Fazer
ativismo em saúde mental é uma tarefa solitária. A loucura incompreensível e
trágica ou nos fascina o nos ojeriza. Estou entre as pessoas do primeiro grupo,
mas vejo a luta por acessibilidade a uma saúde mental integrada a qualidade de
vida: moradia digna, saneamento básico, lazer, educação, trabalho ainda que
protegido, mas trabalho ( a ideia da aposentadoria precoce ainda não me deixa a
vontade), só a defendo mesmo para aqueles que nasceram e adoeceram antes dos
antipsicóticos atípicos, ou seja já viviam a doença mental na década de 80, os
atípicos chegam ao Brasil somente em 1994,com acesso limitado aos pacientes e
familiares mais esclarecidos. Acesso a outras saúdes, vida integrada na
comunidade que respeite sua subjetividade.Não romantizo a loucura. Daria
respiridona ou outro antipsicótico para Dom Quixote reconhecer que os gigantes eram apenas moinhos. Um coquetel psi para ele sair da crise.
Mas
às vezes canso dos passos de formiguinha, do peso maior que o próprio corpo...
então vem um ventinho para refrescar o calor de minhas frustrações, geralmente
em respostas a longo prazo, de intervenções antigas nossas (2010), como Carol, usuária
sempre em crise, que não aceitava a família e vice-versa, numa parceria nossa
com o CAPS norte, a ex paciente do extinto sanatório MEDUNA, o castelo da Rainha Elisabeth
que Carol adorava, chegando a ser praticamente moradora, ali ficou internada
oito meses de uma só vez e outras várias internações. Socióloga, grandes olhos
azuis. Informa-me uma colega assistente
social do CAPS norte que está muito bem,
mensalmente fazendo consulta de manutenção, felizmente acompanhada por uma tia.
São estes finais de "felizes até a próxima crise" que nos deixam
ainda na luta. E muitas vezes essa crise (aguda) nunca mais acontece.
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