sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

QUANDO PESSOAS NORMAIS SÃO UM PERIGO PARA NÓS LOUCOS

Acordei ouvindo vozes. Parecia que havia outras pessoas dentro de casa. Impossível, moro apenas com minha filha de oito anos. Que dorme do meu lado, certifico-me. Ouço o trinco da porta do quarto. Veterana, não me apavoro. Malditos sintomas. A mente me dá um drible, imagino que ladrões entraram na casa e nos mataram as duas. Estou morta eu e minha filha. As vozes falam isso, ou coisa parecida. Droga, deliro mais uma vez. Finalmente levanto, sete horas da manhã. Resolvo não dar bola para elas. Vão encher o saco de outro, chatas!


Estou "corretamente" medicada. Só há uma semana ou pouco mais sem o tarja preta, talvez seja abstinência. Voltei a usar ontem. Depois de fazer uma maratona nas farmácias da cidade para encontrar esse ansiolítico.
Levemente estressada com problemas causados na escola que trabalho no Estado, por pessoas que se consideram normais, em plenas férias. Desgasta qualquer um. Infelizmente, a mente de um psicótico é capaz de ser inundada por um copo de água. A realidade nos parece grande demais, caótica demais. Nossos monstros internos nos fragilizam, queremos paz mas somos provocados para guerra o tempo todo. Alguns normais perversos percebem isso e se aproveitam para nos tirar a calma e a saúde, nos excluir de processos que podemos superá-los. Elogio e INVEJA da loucura.
Seres humanos medíocres. Mas vamos lá. Ser militante de movimento de usuários pode ajudar em alguma coisa. A exposição pública faz parte da luta para quebra do estigma.

MORTE DE PACIENTE EVADIDO DO SANATÓRIO MEDUNA
Li apenas uma pequena nota no jornal O DIA de quarta-feira, dia 14, que dizia que o paciente havia evadido do Meduna e que estava sendo perseguido pela polícia. Atarentou-se e entrou nas águas do rio, morrendo afogado. Pessoas me informam que na reportagem da televisão este teria pulado de uma de nossas pontes.
E aí? Mais uma "tragédia brasileira", menos um louco, que ninguém se interessará para averiguar a história com precisão e indenizar a família pelo menos. Há culpados? O manicômio que deveria estar fechado desde abril de 2008, a polícia que fazia a busca?Voltamos a velha história do não treinamento dos policiais na abordagem ao louco. Precisamos de mais penas aqui no Ninho.

MATEM B. PUTA E LOUCA
O Ninho tem acompanhado há algum tempo o caso de uma psicótica, que rejeita completamente o uso de medicação. Tem alguns casos na família de esquizofrenia, pessoas que se internam constantemente em nossos manicômios locias. Provocada por uma vizinha normal, evangélica, agressiva que já bateu em outras pessoas na rua. B. descamba sempre para crise, briga, xinga e joga pedras. Já apanhou dos irmãos, desta vizinha. Numa intervenção difícil, apenas conseguimos que esta aprendesse o caminho das delegacias e defensoria pública.
Ser puta e louca é crime demais para os vizinhos e a família, que já a julgaram e decretaram a pena: Morte.

2 comentários:

Anônimo disse...

O próprio louco se condena a morte.

Flavinha Roberta disse...

ADOROOOOOOO teus textos.
Vim fazer uma visitinha,fazia tempo que naum passava por aqui!
Bjux e bom ano pra vc!
A proposito,vc tem perfil noorkut,oucoisas do genero?
Abraço

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.