de outubro de 2009

ATAQUE MANICOMIAL COVARDE

Em artigo intitulado "Doente mental merece respeito", publicado hoje no jornal Diário do Povo, o presidente da Associação Psiquiátrica do Piauí, Alexandre Barbosa Nogueira ataca de forma covarde, sem nenhuma postura ética, a gerente de Saúde Mental da Secretaria de Saúde do Piauí, psicóloga Gisele Nascimento, afirmando que esta ao celebrar o dia Mundial da Saúde Mental, evento ocorrido dia 9 último, estaria fazendo festa, em completo descaso ao fato do possível fechamento do Sanatório Meduna. Cita uma reportagem de um portal, nem mesmo esteve lá, nem ele, nem psiquiatra nenhum, que nunca se misturam a outros profissionais e usuários. O que a Associação Psiquiátrica do Piauí e seus psiquiatras fizeram pela passagem do dia 10 de outubro, dia Mundial da Saúde Mental? Alguém sabe?
Se Alexandre Nogueira que em entrevistas e livros onde seu trabalho na psiquiatria piauiense é citado, é sempre reverenciado por ter em 1980 criado a Associação Comunitária de Saúde Mental do Piauí, ter feito àquela época um trabalho de vanguarda, segundo relatos orais de trabalhadores e usuários, o hospital dia chegava a mobilizar grande contigentes de pessoas da comunidade em suas assembléias. Hoje a responsável profissional no exercício de suas funções independente do nome que se dê ao cargo: gerente, coordenadora, presidente, é uma mulher, não médica psiquiatra e competente realizava mais um evento destinado a profissionais que atuam nos diversos serviços de saúde mental de vários municípios do Estado. Ao atacar traiçoeramente quem está trabalhando nesse momento na vanguarda da saúde mental piauiense, joga fora o respeito que um dia angariou. O respeitado psiquiatra empresta seu nome para tão lamentável ação. Ele que já fez jornadas a favor da implantação de leitos em hospitais gerais e continua citando o intento em seu artigo deveria somar seu prestígio a luta para que os leitos do Sanatório Meduna fossem direcionados para tal, por que quem vai saldar as dívidas do Meduna? O dinheiro público? O gasto com sua manutenção é suficiente para financiar três CAPS III no município. Quando for fechado seus recursos serão gerenciados pelo município de Teresina. O manicômio Meduna se não fechar, o prédio cai literalmente encima de pacientes e funcionários de tão velho e descuidado que está, inaugurado em 1954 foi reformado pela última vez em 1979.
Em vários de seus escritos Alexandre Nogueira fala sobre a conotação pejorativa da palavra louco. Outro anacronismo de sua parte, hoje nós, pessoas que vivemos com transtorno mental (também não "portamos") não queremos sermos chamados de doentes mentais ou pacientes e sim de usuários. Usuário, pessoa que faz uso de um serviço, no caso do serviço psiquiátrico. A idéia de carteirinha de louco quem promoveu foram os próprios usuários que estiveram presentes, funcionais, ativos, vendendo seus produtos, mostrando sua saúde. Que a loucura só é doença grave a ponto de se prender alguém dentro do Meduna ou Areolino de Abreu para psiquiatra manicomial, que não acredita em reabilitação, que não investe nas potencialidades de saúde das pessoas, só vê o"louco pejorativo", aquele que a partir de um diagnóstico não tem mais funcionalidade e subjetividade. O psiquiatra é o profissional que menos tempo passa num pavilhão talvez por isso não permeça tais possibilidades.

3 comentários:

Anônimo disse...

Embora eu seja de São Paulo e não estar totalmente por dentro da situação que ocorre por aí, estou torcendo para as coisas se resolverem da melhor forma. Aos poucos vou me inteirando sobre o assunto. Boa sorte!

Edmar Oliveira, disse...

A luta é esta. Voz ao usuário. Não se pode reduzir Saúde Mental à doença mental. Bravo.

Unknown disse...

"uma mulher, não médica psiquiatra e competente" numa função de destaque, incomoda àqueles que querem a todo custo manter o modelo patriarcal de dominação. parabéns pelo não silêncio!!!

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.