quarta-feira, 29 de maio de 2013

O OCASO DA RAZÃO NO ESTADO BRASILEIRO OU A LOUCURA RELIGIOSA?

Em nome de Deus, o Estado laico

Autor(es): Edmar Oliveira
Correio Braziliense - 28/05/2013

Não deveria ser surpresa a indicação e a permanência do pastor Marcos Feliciano na Comissão de Direitos Humanos da Câmara de Deputados, mesmo que sob intensos e barulhentos protestos. A base governista tem alianças também no campo santo das lideranças religiosas, que formam um arco partidário fundamentalista cristão. E a comissão era "moeda de troca barata" para os governistas. O braço fundamentalista da Câmara ganhou um espaço interessante para a divulgação de suas ideias, confrontando um Estado que se diz laico.
Por seu lado, o próprio governo tem sua parte fundamentalista cristã em plena atividade. A ministra da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, professa sua convicção com tal fúria que é a porta-voz governista para o projeto de lei (PL) do aliado Osmar Terra, aprovado na Câmara. O projeto, que seguiu para o Senado, institui penalização maior para os envolvidos com drogas — na contramão das propostas liberalizantes nas democracias modernas; regulamenta a internação compulsória do usuário de drogas, violência condenada até pela Organização Mundial de Saúde como ato de tortura; e institui o pagamento público das comunidades religiosas — travestidas de "terapêuticas" —, em claro desrespeito ao SUS.
O PL, apesar de criticado e combatido por estudiosos do assunto, segue firme para apreciação do Senado e mantém a confusão entre traficante e usuário presente na legislação anterior, que invariavelmente criminaliza os mais pobres. O aumento da pena para o tráfico de drogas é crescente na nossa legislação. Era de dois anos, no máximo, na lei sobre drogas de 1976, passando a cinco anos, no mínimo, na lei em vigor (2006).
Agora a penalidade é proposta entre oito e 15 anos. Com isso, as prisões ficarão mais abarrotadas do que já se encontram com pequenos traficantes. Há previsão de penas maiores do que algumas aplicadas para casos de homicídio, num absurdo que nos coloca na contramão das sociedades democráticas. Jovens infratores terão mais tempo de apreenderem a via criminosa como única possibilidade de vida, se saírem da prisão na qual sua força de trabalho de possível recuperação foi encarcerada e desperdiçada. Quando não morrem jovens durante as batalhas da guerra às drogas que, já foi dito, matam mais que o efeito delas.
A internação compulsória do usuário de drogas em instituições religiosas que pretendem curar pela "fé" disputa os minguados recursos de saúde para a rede pública. A rede comunitária (Caps) — consultório na rua e leitos hospitalares em hospitais gerais — está completamente sucateada e insuficiente, numa afronta a seus abnegados trabalhadores. Com a agravante de que a "terapia da fé" inevitavelmente pressupõe a penitência. E a penitência, se for involuntária, facilmente é transformada em tortura.
A sociedade não pode assistir a tamanhos absurdos. A ministra Gleisi tem interesses eleitorais nas comunidades religiosas do estado dela. Não pode levar esses compromissos para dentro do governo e apresentar proposta que viole o Estado laico. O Estado laico tem o papel de permitir que todas as crenças e credos possam ser professados sem o predomínio de qualquer deles, o que não acontece quando o Estado se permite a defender uma religião para obter para ela privilégios que as outras não têm.
Se isso é um comportamento de membros do governo, como então os aliados podem exigir que o pastor Marcos Feliciano não seja um fundamentalista religioso à frente da Comissão de Direitos Humanos? Em nome de Deus, esperaremos que o Estado volte a ser laico.
Porque, no momento, o governo capitaneia ações que afrontam o conceito secularista de laicismo. Nesse conceito, exige-se a ausência de conteúdos religiosos em assuntos governamentais, assim como a ausência do governo nos assuntos religiosos. Essa foi a melhor forma encontrada pela democracia para garantir o direito de todas as religiões. As religiões de Carimbão, Gleisi e Feliciano, ou de quem quer que seja aliado e membro do governo, não podem representar a sociedade em um Estado laico verdadeiro. Essas distorções devem ser combatidas por quem garante o próprio Estado: o governo da presidente Dilma.

http://clippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/2013/5/28/em-nome-de-deus-o-estado-laico 

NUNCA FUI A UM PSICÓLOGO E SOU BIPOLAR: ESTABILIZADOR DO HUMOR E ANSIÓLITICO ME MANTÉM LONGE DELES

Psiquiatras ficam acuados em batalha sobre a saúde mental

25/05/2013 15h00
JAMIE DOWARD
DO "OBSERVER"
Não há prova científica de que diagnósticos psiquiátricos como os de esquizofrenia e transtorno bipolar sejam válidos ou úteis, segundo uma importante entidade que representa os psicólogos clínicos da Grã-Bretanha.

Em uma atitude inédita, e que já atraiu uma forte reação dos psiquiatras, a divisão de psicologia clínica (DCP, na sigla em inglês) da Sociedade Britânica de Psicologia divulgou na segunda-feira (dia 13) uma nota declarando que, dada a falta de provas, é hora de uma "mudança de paradigma" na forma como as questões de saúde mental são entendidas. A declaração na prática põe em dúvida o modelo biomédico de perturbação mental predominante na psiquiatria - a ideia de que as pessoas estão sofrendo de doenças tratáveis por médicos usando remédios. O DCP disse que sua decisão de se manifestar "reflete preocupações fundamentais sobre o desenvolvimento, impacto pessoal e suposições centrais dos sistemas [de diagnóstico usados pela psiquiatria]".

Lucy Johnstone, consultora de psicologia clínica que participou da redação da nota do DCP, disse que não é útil encarar as questões de saúde mental como sendo doenças com causas biológicas.

"Pelo contrário, agora há provas contundentes de que as pessoas desmoronam como resultado de uma complexa mistura de circunstâncias sociais e psicológicas - luto e perda, pobreza e discriminação, trauma e abuso", disse Johnstone. A provocativa declaração do DCP foi programada para sair pouco antes do lançamento do DSM-5, a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais, feito pela Associação Americana de Psiquiatria.

O manual está sendo atacado por expandir a gama de problemas de saúde mental que são classificados como transtornos. Por exemplo, a quinta edição do livro, que passou duas décadas sem ser atualizado, classifica manifestações de tristeza, achaques nervosos e preocupações com a falta de saúde física como sendo as doenças mentais chamadas "transtorno depressivo grave", "desregulagem perturbadora do humor" e "transtorno do sintoma somático", respectivamente.

Algumas das omissões do manual são tão polêmicas quanto as suas inclusões. O termo "síndrome de Asperger" não aparece no novo manual, e em vez disso seus sintomas aparecem sob o recém-incluído "transtorno do espectro do autismo".

O DSM é usado em graus variados em diversos países. A Grã-Bretanha usa um manual alternativo, a Classificação Internacional de Doenças (CID), publicada pela Organização Mundial da Saúde. O DSM, no entanto, ainda é enormemente influente - e polêmico.

O escritor Oliver James, formado em psicologia clínica, elogiou a decisão do DCP de se manifestar contra os diagnósticos psiquiátricos, e salientou a necessidade de trocar o modelo biomédico de perturbação mental por um que examine fatores sociais e pessoais.

Em recente artigo no "Observer", James declara: "Precisamos de mudanças fundamentais na forma como a nossa sociedade se organiza, para dar aos pais a melhor chance possível de atender às necessidades da criança e evitar tanta adversidade adulta".

Já o professor Simon Wessely, membro do Real Colégio de Psiquiatras e chefe do departamento de medicina psicológica do King's College, em Londres, disse que é errado sugerir que a psiquiatria está focada apenas nas causas biológicas das perturbações mentais. E, em outro texto do jornal, ele defende a necessidade de criar sistemas de classificação para os transtornos mentais.

"Um sistema de classificação é como um mapa", explica Wessely. "E, assim como qualquer mapa é apenas provisório, pronto para ser alterado à medida que a paisagem muda, o mesmo vale para a classificação."

Tradução de RODRIGO LEITE. 

 folha ilustradíssima

Ou prato bom para recém -chegado a vida com transtorno mental, que não reconhece sintomas, não aceita medicação, fere-se ou fere os outros, no pico da crise tem ideação suicida. Que a sociedade  trabalhista, competitiva, impessoal, desarmonizadora precisa mudar por muitas razões , para sustentação do planeta e saúde integral para todos os indivíduos. É óbvio, que explique uma das causas da loucura, mas os psicólogos clínicos também não tem a última palavra e nem a solução, é até louvável o questionamento da "anormalidade universal" do DSM-V, mas não resolve dentro do sistema de saúde pública brasileira a minimização dos sintomas sem remédios, até porque psicólogos pelo SUS, são raridades nos ambulatórios, pelo menos da cidade de Teresina - Piauí.

segunda-feira, 27 de maio de 2013

DEPRESSÃO: SOBREVIVENDO!!

"Antidepressivos naturais" ajudam a curar tristeza e depressão leve

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Por IARA BIDERMAN
colaboração para a Folha de S.Paulo
Tristeza, desânimo, depressão: quando as coisas começam a tornar-se sombrias ou fica mais difícil levar a vida, é preciso procurar ajuda. Normalmente, a melhor estratégia é combinar diferentes medidas -por exemplo, uso de remédios ou substâncias com princípios ativos, medidas de autocuidado (como alimentação adequada e prática de exercícios) e apoio psicoterápico. Em caso de depressão intensa, que, diferentemente da tristeza comum, é doença, o uso de medicamentos sintéticos pode ser indicado.
Mas, para depressão leve ou moderada, há opções de antidepressivos naturais que podem ter efeito. A Folha relacionou dez desses itens, que podem levantar o ânimo ou ajudar no tratamento da depressão. Oito deles têm algum grau de evidência -como critério, foram utilizadas meta-análises (revisões de vários estudos) da organização Cochrane, rede global dedicada à revisão de pesquisas na área de saúde. Dois são controversos e precisam de mais estudos sobre sua eficácia e segurança.
Exercícios
O exercício estimula a secreção de endorfinas, que causam sensação de bem-estar. "Além disso, melhora a circulação e a oxigenação do cérebro. E tem efeitos indiretos em sintomas ligados à depressão, como a qualidade do sono", diz Frederico Navas Demetrio, do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo.
Em geral, acredita-se que os exercícios de maior intensidade sejam mais eficazes. Mas, na revisão de 25 estudos feita pela organização Cochrane, que confirmou que a atividade física melhora os sintomas de depressão, os pesquisadores afirmaram que não há evidência sobre qual tipo de exercício é mais eficaz. O que costuma funcionar melhor é praticar uma atividade física que dê prazer.
5 HTP (hitroxi-triptofano)
O triptofano é um aminoácido essencial, encontrado especialmente em alimentos proteicos, como carnes e laticínios. Não é produzido pelo corpo e precisa ser adquirido via alimentação. Esse aminoácido leva à produção de serotonina, neurotransmissor relacionado ao prazer e ao bem-estar.
Por isso, a suplementação de 5 HTP pode ser usada em alguns casos de depressão e tristeza. "É mais indicado para quem tem a deficiência do nutriente, causada, por exemplo, por dietas vegetarianas pobres em proteínas. Uma alimentação equilibrada supre as necessidades de triptofano", diz Vânia Assaly, endocrinologista e nutróloga, membro da International Hormone Society.
Para ela, o suplemento age especialmente na melhora do sono, na redução da voracidade noturna e em transtornos leves de humor. Os suplementos dietéticos de 5 HTP são produzidos principalmente a partir de uma planta africana, a Griffonia simplicifolia.
Em uma meta-análise, pesquisadores da Cochrane encontraram evidências de que o 5 HTP é melhor do que placebo para aliviar sintomas da depressão. Notaram, porém, que a maioria dos estudos não atingiu todos os critérios de qualidade e que mais pesquisas devem ser feitas para verificar possíveis efeitos adversos.
Segundo Frederico Demetrio, do HC, os primeiros estudos com 5 HTP foram interrompidos porque seu uso provocou dores musculares, mas elas foram atribuídas a impurezas no produto utilizado. "Em tese, o 5 HTP de boa qualidade, purificado, pode funcionar."
Porém, o 5 HTP pode interagir com antidepressivos sintéticos, levando à concentração excessiva de serotonina. É contraindicado, ainda, para pacientes com tumores malignos ou doenças cardiovasculares.
Meditação
Estudos mostram que a meditação produz mudanças no cérebro, como a redução ou o aumento da atividade de certas regiões. "A hipótese é que reduza hormônios como o cortisol, diminuindo a ansiedade, e promova liberação de endorfinas, ligadas à sensação de prazer", diz José Roberto Leite, coordenador da unidade de medicina comportamental da Unifesp.
Em 15 pesquisas analisadas pela organização Cochrane, pessoas que meditaram apresentaram melhora da depressão em comparação com as que não fizeram nenhum tratamento. O estudo concluiu que a técnica tem potencial para ser o tratamento inicial do problema, especialmente para pessoas jovens, com o primeiro episódio de depressão ou com quadro considerado bem leve.
Para Leite, os maiores cuidados devem ser tomados com pessoas com tendências autodestrutivas, como pensamentos suicidas. "São casos em que é preciso muito acompanhamento, e a meditação não pode ser o tratamento principal."
Ele diz que, em geral, a meditação é uma técnica eficaz e de baixo custo para diminuir os sintomas e reduzir as reincidências do distúrbio. Para ter efeito, ele recomenda que seja praticada, no mínimo, quatro vezes por semana. "No início, a pessoa pode praticar por cinco a oito minutos. Em uma semana, ela já consegue meditar por dez minutos e vai aumentando gradativamente até chegar a 30 minutos, o que é suficiente para obter os efeitos", diz Leite.
Fototerapia
A exposição à fonte de luz artificial intensa é um tratamento comprovado para a depressão sazonal -que ocorre no inverno, quando o período de luz solar diminui. É frequente em países mais distantes do Equador, em que os dias se tornam muito curtos nos meses frios. No Brasil, é menos comum.
Na fototerapia, uma lâmpada fluorescente de pelo menos 2,5 mil lux (unidade de medida de luz) é colocada perto dos olhos da pessoa, sem que essa precise olhar diretamente para a lâmpada. As sessões duram cerca de 30 minutos por dia.
Segundo Rubens Pitliuk, neuropsiquiatra do hospital Albert Einstein, a fototerapia também pode ajudar em outros casos de depressão, se os sintomas pioram em dias cinzentos.
Uma revisão de 20 estudos concluiu que traz benefícios discretos, mas promissores, também para casos de depressão não sazonal, quando usada com outros tratamentos.
É possível adquirir aparelhos de fototerapia para uso em casa, mas deve haver orientação médica. Também é importante usar aparelho que não emita raios ultravioleta.
Suplementos de vitaminas B12 e B9 (ácido fólico)
As vitaminas B12 e B9 são essenciais para a fabricação de diversos neurotransmissores e atuam como modulares dos sistemas neurológico e hormonal. Em pessoas deprimidas, pode ser observada uma diminuição dos níveis desses nutrientes presentes no sangue.
A suplementação dessas vitaminas pode aliviar sintomas de depressão e potencializar efeitos de medicamentos antidepressivos. Costuma ser indicada para pacientes com sintomas de deficiência nutricional e alcoólatras (que normalmente apresentam deficiência de nutrientes e, em especial, falta de vitamina B 12).
Uma análise de estudos realizada pela Cochrane, envolvendo um total de 151 pessoas, indicou que o uso de vitamina B9 (ácido fólico) em conjunto com outros tratamentos diminui o grau de depressão dos pacientes. No entanto, os estudos não mostram se o efeito ocorre tanto em pessoas com deficiência do nutriente quanto nas com níveis normais de vitamina B9.
Em caso de desânimo ou tristeza não patológica sem causas aparentes, pode ser investigada a falta dessas vitaminas por meio de exame de sangue. Nessa circunstância, a suplementação pode ser suficiente.
Nos casos de depressão, é necessário corrigir a deficiência, se constatada, mas a suplementação é considerada um adjuvante do tratamento, e não o foco principal.
Em pacientes que não estão respondendo aos tratamentos, é recomendado checar os níveis dessas vitaminas encontrados no sangue e a suplementação pode auxiliar na obtenção de resultados.
Aparentemente, não há efeitos adversos e interações medicamentosas com o uso de suplementos de vitaminas B9 e B12. O excesso desses nutrientes no organismo é eliminado naturalmente pela urina.
Erva-de-são-joão
O extrato da erva-de-são-joão (Hypericum perforatum L) é um dos chamados antidepressivos naturais mais estudados. Porém, seu mecanismo de ação ainda não está totalmente esclarecido. "Aparentemente, seus princípios ativos têm ação semelhante à dos [medicamentos sintéticos] inibidores da recaptação de serotonina", diz Frederico Demetrio, do HC de São Paulo.
A serotonina é um neurotransmissor que modula o humor e provoca bem-estar. Baixos níveis da substância estão relacionados aos quadros de depressão. Os inibidores de recaptação aumentam a disponibilidade da serotonina no sistema nervoso central.
Uma meta-análise feita pela organização Cochrane concluiu que o extrato de erva-de-são-joão tem efeito superior ao do placebo e similar ao dos medicamentos sintéticos no tratamento de depressão leve a moderada. Foram analisados 29 estudos, que incluíam, no total, 5.489 pacientes.
Os autores ressaltam que, como há grande variedade de produtos à base de erva-de-são-joão no mercado, os resultados só são aplicáveis para as preparações testadas nos trabalhos incluídos na meta-análise. "É preciso usar extrato de qualidade com as concentrações adequadas dos princípios ativos da planta", diz Demetrio.
Segundo o psiquiatra, o uso e a dosagem devem ser indicados e supervisionados por médicos, e os efeitos começam a ser percebidos após duas semanas, aproximadamente.
O mais importante é saber que a erva-de-são-joão interage com outros medicamentos e não pode ser usada com alguns deles. "O uso associado a outros antidepressivos, por exemplo, pode levar à síndrome serotoninérgica [concentração excessiva de serotonina], que causa de mal-estar a alucinações", afirma Demetrio.
O mesmo pode ocorrer com alguns remédios usados para emagrecimento.
O extrato também diminui a absorção de remédios anticoagulantes e de algumas drogas quimioterápicas, prejudicando o tratamento.
Entre os efeitos adversos, a erva-de-são-joão pode aumentar a fotossensibilidade -causando manchas e eczemas na pele com a exposição à luz- e causar secura na boca e constipação intestinal.
Acupuntura
A acupuntura busca reequilibrar a chamada "energia vital" por meio da estimulação de pontos específicos do corpo. A depressão, dentro dessa perspectiva, é entendida como um desequilíbrio no fluxo energético entre os órgãos. Restaurar esse fluxo e a saúde geral do indivíduo é uma estratégia para lidar com estados de desânimo.
Martius Luz, do setor de medicina chinesa e acupuntura da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), diz que, além da restauração de energia, acredita-se que a acupuntura gere respostas no sistema nervoso central que estimulam a produção de serotonina.
Embora não existam estudos suficientes para comprovar essa teoria, há pesquisas populacionais indicando que as pessoas propensas a usar técnicas de medicina complementar obtêm resultados no tratamento da depressão com acupuntura.
Uma revisão de sete estudos envolvendo 517 pessoas avaliou que não há evidência de que os medicamentos sintéticos sejam melhores do que a acupuntura para diminuir os sintomas de depressão. Por outro lado, os pesquisadores dizem não ter dados para concluir sobre a eficácia da acupuntura por si só.
Para Luz, a acupuntura pode ser usada isoladamente ou com outros tratamentos. O suporte emocional, como a psicoterapia, é importante para o sucesso do tratamento.
Os efeitos começam a surgir após cerca de cinco aplicações, mas podem demorar mais, dependendo da saúde geral e do grau de depressão do paciente. "Para alguns, são necessárias 15 aplicações", afirma Luz.
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terça-feira, 21 de maio de 2013

OMS: PLANO DE AÇÃO PARA SAÚDE MENTAL 2013-2020

OMS: doenças mentais e neurológicas atingem cerca de 700 milhões de pessoas

Agência Brasil
As doenças mentais e neurológicas atingem aproximadamente 700 milhões de pessoas no mundo, representando um terço do total de casos de doenças não transmissíveis, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). Os especialistas advertem que pelo menos um terço dos que sofrem com problemas mentais e neurológicos não tem acompanhamento médico. A revelação está no Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020.
Ao longo desta semana, especialistas estarão reunidos para discutir o assunto, em Genebra, na Suíça, durante a Assembleia Mundial da Saúde. O  Plano de Ação para a Saúde Mental 2013-2020 mostra que as doenças mentais representam 13% do total de todas as doenças do mundo e são um terço das patologias não transmissíveis.
Segundo as estimativas, cerca de 350 milhões de pessoas deverão sofrer de depressão e 90 milhões terão uma desordem pelo abuso ou dependência de substâncias. A OMS define depressão como um transtorno mental comum, caracterizado por tristeza, perda de interesse, ausência de prazer, oscilações entre sentimentos de culpa e baixa autoestima, além de distúrbios do sono ou do apetite. Também há a sensação de cansaço e falta de concentração.
A depressão pode ser de longa duração ou recorrente. Na sua forma mais grave, pode levar ao suicídio. Casos de depressão leve podem ser tratados sem medicamentos, mas, na forma moderada ou grave, as pessoas precisam de medicação e tratamentos profissionais. Segundo a OMS, quanto mais cedo começa o tratamento, melhores são os resultados.
Vários fatores podem levar à depressão, como questões sociais, psicológicas e biológicas. Estudos mostram, por exemplo, que uma em cada cinco mulheres que dão à luz acaba sofrendo depressão pós-parto. Especialistas recomendam que amigos e parentes das pessoas que sofrem de depressão participem do tratamento.
As doenças neurológicas, segundo especialistas, deverão afetar 50 milhões de pessoas, entre elas a epilepsia - doença cerebral crônica que se caracteriza por convulsões recorrentes que podem levar à perda da consciência. Aproximadamente 35 milhões de pessoas deverão sofrer do Mal de Alzheimer, síndrome crônica ou progressiva que leva à perda das funções cognitivas, entre outros distúrbios.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

DSM - 5: CLASSIFICAÇÃO DE NOVAS DOENÇAS MENTAIS

ACORDEI DOENTE MENTAL

A poderosa American Psychiatric Association (Associação Americana de Psiquiatria – APA) lançou neste final de semana a nova edição do que é conhecido como a “Bíblia da Psiquiatria”: o DSM-5. E, de imediato, virei doente mental. Não estou sozinha. Está cada vez mais difícil não se encaixar em uma ou várias doenças do manual. Se uma pesquisa já mostrou que quase metade dos adultos americanos tiveram pelo menos um transtorno psiquiátrico durante a vida, alguns críticos renomados desta quinta edição do manual têm afirmado que agora o número de pessoas com doenças mentais vai se multiplicar. E assim poderemos chegar a um impasse muito, mas muito fascinante, mas também muito perigoso: a psiquiatria conseguiria a façanha de transformar a “normalidade” em “anormalidade”. O “normal” seria ser “anormal”. 
A nova edição do Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) exibe mais de 300 patologias, distribuídas por 947 páginas. Custa US$ 133,08 (com desconto) no anúncio de pré-venda no site da Amazon. Descobri que sou doente mental ao conhecer apenas algumas das novas modalidades, que tem sido apresentadas pela imprensa internacional. Tenho quase todas. “Distúrbio de Hoarding”. Tenho. Caracteriza-se pela dificuldade persistente de se desfazer de objetos ou de “lixo”, independentemente de seu valor real. Sou assolada por uma enorme dificuldade de botar coisas fora, de bloquinhos de entrevistas dos anos 90 a sapatos imprestáveis para o uso, o que resulta em acúmulos de caixas pelo apartamento. Remédio pra mim. “Transtorno Disfórico Pré-Menstrual”, que consiste numa TPM mais severa. Culpada. Qualquer um que convive comigo está agora autorizado a me chamar de louca nas duas semanas anteriores à menstruação. Remédio pra mim. “Transtorno de Compulsão Alimentar Periódica”. A pessoa devora quantidades “excessivas” de comida num período delimitado de até duas horas, pelo menos uma vez por semana, durante três meses ou mais. Certeza que tenho. Bastaria me ver comendo feijão, quando chego a cinco ou seis pratos fundo fácil. Mas, para não ter dúvida, devoro de uma a duas latas de leite condensado por semana, em menos de duas horas, há décadas, enquanto leio um livro igualmente delicioso, num ritual que eu chamava de “momento de felicidade absoluta”, mas que, de fato, agora eu sei, é uma doença mental. Em vez de leite condensado, remédio pra mim. Identifiquei outras anomalias, mas fiquemos neste parágrafo gigante, para que os transtornos psiquiátricos que me afetam não ocupem o texto inteiro. 
Há uma novidade mais interessante do que as doenças recém inventadas pela nova “Bíblia”. Seu lançamento vem marcado por uma controvérsia sem precedentes. Se sempre houve uma crítica contundente às edições anteriores, especialmente por parte de psicólogos e psicanalistas, a quinta edição tem sido atacada com mais ferocidade justamente por quem costumava não só defender o manual, como participar de sua elaboração. Alguns nomes reluzentes da psiquiatria americana estão, digamos, saltando do navio. Como não há cordeiros nesse campo, movido em parte pelos bilhões de dólares da indústria farmacêutica, é legítimo perguntar: perceberam que há abusos e estão fazendo uma “mea culpa” sincera antes que seja tarde, ou estão vendo que o navio está adernando e querem salvar o seu nome, ou trata-se de uma disputa interna de poder em que os participantes das edições anteriores foram derrotados por outro grupo, ou tudo isso junto e mais alguma coisa?  
 
Não conheço os labirintos da APA para alcançar a resposta, mas acredito que vale a pena ficarmos atentos aos próximos capítulos. Por um motivo acima de qualquer suspeita: o DSM influencia não só a saúde mental nos Estados Unidos, mas é o manual utilizado pelos médicos em praticamente todos os países, pelo menos os ocidentais, incluindo o Brasil. É também usado como referência no sistema de classificação de doenças da Organização Mundial da Saúde (OMS). É, portanto, o que define o que é ser “anormal” em nossa época – e este é um enorme poder. Vale a pena sublinhar com tinta bem forte que, para cada nova patologia, abre-se um novo mercado para a indústria farmacêutica. Esta, sim, nunca foi tão feliz – e saudável. 
O crítico mais barulhento do DSM-5 parece ser o psiquiatra Allen Frances, que, vejam só, foi o coordenador da quarta edição do manual, lançada em 1994. Professor emérito da Universidade de Duke, ele tem um blog no Huffington Post que praticamente usa apenas para detonar a nova Bíblia da Psiquiatria. Quando a versão final do manual foi aprovada, enumerou o que considera as dez piores mudanças da quinta edição, num texto iniciado com a seguinte frase: “Esse é o momento mais triste nos meus 45 anos de carreira de estudo, prática e ensino da psiquiatria”. Em carta ao The New York Times, afirmou: “As fronteiras da psiquiatria continuam a se expandir, a esfera do normal está encolhendo”.  
Entre suas críticas mais contundentes está o fato de o DSM-5 ter transformado o que chamou de “birra infantil” em doença mental. A nova patologia é chamada de “Transtorno Disruptivo de Desregulação do Humor” e atingiria crianças e adolescentes que apresentassem episódios frequentes de irritabilidade e descontrole emocional. No que se refere à patologização da infância, o comentário mais incisivo de Allen Frances talvez seja este: “Nós não temos ideia de como esses novos diagnósticos não testados irão influenciar no dia a dia da prática médica, mas meu medo é que isso irá exacerbar e não amenizar o já excessivo e inapropriado uso de medicação em crianças. Durante as duas últimas décadas, a psiquiatria infantil já provocou três modismos — triplicou o Transtorno de Déficit de Atenção, aumentou em mais de 20 vezes o autismo e aumentou em 40 vezes o transtorno bipolar na infância. Esse campo deveria sentir-se constrangido por esse currículo lamentável e deveria engajar-se agora na tarefa crucial de educar os profissionais e o público sobre a dificuldade de diagnosticar as crianças com precisão e sobre os riscos de medicá-las em excesso. O DSM-5 não deveria adicionar um novo transtorno com o potencial de resultar em um novo modismo e no uso ainda mais inapropriado de medicamentos em crianças vulneráveis". 
A epidemia de doenças como TDAH (Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade) tem mobilizado gestores de saúde pública, assustados com o excesso de diagnósticos e a suspeita de uso abusivo de drogas como Ritalina, inclusive no Brasil. E motivado algumas retratações por parte de psiquiatras que fizeram seu nome difundindo a doença. Uma reportagem do The New York Times sobre o tema conta que o psiquiatra Ned Hallowell, autor de best-sellers sobre TDAH, hoje arrepende-se de dizer aos pais que medicamentos como Adderall e outros eram “mais seguros que Aspirina”. Hallowell, agora mais comedido, afirma: “Arrependo-me da analogia e não direi isso novamente”. E acrescenta: “Agora é o momento de chamar a atenção para os perigos que podem estar associados a diagnósticos displicentes. Nós temos crianças lá fora usando essas drogas como anabolizantes mentais – isso é perigoso e eu odeio pensar que desempenhei um papel na criação desse problema”. No DSM-5, a idade limite para o aparecimento dos primeiros sintomas de TDAH foi esticada dos 7 anos, determinados na versão anterior, para 12 anos, aumentando o temor de uma “hiperinflação de diagnósticos”.  
Pensar sobre a controvérsia gerada pelo nova “Bíblia da Psiquiatria” é pensar sobre algumas construções constitutivas do período histórico que vivemos. Construções culturais que dizem quem somos nós, os homens e mulheres dessa época. A começar pelo fato de darmos a um grupo de psiquiatras o poder – incomensurável – de definir o que é ser “normal”. E assim interferir direta e indiretamente na vida de todos, assim como nas políticas governamentais de saúde pública, com consequências e implicações que ainda precisam ser muito melhor analisadas e compreendidas. Sem esquecer, em nenhum momento sequer, que a definição das doenças mentais está intrinsicamente ligada a uma das indústrias mais lucrativas do mundo atual.
Parte dos organizadores não gosta que o manual seja chamado de “Bíblia”. Mas, de fato, é o que ele tem sido, na medida em que uma parcela significativa dos psiquiatras do mundo ocidental trata os verbetes como dogmas, alterando a vida de milhões de pessoas a partir do que não deixa de ser um tipo de crença. Talvez seja em parte por isso que o diretor do National Institute of Mental Health (Instituto Nacional de Saúde Mental – NIMH), possivelmente a maior organização de pesquisa em saúde mental do mundo, tenha anunciado o distanciamento da instituição das categorias do DSM-5. Thomas Insel escreveu em seu blog que o DSM não é uma Bíblia, mas no máximo um “dicionário”: “A fraqueza (do DSM) é sua falta de fundamentação. Seus diagnósticos são baseados no consenso sobre grupos de sintomas clínicos, não em qualquer avaliação objetiva em laboratório. (...) Os pacientes com doenças mentais merecem algo melhor”. O NIMH iniciou um projeto para a criação de um novo sistema de classificação, incorporando investigação genética, imagens, ciência cognitiva e “outros níveis de informação” – o que também deve gerar controvérsias.
A polêmica em torno do DSM-5 é uma boa notícia. E torço para que seja apenas o início de um debate sério e profundo, que vá muito além da medicina, da psicologia e da ciência. “Há pelo menos 20 anos tem se tratado como doença mental quase todo tipo de comportamento ou sentimento humano”, disse a psicóloga Paula Caplan à BBC Brasil. Ela afirma ter participado por dois anos da elaboração da edição anterior do manual, antes de abandoná-la por razões “éticas e profissionais”, assim como por ter testemunhado “distorções em pesquisas”. Escreveu um livro com o seguinte título: “Eles dizem que você é louco: como os psiquiatras mais poderosos do mundo decidem quem é normal”.
A vida tornou-se uma patologia. E tudo o que é da vida parece ter virado sintoma de uma doença mental. Talvez o exemplo mais emblemático da quinta edição do manual seja a forma de olhar para o luto. Agora, quem perder alguém que ama pode receber um diagnóstico de depressão. Se a tristeza e outros sentimentos persistirem por mais de duas semanas, há chances de que um médico passe a tratá-los como sintomas e faça do luto um transtorno mental. Em vez de elaborar a perda – com espaço para vivê-la e para, no tempo de cada um, dar um lugar para essa falta que permita seguir vivendo –, a pessoa terá sua dor silenciada com drogas. É preciso se espantar – e se espantar muito.
Vale a pena olhar pelo avesso: quem são essas pessoas que acham que o “normal” é superar a perda de uma mãe, de um pai, de um filho, de um companheiro rapidamente? Que tipo de ser humano consegue essa proeza? Quem seríamos nós se precisássemos de apenas duas semanas para elaborar a dor por algo dessa magnitude? Talvez o DSM-5 diga mais dos psiquiatras que o organizaram do que dos pacientes. 
Há ainda mais uma consequência cruel, que pode provocar muito sofrimento. Ao transformar o que é da vida em doença mental, os defensores dessa abordagem estão desamparando as pessoas que realmente precisam da sua ajuda. Aquelas que efetivamente podem ser beneficiadas por tratamento e por medicamentos. Se quase tudo é patologia, torna-se cada vez mais difícil saber o que é, de fato, patologia. Por sorte, há psiquiatras éticos e competentes que agem com consciência em seus consultórios. Mas sempre foi difícil em qualquer área distinguir-se da manada – e mais ainda nesta área, que envolve o assédio sedutor, lucrativo e persistente dos laboratórios. 
Se as consequências não fossem tão nefastas, seria até interessante. Ao considerar que quase tudo é “anormal”, os organizadores do manual poderiam estar chegando a uma concepção filosófica bem libertadora. A de que, como diria Caetano Veloso, “de perto ninguém é normal”. E não é mesmo, o que não significa que seja doente mental por isso e tenha de se tornar um viciado em drogas legais para ser aceito. Só se pode compreender as escolhas de alguém a partir do sentido que as pessoas dão às suas escolhas. E não há dois sentidos iguais para a mesma escolha, na medida em que não existem duas pessoas iguais. A beleza do humano é que aquilo que nos une é justamente a diferença. Somos iguais porque somos diferentes. 
Esse debate não pertence apenas à medicina, à psicologia e à ciência, ou mesmo à economia e à política. É preciso quebrar os monopólios sobre essa discussão, para que se torne um debate no âmbito abrangente da cultura. É de compreender quem somos e como chegamos até aqui que se trata. E também de quem queremos ser. A definição do que é “normal” e “anormal” – ou a definição de que é preciso ter uma definição – é uma construção cultural. E nos envolve a todos. Que cada vez mais as definições sobre normalidade/anormalidade sejam monopólios da psiquiatria e uma fonte bilionária de lucros para a indústria farmacêutica é um dado dos mais relevantes – mas está longe de ser tudo. 
E não, eu não acordei doente mental. Só teria acordado se permitisse a uma Bíblia – e a pastores de jaleco – determinar os sentidos que construo para a minha vida. 

Texto de Eliane Blum
REVISTA ÉPOCA

  

sábado, 18 de maio de 2013

A LUTA ANTIMANICOMIAL SE FAZ TODO DIA

Bom Jesus. O melhor local da casa é o cárcere de G., em 2010 tinha 25 anos e um história digna de um livro com enredo de drama sertanejo a la Graciliano Ramos ou Raquel de Queiroz.

Duas grandes guerreiras da luta antimanicomial no Piauí, agradeço as duas, momentos de aprendizagem, do ataque e da ternura. Lúcia Rosa e Marta Evelin

Encontrei esse pessoal da Âncora em passseio em Parnaíba em 2011.

Gestoras da Gerência de Saúde Mental, da equipe que lutou entre tantas coisas para fechar o Sanatório Meduna: Gisele Martins e Rosário Nunes. Saudades.

Grande companheiro da luta por uma saúde mental de qualidade no Piauí, psiquiatra Ralph Webster.

A bela e a fera dos direitos das pessoas que vivem com transtornos mentais no Piauí, promotora Cláudia Seabra e psiquiatra piauiense, à época assessor do Ministério da Saúde, Edmar Oliveira.

Raras reuniões do Ninho.

Lá, e sua longa e dificil remissão dos sintomas. Voltou a estudar e apareceram espinhas numa profusão enorne no seu rosto. Será efeito colateral das medicações?

Cena inusitada. O que não faço por um louco? Entregando um chapéu de carnaval para então presidente da Fundação Cultural Monsenhor Chaves, meu amigo, artista plástico não recebeu nem uma resposta por telefone, agradecimento, etc. Não acredita que entreguei o tal chapéu. Deveria ter fotografado lá dentro.

Dando uma forcinha para causa da diversidade. Luta parceira.

SERVIÇO SOCIAL E SAÚDE MENTAL


Ilustração de sujeito com tambor na mão e dizeres
Cartaz assinado por várias entidades, entre elas o Conselho Federal de Psicologia e a Rede Nacional da Luta Antimanicomial, para dar destaque à data (Ilustração: Rogério Sena) 


No Dia da Luta Antimanicomial, 18 de maio, é importante destacar que a problematização sobre a violação de direitos das pessoas que vivem em sofrimento psíquico no Brasil não se encontra isolada do contexto mais amplo das violações de direitos nas sociedades ocidentais, que, nesse momento, estão também se defrontando com essa mesma questão, constituindo experiências singulares e também similares entre si.
 
A aprovação da Lei Paulo Delgado, em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, constituiu passo importante da luta antimanicomial brasileira, como marco institucional para a substituição dos manicômios no país, bandeira do movimento e objeto estratégico de enfrentamento. Esse acontecimento impulsionou a criação de espaços alternativos de tratamento, substitutivos à internação hospitalar.
 
Todo esse processo de luta e conquistas tem sofrido os impactos da política neoliberal de desmonte do Estado, de desregulamentação dos direitos sociais, da transferência das responsabilidades do Estado para a esfera privada, privatizações, violação de direitos, dentre outros. Nos anos recentes, a problemática do uso e abuso de álcool e outras drogas, especialmente o crack, tem provocado debates em torno das ações (governamentais e não governamentais) de enfrentamento que violam direitos e não garantem a oferta de tratamento de saúde pública e atenção aos/às usuários/as de drogas.
 
Diante desse debate desafiador e instigante, o Conjunto CFESS-CRESS reafirma a disposição de enfrentamento da discussão no âmbito da saúde mental, na perspectiva da consolidação dos princípios consignados na luta pela reforma psiquiátrica no Brasil, conforme as proposições que seguem, aprovadas em seu 41º Encontro Nacional, realizado em 2012, em Palmas (TO):
 
1) Fortalecer a luta pela plena efetivação da reforma psiquiátrica e dos mecanismos de atenção aos/às usuários/as dos serviços de saúde mental, álcool e outras drogas, articulado com o controle social e movimentos sociais, por meio de:
 
  • defesa da ampliação e dos investimentos nos serviços da rede pública de atenção integral (CAPs gerais, CAPs AD, CAPs Infantil, Centros de Convivência, Centros de Acolhimento Transitório, Leitos para Desintoxicação em Hospitais Gerais, Leitos Psiquiátricos em HG, Residências Terapêuticas, dentre outros) às pessoas em sofrimento mental e usuários/as de substâncias psicoativas, posicionando-se contra a privatização dos serviços de saúde mental, particularmente para os que funcionam 24h, bem como aqueles voltados aos cuidados das populações específicas, como o CAPS III, CAPS AD e CAPS Infantil;
 
  • defesa da expansão e consolidação dos Serviços de Residência Terapêutica (SRT), em articulação com a política habitacional;
 
  • fortalecimento dos movimentos sociais para a interlocução com os demais conselhos de profissões regulamentadas, buscando o protagonismo dos/as usuários/as e familiares da saúde mental, álcool e outras drogas;
 
  • incentivo à participação dos/as assistentes sociais nos movimentos sociais, grupos temáticos, conselhos de direitos e demais espaços de mobilização, fomentando o debate sobre a reforma psiquiátrica;
 
  • incidência política junto às instâncias de gestão e de deliberação acerca dos critérios de implantação dos serviços de saúde mental, especialmente os CAPs, possibilitando que mais usuários/as tenham acesso a esses serviços especializados;
 
  • garantia e acompanhamento da efetivação das deliberações da IV Conferência Nacional Intersetorial de Saúde Mental;
 
  • defesa e fortalecimento da Política Nacional de Redução de Danos como possibilidade de cuidado e promoção da saúde, endossando o seu caráter intersetorial, com destaque para as políticas de educação pública e de defesa dos direitos, posicionando-se contrariamente ao Plano Crack: é possível vencer;
     
  • contribuição com a constituição dos núcleos da luta antimanicomial;
 
  • contribuição com a criação e fomento à participação das/os assistentes sociais em fóruns e outros espaços democráticos no campo da saúde mental e Política Nacional de Álcool e outras Drogas;
 
  • defesa da garantia de financiamento com aumento de recursos financeiros garantidos pelas três esferas de governo, com mudanças na forma de financiamento dos serviços substitutivos.
 
O Conselho Federal de Serviço Social (CFESS) destaca que a política de saúde e a política de enfrentamento ao uso de álcool, crack e outras drogas precisa estar pautada nos princípios do Sistema Único de Saúde (SUS) público e universal, tão bem referendado pelas Conferências Nacionais de Saúde e de Saúde Mental. Os/as assistentes sociais reafirmam seu posicionamento: em favor da ampliação do debate sobre os usos de drogas na realidade brasileira, na sua relação com a questão social, pela plena efetivação da reforma psiquiátrica e dos mecanismos de atenção aos/às usuários/as dos serviços de saúde mental, álcool e outras drogas, articulado com o controle social e movimentos sociais; contrário à internação e ao abrigamento involuntário e compulsório, reforçando a luta dos movimentos sociais em defesa dos direitos humanos; contra todas as formas de privatização da política de saúde mental.


Feliz por ter abraçado esta profissão, e está tanto na educação quanto na saúde. Um trabalho que me gratifica, me dá resiliência e orgulho.
 

sexta-feira, 17 de maio de 2013

18 DE MAIO: SEM LUTA ANTIMANICOMIAL EM TERESINA

Ex paciente do Meduna, ainda se interna no HAA, M. usa medicação convencional. Seu cárcere fica perto da minha casa. Amanhã, dia nacional da luta antimanicomial ela passará lá, presa..

Eu, participando de uma roda de conversa sobre saúde mental nos terreiros, em 2011

Agradecida ao HAA pela contribuição de algumas equipes nos cuidados com pacientes, e esperançosa que se torne realmente um hospital geral, que a clínica da saúde mental seja apenas uma parte, e sem grades nas enfermarias. Aqui com seu diretor clínico, psiquiatra Edwyrton Freitas.

Prédio do Ministério Público em Teresina. Parceiro na luta. Temos alguns processos administrativos (PAs) contra o Estado e FMS que deram resultados positivos: implementação da gerência municipal de saúde mental, mudanças no CAPS i, chegada de médicos no CAPS sudeste, escalonamento semanal do transporte para atender todos os CAPS, etc.

Aqui em 2011 na  SDU sudeste lutando por uma sede. Pleiteando espaços públicos abandonados, cheio de mato e telhas quebradas. Até hoje não conseguimos.

Esperando mães de uma escola para realização de Terapia Comunitária. Durante três semanas, nenhuma compareceu, desisti.

Conseguindo com meu amigo Magno, sociólogo, funcionário da UFPI, um espaço para o Consultório Ampliado no CCE,  espécie de roda de conversa com especialistas e usuários. Muitos técnicos acharam que era curso e os usuários não apareceram durante três semanas. Desisti.

Auristela e eu, mãe de uma das melhores amigas de minha filha ( amigas da escola pública). Continuamos precisando colocar uma portinha no banheiro dela.

NISE DA SILVEIRA E A REFORMA PSIQUIATRA: COPIA PIAUÍ!!

Museu de Imagens do Inconsciente

Histórico
Inaugurado em 20 de maio de 1952, o Museu de Imagens do Inconsciente é uma criação da psiquiatra Nise da Silveira (1906 - 1999), fruto de seu trabalho no Centro Psiquiátrico Pedro II (atual Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira), no bairro do Engenho de Dentro, Rio de Janeiro, no qual passa a trabalhar em 1944. Um "centro vivo de estudo e pesquisa", na definição da médica, que reúne acervo das pinturas, desenhos e esculturas dos freqüentadores do Setor de Terapia Ocupacional e Reabilitação - STOR, por ela dirigido entre 1946 e 1974. Recusando os tratamentos psiquiátricos tradicionais, Nise da Silveira lança mão das teorias da antipsiquiatria, da psicologia de Carl Gustav Jung (1875-1961) e dos desenvolvimentos na área específica da teoria ocupacional para a recuperação dos doentes mentais. Enfatizando a importância do contato afetivo e da expressão criativa no processo de cura, ela abre uma série de ateliês no interior do STOR - encadernação, música, modelagem, pintura, teatro etc. -, orientando os monitores a não interferirem na produção dos pacientes. Em 9 de setembro de 1946, precisamente, começa a funcionar o ateliê de pintura - embrião do museu - supervisionado pela própria médica e pelo pintor Almir Mavignier (1925). O Museu de Imagens do Inconsciente continua existindo até hoje graças à "Sociedade dos Amigos do Museu do Inconsciente", à sua fama internacional e ao sucesso artístico de muitas obras e artistas.

Nascida em Maceió e formada pela Faculdade de Medicina da Bahia, em 1926, Nise da Silveira começa sua carreira como psiquiatra no Hospital da Praia Vermelha, hoje Pinel, no Rio de Janeiro, em 1933. Durante a Revolta Comunista de 1935, é presa por ser simpatizante do movimento. Por um ano e quatro meses, permanece na Casa de Detenção, onde conhece o escritor Graciliano Ramos (1892 - 1953), que faz referências a ela em seu livro Memórias do Cárcere. Em 1944, volta à ativa como psiquiatra, no Centro Pedro II, no Engenho de Dentro. O êxito de seu trabalho com os doentes e a criação de uma equipe, levam-na a projetar a Casa das Palmeiras, inaugurada em 1956, para dar suporte aos egressos do hospital psiquiátrico. Nessa instituição independente de convênios, espécie de "território livre", a doutora Nise amplia seu método de trabalho, ancorado na atividade criadora, na articulação entre razão e sentimento, corpo e psique. Se a arte ocupa lugar central na prática terapêutica empregada, a intenção não é, nem nunca foi, segundo ela, produzir obras de arte nem artistas, mas oferecer caminhos para que os doentes exprimam seus conflitos internos por meio de uma linguagem simbólica. Com portas e janelas abertas, sem enfermeiros nem profissionais de jalecos, repleta de bichos - seus "co-terapeutas" -, a Casa das Palmeiras representa uma experiência inédita no campo da psiquiatria. A instituição funciona em sua terceira sede - hoje na rua Sorocaba, no bairro de Botafogo. Dos pacientes que por ali passam, a maior parte não retorna ao hospital psiquiátrico.

Apesar do cuidado da doutora Nise em não emitir juízos artísticos sobre as obras produzidas, mas em se concentrar nos problemas científicos levantados por essas produções, os trabalhos realizados, primeiro no STOR e depois na Casa das Palmeiras, são acolhidos com entusiasmo pelo meio artístico da época. As visitas regulares do crítico Mário Pedrosa (1900 - 1981) ao ateliê de pintura - levando até lá escritores e artistas como o poeta Murilo Mendes (1901 - 1975), os pintores Ivan Serpa (1923 - 1973) e Abraham Palatnik (1928), além do diretor do Museu de Arte Moderna de São Paulo - MAM/SP, Léon Dégand (1907 - 1958) - são responsáveis por uma série de exposições dos pintores do Engenho de Dentro. Em 1947, o salão do antigo Ministério da Educação e Cultura recebe 245 trabalhos. Mário Pedrosa, em artigo publicado no Correio da Manhã, em sete de fevereiro de 1947, é enfático em relação à qualidade das obras: "(...) ninguém impede que essas imagens sejam, além do mais, harmoniosas, sedutoras, dramáticas, vivas ou belas, enfim constituindo verdadeiras obras de arte". Em 1949, nova mostra, desta vez no MAM/SP: 9 Artistas do Engenho de Dentro, reunião de trabalhos selecionadas por Dégand. Nova reação entusiasmada de Pedrosa, em 1950: "Os artistas do Engenho de Dentro superam qualquer respeito a convenções acadêmicas estabelecidas e quaisquer rotinas da visão naturalista e fotográfica. Em nenhum deles as receitas da escola são levadas em consideração". Em 1950, obras do museu são expostas em Arte Psicopatológica, no 1º Congresso Internacional de Psiquiatria, em Paris. Em 1957, é o próprio Jung quem inaugura uma exposição de pinturas de imagens do Museu do Inconsciente, no 2º Congresso Internacional de Psiquiatria, em Zurique.

O trabalho de Nise da Silveira à frente do Museu de Imagens do Inconsciente revela ao público uma série de artistas e obras de valor inegáveis, embora muitas vezes difíceis de serem classificados do ponto de vista do estilo. "Não sendo filiados a quaisquer 'escolas' ", afirma a doutora Nise, "nossos pintores passam da abstração ao figurativismo e vice-versa de acordo com sua situação face ao mundo externo e suas vivências internas". Arthur Amora teve breve passagem pelo hospital na década de 1940. Dos trabalhos iniciais - cópias de caixas de dominós - parte para obras geométricas em preto-e-branco, produzidas entre 1949 e 1951. Emygdio de Barros (1895-1986), freqüenta o ateliê em 1947 e, a partir de então, não pára mais de trabalhar: pinta cerca de 3.000 quadros, sobretudo paisagens de cores vibrantes. Raphael (1912-1979), internado aos 19 anos, é o único que havia estudado desenho, que é o seu forte: naturezas-mortas e paisagens, objetos, plantas, figuras humanas. Adelina (1916-1984) realiza pinturas e esculturas, em que predominam imagens femininas (a "grande mãe", tema arquetípico nos casos clínicos de mulheres psicóticas, segundo a doutora Nise). Os trabalhos de Isaac (1906-1966) são eminentemente figurativos: paisagens e marinhas. Nas obras de Carlos Pertuis (1910-1977), as formas aparecem emolduradas, os volumes rigorosamente definidos em obras geométricas e composições complexas.

Fernando Diniz (1918-1999), um dos artistas mais célebres do grupo, pinta letras, números, paisagens, interiores e composições geométricas. O tema da casa - da casa onírica que jamais existe - é uma constante em seu trabalho: o assoalho (que define as linhas básicas da composição), os candelabros, poltronas, pianos, aquários etc. Diz ele: "Eu primeiro fiz um pedaço de cada canto e depois juntei tudo num quadro só (...). É como aprender as letras "a, e, i, o, u". A gente aprende uma por uma para depois juntar e fazer uma palavra. As letras são mais fáceis de juntar do que as imagens. As figuras são mais difíceis para ligar. As letras a gente sabe logo, as figuras nunca se sabe totalmente".

Atualizado em 16/01/2009
Retirado de uma página no Facebook (sem referências da fonte original)
As atividades desenvolvidas nos espaços de Terapias Ocupacionais em nossos CAPS e hospital psiquiátrico de referência, HAA são apenas "ocupacionais". No momento da crise aguda e com uma medicação mais intensa, é bastante difícil para o paciente perceber, sentir a função terapêutica da ocupação. A agitação psicomotota e mental a medida que a crise vai debelando-se para moderada, leve e remissão continuada dos sintomas, o paciente em nossas T.O. s podem irem trançando cestas de palha ou nailon,pintando potinhos de cerâmica ou vidro, fazendo bijouterias, trabalhando com material reciclável... telas? Difícil vê-las ultimamente. Artesãos ou artistas plásticos, com a reabilitação psicossocial que meios a rede de saúde mental intersetorializada tem usado para que estes ganhem dinheiro com o talento descoberto nestes espaços?

quarta-feira, 15 de maio de 2013

35 ANOS DA LEI 180: PSIQUIATRIA DEMOCRÁTICA ITALIANA!

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Os 35 anos (e a atualidade) da Lei Basaglia

            No dia 13 de Maio de 1978, há exatamente 35 anos, o Parlamento Italiano aprovava a tão polêmica Lei 180, a Lei da Reforma Psiquiátrica que representava o reconhecimento da luta pelos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental, através de um movimento que marcou a contemporaneidade com uma nova forma de lidar com a loucura. Esta data inspirou a criação no Brasil do Dia Nacional da Luta Antimanicomial, que passou a ser comemorado no dia 18 deste mesmo mês.
            O Movimento denominado Psiquiatria Democrática Italiana reunia ações e debates em torno dos direitos humanos, sociais, culturais, entre outros que ocorriam em várias partes do mundo após a II Guerra Mundial, quando as atrocidades dos campos de concentração nazista vieram à tona. A garantia pelas liberdades individuais e coletivas se tornou o eixo das lutas políticas que se seguiram após a II Guerra.
            Alguns movimentos marcam este período. Os movimentos nos Estados Unidos que lutavam pela paz e contra a Guerra do Vietnam e que teve no Festival de Woodstock seu grande apogeu; o Movimento Estudantil que lutava por liberdade, qualidade de vida e cultura para os jovens; o Movimento Negro que lutava pelos direitos civis e políticos nos Estados Unidos; o Movimento Feminista que lutava contra a discriminação da mulher e pela igualdade de seus direitos; o Movimento de Reforma Sanitária no Brasil que lutava por ações, políticas e serviços de saúde e contra a ditadura militar; e, em torno de importantes estudiosos, os movimentos que lutavam pela dignidade e pelos direitos dos usuários dos serviços de saúde mental: os loucos. Dentre eles destacam-se, a Rede Internacional de Alternativas a Psiquiatria, que atuava muito próximo ao Movimento de Contracultura e o Movimento Psiquiatria Democrática Italiana.
            Como ação concreta destas lutas no campo da saúde mental, o Movimento Psiquiatria Democrática Italiana, conseguiu a aprovação da Lei 180, também conhecida como Lei Basaglia, em referência a um dos mais importantes personagens desta história, Franco Basaglia. A partir deste momento, a loucura passa a ser tratada de outra forma. O cuidado, a escuta, a participação, a solidariedade passaram a compor o campo das ações nas políticas públicas de saúde mental.
            Deste modo, com a aprovação da Lei 180, uma série de serviços e práticas foi criada para dar conta deste novo olhar sobre a loucura: Centros de Saúde Mental; Cooperativas de Trabalho; Residência para ex-egressos dos manicômios; Ações Culturais, entre outras ações que atendiam as necessidades de um sujeito em liberdade, na cidade, em sua vida cotidiana.
            Passados 35 anos da aprovação da Lei Basaglia, ainda são grandes os desafios que a Reforma Psiquiátrica enfrenta. Apesar das ações italianas serem consideradas modelo pela Organização das Nações Unidas (ONU) e servirem de referência para várias partes do mundo, o momento atual no Brasil exige atenção.
            Por conta do uso abusivo do crack, resultado de uma situação de miséria em que vivem várias pessoas com diferentes dificuldades sociais, os princípios que norteiam a reforma voltam a ser questionados, principalmente o que aponta que o melhor tratamento que pode ser oferecido a uma pessoa deve ser dado em um ambiente de liberdade e respeito aos direitos humanos.
            A Associação Brasileira de Saúde Mental (ABRASME) no dia de hoje vem a publico trazer a todos os militantes da Reforma Psiquiátrica, a memória destas ações que acredita nos ideais de respeito, fraternidade e solidariedade no atendimento às pessoas que possuem algum tipo de sofrimento psíquico.  
            Pela consolidação da Reforma Psiquiátrica brasileira!
           
Associação Brasileira de Saúde Mental
ABRASME

LUTA ANTIMANICOMIAL NO SUL (COPIA PIAUÍ!)

Arte e loucura nas ruas aproximam população da luta antimanicomial

Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Rachel Duarte 
Apesar dos esforços de alguns setores para acabar com o modelo dos manicômios que surgiram no início do século 19, autoridades brasileiras ainda defendem o uso de instituições de confinamento total para tratamento de dependentes químicos e pessoas com problema de saúde mental. Contra este pensamento, o dia 18 de maio foi instituído como o Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Criado em 1987, quando ocorreu a primeira Conferência Nacional de Saúde Mental, a data auxilia no avanço da reforma psiquiátrica no país. No Rio Grande do Sul, uma extensa agenda pretende sensibilizar a sociedade sobre o tema por meio de debates, audiências públicas e intervenções urbanas que misturam arte e loucura.
Nesta segunda-feira (13), quem passou pelo Largo Glênio Peres foi provocado a participar das atividades organizadas pela Secretaria Estadual de Saúde em parceria com a Prefeitura de Porto Alegre, Universidade Federal do Rio Grande do Sul e entidades parceiras. Sem precisar fazer nenhum convite direto, a estrutura montada no Centro de Porto Alegre atraiu desde os curiosos que apenas espiavam de longe até os que faziam questão de entrar na brincadeira.
Ex-usuário da Saúde Mental diz que se libertou do sofrimento psíquico por meio da arte | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Um grupo voluntário de artistas se encarregou de estender faixas enormes no chão do Largo e pintou ao vivo palavras relacionadas à luta antimanicomial. Ainda sujo de tinta, o artista Alexandro Monteiro, disse que por meio da arte se libertou de seu sofrimento psiquiátrico. “Fiz tratamento no CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) de Canoas. Sou natural do Rio de Janeiro, onde descobri uma bipolaridade. Agora estou retomando a minha vida com calma, tranquilidade e um pouco de ansiedade, pois todo mundo tem. A arte ajuda a libertar o paciente que está no grau de estresse, ansiedade e loucura. A arte é isso”, falou, estourando um balão em frente à reportagem.
Monteiro é ex-usuário do serviço estadual de Saúde Mental e esta semana trabalha como voluntário do grupo de artistas que realizará uma série de intervenções urbanas por meio da arte. O grupo de atores foi convidado pela funcionária da Coordenação Estadual de Saúde Mental, Carolina Pomer para desenvolver a agenda da Semana de Luta Antimanicomial do RS. “Pensamos em ocupar a cidade com a loucura, que tem tudo a ver com a arte. O isolamento nas instituições é o mesmo princípio da lógica de higienização das ruas, de retirar das nossas vistas aquilo que não queremos ver. Estamos vendo isso neste debate sobre a internação compulsória em discussão no Congresso Nacional. Esta é, de certa forma, uma realidade vivenciada na prática pelos atores que sofrem repressão por realizar intervenções urbanas ou manifestações artísticas nas ruas”, compara.
Jogo de vôlei no meio do Largo Glênio Peres atraiu público que passava pelo Centro de Porto Alegre |  Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
‘Consultório’ na calçada descontroi lógica convencional das instituições 
Pessoas passavam pela rua e se sentiam provocadas a ‘fazer uma consulta’. Sem medicamentos ou médicos, os artistas conversavam e davam chocolate aos ‘pacientes’ | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Além das oficinas teatrais, ações simples estimulam as pessoas nas ruas a deixar de lado a correria e dedicar alguns minutos à própria alegria e lazer. O que era visto como ‘papo de louco’ por alguns que circularam pelo Largo Glênio Peres. Os mais abertos rebatiam uma bola arremessada pelos atores no primeiro que cruzava o espaço em que jogavam vôlei. Alguns, mesmo com maletas e bolsas, se esforçavam para rebater. Outros acharam tudo muito esquisito.
Por meio do grupo de voluntários do grupo Espaço Liso, coordenado por professores da Ufrgs, um pseudo-consultório psiquiátrico foi montado no meio do Largo. Artistas e psicólogos usavam jalecos e sentados a uma mesinha realizavam consultas na hora. Os pacientes não eram convidados e mesmo assim, fizeram do espaço um dos mais requisitados da oficina. “Eu vi o pessoal da medicina aqui e sentei para conversar um pouco”, relatou Jorge Adroaldo Marques da Silva que parou para um ‘atendimento’.
Sem saber que não se tratavam de médicos ou psiquiatras, o senhor de 59 anos parou e realizou longa conversa com as ‘doutoras’. Ao final, recebeu um receituário especial que na verdade o recomendava seguir falante e animado com a vida, além de alguns pequenos chocolates coloridos, para simular medicamentos. “A ideia de utilizar estes instrumentos é para desconstruir a lógica convencional da instituição, com receituários e remédios controlados. É uma brincadeira que tenta desmitificar o encontro com o psiquiatra e mostrar que outras coisas podem fazer bem para as pessoas, como tomar mais sol, conversar, fazer um passeio”, explica a professora Eleonora Valenzuela Graebin.
As intervenções urbanas antimanicomiais seguirão acontecendo pela manhã e à tarde até o próximo sábado (18), Dia Nacional da Luta Antimanicomial. Nesta terça-feira (14), a ação ocorrerá a partir das 17 horas, na frente da Escola de Saúde Pública, na Avenida Ipiranga. Na quarta-feira (15), o foco será um debate com autoridades ligadas à saúde mental, na Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. A audiência pública está marcada para as 09h40min no Plenarinho e também debaterá a internação compulsória de dependentes químicos. A partir das 18 horas, ocorrerá o lançamento do Clube de Cinema São Pedro Cidadão, com sessões comentadas de filmes relacionados ao tema.
Peça teatral faz integração entre usuários da saúde mental brasileira e italiana 
Coordenadora do grupo de usuários-artistas, a funcionária Carolina Pomer diz que histórias reais de usuários são verdadeiros espetáculos em cena |  Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Já na quinta-feira (16), a oficina ocorrerá às 17h30min na Praça do Planetário e a partir das 19h30min no Hospital Psiquiátrico São Pedro, onde também ocorrerá show artístico com o grupo Lá Fora. Na sexta-feira (17), as atividades também serão focadas na instituição. O ponto alto da programação será no sábado (18), com a apresentação do espetáculo teatral ‘Azul como Liberdade’, uma parceria da academia italiana de teatro Della Follia com a Secretaria Estadual de Saúde.
“São usuários de uma instituição manicomial extinta na Itália. Os nossos usuários do São Pedro e da rede de saúde mental estão ensaiando (para atuar com eles) há três meses. Eles têm o corpo institucionalizado. São vidas de quase 40 anos dentro de uma instituição. Alguns tomam medicação psiquiátrica que deixa o corpo todo enrijecido. Nosso desafio é trazer, com um olhar de fora, um corpo presente, fazendo os que não falam voltar a falar, puxando a voz interior ou mesmo o silêncio de quem não falava mais, porque não tinha mais com quem falar”, revela Carolina Pomer, que ensaia o grupo. Segundo ela, o espetáculo, marcado para as 20h no Hospital São Pedro, deve emocionar o público. “As histórias de vida deles já são peças inteiras, quase filmes que colocamos em cena. Se tu colocas isso em peça, alguns acham exagero, mas é a pura realidade”, conta.
Além da programação de sensibilização por meio da arte, a Semana de Luta Antimanicomial pretende aproximar as pessoas de algo que não lhes é tão distante, ao contrário do que muitos acreditam. Segundo a Organização Mundial da Saúde, pelo menos 10% da população global tem sofrimento mental e 3% terá sofrimento psíquico grave persistente em algum momento da vida.
“Lutamos pelo cuidado em liberdade”, diz funcionária da Saúde Mental do RS
Saúde Mental do RS gasta em média R$ 5 mil/mês por leito psiquiátrico. São quase 1,3 mil leitos reservados em hospitais do estado | Foto: Bernardo Jardim Ribeiro/Sul21
Para a representante da Coordenação de Saúde Mental do RS, Ana Carolina Rios, a semana também pode fortalecer o movimento contra o tratamento de pacientes em instituições fechadas. “É um debate antigo. A Lei da Reforma Psiquiátrica já tem 20 anos e na década de 80 esta luta foi mais próxima da população. Não temos como transformar sem envolver a população. O debate de hoje envolve os usuários de drogas, com discussão de iniciativas retrógradas de internação compulsória e instituição total. Estamos trabalhando junto ao governo federal por melhores condições de trabalho contra as privatizações na saúde para melhor atendimento na rede e na ampliação da estrutura”, conta.
A rede pública de saúde do Rio Grande do Sul conta com 167 Centros de Atenção Psicossocial (Caps) para atendimento em saúde mental. Há também 1.245 leitos psiquiátricos reservados nos hospitais do RS. Para mantê-los, o estado desembolsa mensalmente uma média de R$ 5 mil por leito. Nos municípios com menos de 20 mil habitantes, os Caps são substituídos por equipes do Programa de Saúde da Família. “Lutamos pelo cuidado em liberdade e queremos mostrar que existe uma rede pública de cuidado, que as pessoas contrárias a esta ideia desconhecem”, fala.
Segundo Ana Carolina, o importante é aproveitar o evento lúdico organizado nesta semana para conscientizar as pessoas que o fundamental neste debate é não retroceder no que já se conquistou ao longo dos anos. “Acreditamos que envolve todos. Nosso modo de viver contemporâneo tem vários motivos que podem nos levar a sofrimento mental. A nossa vida super acelerada, os problemas de acesso às políticas públicas, os abusos nas relações trabalhistas, enfim, em algum momento precisaremos de algum cuidado, seja da rede especializada ou da rede familiar e de solidariedade. É algo que diz respeito a todos, portanto tem que ser uma luta de todos”, diz. E complementa: “Se nós cederemos às pressões das posições mais conservadoras de que o cuidado em saúde mental só pode ser feito por especialista dentro de uma unidade fechada e com longa permanência, qualquer hora dessas um de nós pode estar lá dentro sendo privado de direitos e de sua liberdade”.

SUL 21

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.