Lembro que fui por duas vezes ao sanatório Meduna visitar conhecidas. Numa dessas vezes me deparei com horropilantes piolhos que desciam pelos dedos de minha amiga quando esta coçava a cabeça. Nossa! Ainda hoje me embrulha o estômago. Fui ao posto de enfermagem e exigi que remédio para piolhos e um pente que eu mesma aplicaria. Foi uma confusão. Não me deram o pente, mas aplicaram o tal remédio. Outra vez fui ver uma vizinha, moça jovem, bonita, teve um surto psicótico logo após um parto, piorando por ter sido afastada do bebê. Há dois anos sem crises, adorava festas. Família evangélica. Numa briga num bar, a mãe aproveita entre a polícia e o SAMU. Rapidamente afirma que a filha sofre de transtornos mentais e a interna. Orientada e revoltada, me implora que eu ajude a convencer a mãe a pedir sua alta. Não consegui, a mãe irredutível, me diz que ela merecia o castigo e ficar lá mais algumas semanas a levaria a pensar em ter uma vida mais regulada. Só consegui sua transferência para outra enfermaria considerada de pacientes mais calmas.
Passei os últimos cinco dias um tanto sintomática. Deparei-me com várias situações semelhantes. Mas a desordem mental causada pela bipolaridade me deu algumas limitações. Se me envolvesse em algumas dessas situações poderia piorar. Às vezes conseguimos tão pouco. Outras vezes nada, ou perdemos a paciência, desistimos daqueles que não internalizam, não aceitam e continum sem desenvolver auto-cuidados, num círculo vicioso da crise. Desistimos porque não queremos tutelar, para isso o modelo manicomial hegemônico ainda o faz. E essas relações manicomiais transcendem os muros dos hospitais. Tentamos não reproduzí-las.
Não há fórmulas, tentamos não sentir culpa.
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