domingo, 23 de março de 2014

SOMOS TODOS TAMTAM.

Por Letícia Bender
Acadêmica de Jornalismo do CEULP/ULBRA
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O poder transformador da arte é capaz de projetos simples e renovadores. Habilidades que, por vezes são tidas como secundárias em cada indivíduo, têm força para modificar realidades coletivas em novos mundos.
Renato Di Renzo tem paixão por esse conceito: qualidade de vida para todos sem restrições.  Arte educador e pedagogo, é um dos idealizadores e presidente da Associação Projeto TAMTAM, de Santos – SP. Sociedade inclusiva e diversa permeia a proposta de trabalho e de vida de Renato que há 25 anos começou o trabalho no Projeto.

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Foto: Adriano Marinho Ribeiro
Com início em 1989, o TAMTAM surgiu com uma intervenção pública municipal na extinta Casa de Saúde Anchieta, em Santos. O objetivo da ação era humanizar o espaço em nome da dignidade humana. Ricardo relata que os pacientes da Casa eram extremamente maltratados, malcuidados. Havia 180 leitos para mais de 600 pessoas. Não havia atendimento decente. O eletrochoque punitivo era seguidamente utilizado por qualquer pessoa, sem motivo. Muitos morriam. “Era discabível”, conta. Então, há 25 anos, houve uma grande injeção para a luta antimanicomial: “o TAMTAM foi um arranque na história da saúde”, conclui Di Renzo.

“Viemos para resgatar o homem enquanto desejo de voltar a viver na sociedade, família, trabalho. Enfim, a viver loucamente junto com os outros loucos da cidade”
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O projeto articulou o que todos os loucos, de todas as áreas e estilos, sempre almejaram: começou dentro do hospício mas foi além das grades físicas e sociais que cercam esse universo.  O projeto, como explica Renato, é um eco na sociedade. Não há trabalhos somente com pacientes diretos, diagnosticados com determinadas especificidades. TAMTAM trabalha com o quê esses agentes provocam em outras pessoas. Então, “estamos formando redes”.
Ao longo dessa história, atendimentos diversos foram realizados nas áreas de saúde mental, prevenção às doenças, educação, acesso a arte e cultura, diversidade e inclusão social. O Projeto lida com formas de expressão que, de acordo com o arte educador, trazem benefícios físicos e psíquicos. “Você dizer, de alguma forma ,o que te incomoda, é terapêutico”, afirma. Dentre as atividades já realizadas pelo grupo, Renato sempre (se) afirmou no conceito de que o trabalho na educação e na saúde são uma aposta ‘no outro’ e por vocação. Esse argumento explica a perseverança do trabalho no TAMTAM.
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As pessoas entendem ‘comunidade’ como “morar em determinado bairro”. Isso é diminuir o conceito que ela representa.
Atualmente, o projeto atende diretamente cerca de 200 pessoas. Além deles, o TAMTAM auxilia a família de cada paciente e lida com todos os universos do sujeito. Humanismo, inclusão e diversidade são trabalhados fora do universo ‘clínica’, inseridos no dia-a-dia e vivência diária. Explicam que é “um trabalho calcado na troca, na cumplicidade e no brilho outrora escondido/apagado em diversas pessoas”.
Muitas pacientes do TAMTAM são chatos, dizem. Di Renzo explica esse julgamento pelos resultados já obtidos. Os trabalhos, oficinas e cursos desenvolveram e potencializaram habilidades por meio de uma formação muito mais ampliada, que incluía as atividades da ONG. Os pacientes são chatos porque são politizados, buscam argumentos, discutem e são cidadãos ativos.
O projeto promove ações inclusivas em áreas do conhecimento que vão de dança à reciclagem e o desafio do manejo nas mais diversas áreas é nítido. Renato Di Renzo tem resposta instantânea para a provocação: todo projeto pode acontecer. A questão é: como vai acontecer.

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