Por Letícia Bender
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA
O poder transformador da arte é capaz de projetos simples e renovadores. Habilidades que, por vezes são tidas como secundárias em cada indivíduo, têm força para modificar realidades coletivas em novos mundos.
Renato Di Renzo tem paixão por esse conceito:
qualidade de vida para todos sem restrições. Arte educador e pedagogo, é
um dos idealizadores e presidente da Associação Projeto TAMTAM, de
Santos – SP. Sociedade inclusiva e diversa permeia a proposta de
trabalho e de vida de Renato que há 25 anos começou o trabalho no
Projeto.
Foto: Adriano Marinho Ribeiro
Com início em 1989, o TAMTAM surgiu com uma
intervenção pública municipal na extinta Casa de Saúde Anchieta, em
Santos. O objetivo da ação era humanizar o espaço em nome da dignidade
humana. Ricardo relata que os pacientes da Casa eram extremamente
maltratados, malcuidados. Havia 180 leitos para mais de 600 pessoas. Não
havia atendimento decente. O eletrochoque punitivo era seguidamente
utilizado por qualquer pessoa, sem motivo. Muitos morriam. “Era
discabível”, conta. Então, há 25 anos, houve uma grande injeção para a
luta antimanicomial: “o TAMTAM foi um arranque na história da saúde”,
conclui Di Renzo.
“Viemos para resgatar o homem enquanto
desejo de voltar a viver na sociedade, família, trabalho. Enfim, a viver
loucamente junto com os outros loucos da cidade”
O projeto articulou o que todos os loucos, de
todas as áreas e estilos, sempre almejaram: começou dentro do hospício
mas foi além das grades físicas e sociais que cercam esse universo. O
projeto, como explica Renato, é um eco na sociedade. Não há trabalhos
somente com pacientes diretos, diagnosticados com determinadas
especificidades. TAMTAM trabalha com o quê esses agentes provocam em
outras pessoas. Então, “estamos formando redes”.
Ao longo dessa história, atendimentos diversos
foram realizados nas áreas de saúde mental, prevenção às doenças,
educação, acesso a arte e cultura, diversidade e inclusão social. O
Projeto lida com formas de expressão que, de acordo com o arte educador,
trazem benefícios físicos e psíquicos. “Você dizer, de alguma forma ,o
que te incomoda, é terapêutico”, afirma. Dentre as atividades já
realizadas pelo grupo, Renato sempre (se) afirmou no conceito de que o
trabalho na educação e na saúde são uma aposta ‘no outro’ e por vocação.
Esse argumento explica a perseverança do trabalho no TAMTAM.
As pessoas entendem ‘comunidade’ como “morar em determinado bairro”. Isso é diminuir o conceito que ela representa.
Atualmente, o projeto atende diretamente cerca de
200 pessoas. Além deles, o TAMTAM auxilia a família de cada paciente e
lida com todos os universos do sujeito. Humanismo, inclusão e
diversidade são trabalhados fora do universo ‘clínica’, inseridos no
dia-a-dia e vivência diária. Explicam que é “um trabalho calcado na
troca, na cumplicidade e no brilho outrora escondido/apagado em diversas
pessoas”.
Muitas pacientes do TAMTAM são chatos, dizem. Di
Renzo explica esse julgamento pelos resultados já obtidos. Os trabalhos,
oficinas e cursos desenvolveram e potencializaram habilidades por meio
de uma formação muito mais ampliada, que incluía as atividades da ONG.
Os pacientes são chatos porque são politizados, buscam argumentos,
discutem e são cidadãos ativos.
O projeto promove ações inclusivas em áreas do
conhecimento que vão de dança à reciclagem e o desafio do manejo nas
mais diversas áreas é nítido. Renato Di Renzo tem resposta instantânea
para a provocação: todo projeto pode acontecer. A questão é: como vai
acontecer.
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