terça-feira, 31 de março de 2009

AUTOGERENCIAMENTO DO HUMOR PESSOAL ,CONTROLE E PREVENÇÃO DE CRISES & MILITÂNCIA

DIÁRIO: 29 de março de 2009
SOBREVIVA AO DIA!!! É o nosso carpie diem.

SITUAÇÃO DESAGRADÁVEL

Contas a pagar. Itinerário: caixa eletrônico com pouca fila, fones de ouvido e outras tantas filas a enfrentar. Sobrinho em surto psicótico. Não suportando uma separação, usa alcool e outras drogas.
Uma família que já sofreu tanto. Entramos três primas, 42, 44 e 47 anos. Uma exclama:Vinte e cinco anos depois e nada mudou! Estamos adentrando o Sanatório Meduna, mortificadas, crescemos fazendo visitas a nosso avô neste local, eu mesma estive em seus porões, tinha uma bica que não parava de cair água, então me molhava muito, estava sempre molhada e os colchões ainda de forro de palha, fediam a fumo de rolo (1991). Horrível. Me pergunto intimamente se somente a estrutura física continua a mesma e o tratamento? Não há leitos separados para dependentes químicos. O único CAPS ad para uma população de quase 800 mil pessoas, o usuário morando perto não atende numa crise psicótica. Não medica e manda para casa. Não vai até o usuário. E a família no desespero de não internar num manicômio um jovem de 23 anos. Interna depois de vários dias, já numa crise aguda, para protegê-lo das ruas e o bem público. Típica função do manicômio.

ESTRATÉGIAS
Estava com medo de me envolver nesse corpo a corpo da militância por conta de certa fragilidade dos últimos dias e manifestações leves dos sintomas. O evitamento máximo a situações extremas tem sido minha estratégia principal. Mas ontem estive envolvida para conseguir a internação que apesar de não bem-vinda, é difícil. Constantemente não há vagas. E o apoio a amiga em depressão profunda. Hoje era preciso apoiar, com mais dor, porque é um familiar, finalizamos a internação, agilizando como podemos com nossas parcerias com Serviço Social do HAA e Ouvidoria, que são sempre amigas solícitas e solidárias no possível de sua intervenção profissional.
Se tivesse me omitido, deixado o medo vencer, talvez estivesse pior, sentindo culpa. Acho que foi um bom teste de enfrentamento. Percebo que não há como voltar atrás com o trabalho do Ninho:Ajuda mútua e Suporte. Trabalhei o resto do dia. E as contas ainda não estão atrasadas. Fiz relaxamento e meditação antes de dormir.

quinta-feira, 26 de março de 2009

NO CONSULTÓRIO DO PSIQUIATRA

. Meu psiquiatra, Edson Paz, renomado profissional teresinense, parecia cansado hoje à tarde. Quase trinta pacientes para atender. Me informa que vários psiquiatras da "velha guarda" já não atendem ou estão deixando de atender, fechando consultórios e indicando-lhes os pacientes. Pergunto pelos jovens psiquiatras da cidade, eles existem? Tem leituras mais atualizadas da clínica da Reforma. Vamos descobrir e divulgá-los.
Ansiosa sempre sou uma das primeiras. Chego cedo. Pensando nos outros ansiosos lá fora, tendo encurtar a conversa que se alonga além da consulta. "Gentilmente" sempre nos desentedemos quando o assunto é Reforma Psiquiátrica. Pergunto fingindo está zangada, que história é essa que ele está dirigindo o Meduna? Está, e diz que a situação é difícil. Mas o sanatório se mantém. São duzentos leitos. Não tem CAPS para tudo isso. E repete o argumento dos psiquiatras mais conservadores, que não querem médicos nos CAPS, contesto: Não precisamos de psiquiatras com mentalidade manicomial. Que oriente a familia "amarrar" o paciente em casa, porque a lei proíbe no CAPS. Repete outro argumento que ao fechar hospitais os pacientes ficarão na rua como na Inglaterra. Não sei da reforma inglesa, mas contra argumento que vivemos no Brasil e nossa experiência de Reforma está ainda em curso. Tem vinte anos, não é muito. Chegou ao Piauí apenas apenas em 2006. Ele sempre me diz que o CAPS não deixa de ser um hospital dia, experiência que somos pioneiros no nordeste e ele dirigiu por alguns anos. Digo que na essência não é, o que há de comum são as semi-internações. Não é para ser, o CAPS tem a idéia de território, intervenção domiciliar na crise. Não fazem. Porque os profissionais ainda são impregnados de concepções de clínica manicomial. Deu o remédio e terapia ocupacional para aqueles que conseguem pintar potinhos de cerâmicas ou fazer vergonite, festas das mães, dos pai, juninas com bastante comida, igualzinho ao hospital psiquiátrico. Então, meu respeitado psiquiatra, pessoa a quem realmente tenho apreço, tem razão quando diz que mudamos de modelo hospitalocêntrico para capscêntrico.
. A clínica psiquiátrica GESTA fechou em fevereiro. A maioria dos pacientes eram do PLAMTA, que passou alguns meses sem pagar a clínica. E a exigência de uma resolução do Conselho de Medicina, que determina a presença de plantonista presente às noites, isso exigia contratações de mais profissionais, ou próprio Dr. Edsom, um dos donos não dormiria mais em casa.
. Alguém que trabalha no Centro de Zoonoze, num programa de educação em saúde da Fundação Municipal de Saúde ( FMS ) junto as lideranças comunitárias do Bairro Porenquanto, proximidades do MEDUNA me informa que foram encontrados focos de dengue dentro do espaço do sanatório e nas proximidades onde a população vizinha acumula lixo.
Dengue e loucura se encontram... sempre digo que temos uma pandemia de transtornos mentais nesta cidade e a FMS só pensa na dengue. Imagina que já vi caso de paciente morrer de pneumonia dentro de hospital psiquiátrico depois de sessenta dias internado, paciente jovem, 36 anos, alcólico. Imagino que o Meduna tenha um clínico geral. Louco também contraí dengue. Esperemos o melhor para companheirada internada.
. Conheci um jovenzinho que usa Barbital? Serve para quê? Ele como a maioria dos pacientes não sabia seu diagnóstico, mentiu que estava no "corredor da espera" porque ia ao consultório do dentista. Péssimo poeta. Mas um gracinha de pessoa. Uma outra jovensinha, uma miss, acompanhada pela mãe, que amaldiçoava a medicação e também não sabia seu diagnóstico. Uma depressão revelou a mãe. A moça já usou respiridona, hoje usa haloperidol e clonazepan. Qual o diagnóstico? Não sei, mas os efeitos colaterais desses barras pesadas, realmente são amaldiçoados. Tadinha.

sábado, 21 de março de 2009

CURSO: SAÚDE COMUNITÁRIA

Saúde Comunitária:
Um olhar biocêntrico sobre a saúde - física/mental - na atenção primária, CAPS e proteção social básica.

A saúde física e a saúde mental, para nós, em geral, tem a mesma origem, o equilíbrio eco-sócio-orgânico-psicológico. A doença é o desequilíbrio
Cezar Wagner de Lima Góis
Data: 15, 16 e 17 de maio
Local:
Centro Guadalupe das Ir. de São José
Rua Area Leão 1940 / Norte
(Esquina com a rua Ceará)


CONTEÚDOS:

A VIDA É A REFERÊNCIA DO VIVER
Dançar a Vida
Cultura Biocêntrica
SAÚDE COMUNITÁRIA
SUS e atenção básica em saúde
Enfoque biocêntrico da saúde/doença
Usuários e usuárias pobres
Estresse continuado
Capacidade de enfrentar o estresse do cotidiano
MÉTODOS E ESTRATÉGIAS
Método facilitar-pesquisando
Estratégias de facilitação
VIVÊNCIA DE BIODANÇA

Investimento
Profissional: R$ 120,00 - duas parcelas de 60,00
Estudantes: R$ 80,00 duas parcelas de 40,00

Este é um evento organizado pela rede Amigo no Ninho e Escola de Biodança do Piauí. Provendo conhecimentos sobre saúde integral.
Contatos: Ismênia Reis 3232-5293 ou link ao lado Biodança Piauí
Edileuza Lima 9402-4035/8824-6343

sexta-feira, 20 de março de 2009

DEU NO JORNAL : União em saúde mental

Pequena nota em coluna do jornal Diário do Povo de hoje divulgava que o CAPS de União e de Batalha foram selecionados para o Programa de Supervisão Clínico Institucional. Como premiação receberão cada um dez mil reais para capacitação continuada de seus profissionais. A nota não explica o que é o tal programa e que instituição estaria ligado. Imagina-se que seja coisa boa.
Destaco a nota para chamar a atenção para o trabalho de Marta Evelin de Carvalho Bona, sempre bem orientada pela amiga companheira professora Lúcia Rosa. Marta é pessoa que vive com transtorno mental assumidamente, tem depressão. Já foi presidente da Âncora, é de sua atual direção e grande referência antimanicomial no Piauí. É Terapeuta Ocupacional e coordenadora do CAPS de União. Ultimamente fazendo útil e interessante trabalho de produção teórica em conjunto com o psicólogo Lucas Guimarães e Lúcia Rosa. A saúde mental do Piauí só tem a ganhar apoiando e dando mais espaços nas gestões a usuários dos serviços psiquiátricos, pessoas competentes e comprometidas.
UNIÃO EM SAÚDE MENTAL : experiências relacionadas a saúde mental no município de União/Pi organizado por Lúcia Rosa e Marta Evelin com artigos de vários autores/EDUFPI,2007

terça-feira, 17 de março de 2009

DEPENDÊNCIA QUÍMICA E SAÚDE MENTAL EM TERESINA

Toda uma luta anterior a da atenção psicossocial preconizada pela reforma psiquiátrica, aqui no Piauí constituia-se na instituíção de leitos psiquiátricos em hospitais gerais. Somente a partir de 2005 com o fechamento do P.A. (Pavilhão dos Alcólicos) no Hospital Areolino de Abreu, já em respeito a lei 10.216 e a portaria 336, se inaugura o primeiro CAPS ad da cidade, no bairro Monte Castelo. Mantém-se os leitos para estes pacientes no Sanatório Meduna. Informações me chegam que principalmente jovens mulheres preenchem as enfermarias, estas culturalmente não procuram o CAPS ad, não se expõe tanto quanto os homens.
O hospital do Mocambinho, objeto hoje de audiência pública na câmera de vereadores, por conta dos temores da população que este se torne um CAPS ad, que esta perda os serviços de ambulatório e urgência. Esta é uma discussão que se perde na "ignorância", do não saber da história da instituíção, da política de saúde mental no Piauí e nacional. Desde 2005, a então diretora do hospital do Mocambinho, assistente social Lúcia de Fátima Pereira Meneses, plantonista do hospital Areolino de Abreu, estudiosa, profunda conhecedora dos problemas que afetam o usuário dos serviços psiquiátricos em Teresina, trabalha em conjunto com a comunidade do bairro, auxiliando no surgimento do primeiro Conselho Local de Saúde autônomo do Estado nesse mesmo ano. Na sua criatividade elabora projetos, já fazendo a prática, em parcerias com a Casa de Assistência Indigena, orgão ligada a FUNAI, cria uma enfermaria ambientada a cultura indigena. E o projeto Serviço Hospitalar de Referência em alcool e outras drogas (SHR-ad), com 10 leitos cadastrados, no qual o dependente tem tratamento clínico por uso abusivo ou abstinência, com processo de internação em curta duração variando de 01 a 15 dias, dependendo do agravo clínico _ que esperava aprovação desde outubro de 2007 pelo Ministério da Saúde, recentemente aprovado, propagado pela imprensa, temido pela população e confundido e não entendido por má vontade de alguns gestores de nossa saúde pública.
Segundo Lúcia de Fátima, em seu artigo no livro Saúde Mental e Assistência Social, o projeto surgiu da necessidade de dar respostas as demandas dos conselheiros, de como encaminhar pessoas da comunidade, ociosas, de baixo poder aquisitivo que se encontram por estes motivos ligados a dependência química, por inexistência de outros serviços que atendessem a este público, são estes dados que constam na justificativa da iniciativa.
O problema naquela comunidade continua grave, segundo relatos da enfermeira do Programa Estratégia da Família naquela área, Olívia Quaresma, a incidência de transtornos mentais ocasionados ou não pela dependência química é grande e o programa não tem como atender esta especificidade sem a articulação com um precioso serviço deste, se for implantado com seriedade e busca de resultados sastifatórios. Que a comunidade ganhe duas vezes mais e fortaleça o controle social.
.EXPERIÊNCIA DE ASSISTENTE SOCIAL E GESTORA EM INSTITUÍÇÃO PÚBLICA DE SAÚDE: CONSTRUÇÕES E CONQUISTAS in Rosa, Lúcia dos Santos Rosa. Saúde Mental e assistência social: tecendo a rede de experiências no Piauí./ Lúcia Rosa, Lucas Guimarães, Edna Melo. Teresina: EDUFPI, 2008. 205 p.
O Ninho tem ainda 13 volumes para vender e pagar terapias para usuário.Aguardo contato.

sábado, 14 de março de 2009

SUICÍDIO: Poti, o rio de Virginia Woolf

"Querido,Tenho certeza de estar ficando louca novamente. Sinto que não conseguiremos passar por novos tempos difíceis. E não quero revivê-los. Começo a escutar vozes e não consigo me concentrar. Portanto, estou fazendo o que me parece ser o melhor a se fazer. Você me deu muitas possibilidades de ser feliz. Você esteve presente como nenhum outro. Não creio que duas pessoas possam ser felizes convivendo com esta doença terrível. Não posso mais lutar. Sei que estarei tirando um peso de suas costas, pois, sem mim, você poderá trabalhar. E você vai, eu sei. Você vê, não consigo sequer escrever. Nem ler. Enfim, o que quero dizer é que depositei em você toda minha felicidade. Você sempre foi paciente comigo e incrivelmente bom. Eu queria dizer isto - todos sabem. Se alguém pudesse me salvar, este alguém seria você. Tudo se foi para mim mas o que ficará é a certeza da sua bondade. Não posso atrapalhar sua vida. Não mais. Não acredito que duas pessoas poderiam ter sido tão felizes quanto nós fomos.V."
No dia 28 de março de 1941, após ter um colapso nervoso Virginia Woolf, escritora inglesa, suicidou-se. Ela vestiu um casaco, encheu seus bolsos com pedras e entrou no Rio Ouse, afogando-se. Seu corpo só foi encontrado no dia 18 de abril. Acima o último bilhete ao marido.
Semana passada, assisti angustiada pela televisão o resgate de uma moça de aproximadamente dezoito anos que já tinha ultrapassado as baixas grades de uma de nossas pontes sobre o rio Poti. Uma multidão de populares chamava sua atenção, alguns rezavam, até que os policiais conseguiram agarrá-la e levaram-na para um hospital. Imagino, que para hospital psiquiátrico. Menos (ou mais sorte na sua intenção) teve a senhora que estacionou o carro, ainda noite, perto do amanhecer. Tirou as sandálias, não se preocupou com as pulseiras e adentrou o rio. O corpo já foi encontrado.
Conheço algumas pessoas que já tentaram suicídio mais de uma vez. Todos hoje tem sequelas físicas. Nenhum mantêm tratamento psiquiátrico, apesar de alguns terem sido internados no momento da crise psicótica.
Altos índices de suicídios em Teresina já tem provocado colóquios acadêmicos, pesquisas, mas que eu saíba nenhuma política de saúde preventiva sobre a questão foi instituída. Agradeço alguma informação.

ESTIMULAÇÃO MAGNÉTICA TRANSCRANIANA repetitiva ( EMTr)

"A Estimulação Magnética Transcraniana repetitiva EMTr (repetitive Transcranial Magnetic Stimulation — rTMS) é uma nova técnica de abordagem e tratamento de desordens neuropsiquiátricas que permite a exploração, ativação ou inibição das funções cerebrais, de maneira segura, específica, não invasiva e indolor. O método consiste em atingir o cérebro de forma dirigida, através de pulsos magnéticos sobre o crânio, os quais, atravessando os tecidos, geram uma fraca corrente elétrica capaz de provocar alterações na atividade das células nervosas. A técnica é aprovada para uso clínico em diversos países, inclusive no Brasil, mostrando-se muito útil no tratamento da depressão. "
Soube detalhes desse tratamento através de site enviado por amigo virtual de Apoio em Saúde Mental na Web, se encontra ao lado, abaixo do link Casa Lima Barreto. Fiquei bastante interessada em saber de depoimentos de pessoas que já tentaram, na depressão e demais transtornos. Se o SUS paga esse tipo de tratamento fora do domicílio? Fico a imaginar sobre o fato de deixar a medicação, seus quase insuportáveis efeitos colaterais, passar um maior tempo com sintomas em remissão, tudo isso de forma indolor. Será mesmo? Psicóticos que já sofreram muito com os tratamentos tradicionais; medicamentoso e as terapias (ou psicoterapias, que a grande maioria atendida nos serviços públicos, nem sequer imaginam que existam), ficamos entre esperançosos e desconfiados. Chega um momento que a "crise" passa a ser cotidiana, parece que a medicação depois de anos, mesmo com a troca contínua pelas substâncias novas que vão chegando ao mercado, parecem não fazer efeito. Você está lá numa redoma monástica anti-stress, meditação, yoga, biodança, pilates e agora a tão falada Terapia Cognitiva (TC), comprei uma revista especial sobre esta abordagem da Psicologia que promete bons resultados nos "transtornos emocionais" ( preocupação com o politicamente correto ou eufemismo?) como a depressão, esquizofrenia, bipolaridade e ansiedade. Em Teresina, só soube notícia da existência de uma psicóloga cognitva. Sem vagas. Estou procurando para tentar. Agradeço qualquer informação.
Não somos totalmente inquietos ou impacientes, no sofrimento psíquico o cérebro parece arder. Queremos e precisamos trabalhar, cuidar do lar, da família, dos estudos, do amor. Queremos o direito a subjetividade. A loucura com saúde mental. Que venham novos tratamentos a base de tecnologias eletrônicas ou humanas e que nos garantam esse direito.

sábado, 7 de março de 2009

SAÚDE MENTAL PÚBLICA NO BRASIL: Isso me dar Bornaut!

http://jbonline.terra.com.br/pextra/2009/03/07/e070320259.asp

Confira notícia sobre descaso com pacientes psiquiátricos. E nós continuamos a sonhar como Martin Luther King com dias melhores para aqueles iguais a nós, mas com menos sorte? Louco tem direitos humanos?

segunda-feira, 2 de março de 2009

SAIA DA CRISE!!!!!!!!!

Quem sofre de um transtorno mental não pode achar que a vida se resume a sintomas, descontrole e desesperança.
Marcionilo Laranjeiras, psiquiatra ( Grupo Membros Proativos, Apoio na Web)

domingo, 1 de março de 2009

FATORES SOCIOECONÔMICOS E DEMOGRÁFICOS PODEM GERAR PROBLEMAS DE SAÚDE MENTAL EM CRIANÇAS: Alguma novidade?

SÃO LUÍS - A saúde mental implica em aspectos biológicos, comportamentais, emocionais, cognitivos e ambientais. Crianças que durante seu desenvolvimento deparam-se com situações de risco envolvendo esses aspectos, podem sofrer prejuízos em sua saúde mental. Foi pensando nesse fato que a pesquisadora do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da UFMA, Juliana Dalla Martha Rodriguez, desenvolveu sua dissertação de mestrado, intitulada: Fatores perinatais e problemas de saúde mental em crianças brasileiras.

Em sua pesquisa, sob orientação do Prof. Dr. Antonio Augusto Moura da Silva, Juliana Rodriguez buscou verificar a prevalência de problemas emocionais e comportamentais nas crianças, averiguando a relação entre fatores perinatais, problemas emocionais e comportamentais; e avaliando a influência dos fatores socioeconômicos no desenvolvimento desses problemas.

Foram avaliadas 805 crianças de 07 a 09 anos da cidade de São Luís, por meio de um questionário. A pesquisadora observou alta prevalência de problemas de saúde mental (47,7%), sendo a maior prevalência para os sintomas emocionais (58,2%) e problemas de conduta (48,8%). Em relação aos problemas de relacionamento com colegas e hiperatividade, as prevalências foram menores (27,17% e 32,20%), porém mais elevadas do que as encontradas nos países desenvolvidos e no Brasil (comparando índice local e índice nacional), onde os números variam de 8% a 24%.

Juliana Rodriguez observou, ainda, que as condições socioeconômicas e demográficas foram mais preditoras de problemas de saúde mental em crianças de 7 a 9 anos do que o peso ao nascer e nascimento pré-termo.Ascom UFMA


Essas crianças brevemente serão adolescentes e depois adultas psicóticas. A política nacional de saúde mental, através da portaria 336, de 19 fevereiro de 2002, que estabelece os CAPS determina cuidados preciosos no serviço de atenção psicossocial para crianças e adolescentes. Já discutimos neste espaço, que se estes CAPS ou qualquer outro nome que se dê a esses centros, realmente desempenhassem metade do que está belissimamente escrito na portaria, daqui a vinte anos teríamos adultos vivendo com transtorno mental mais funcionais, produtivos e capazes de através da educação superar seu meio social, como se espera da maioria das crianças pobres consideradas normais.
A realidade em Teresina não é tão diferente de São Luiz. As escolas públicas estão cheias de "meninos ruins do juízo", hiperativos "diagnosticados" apenas pela professora. Temos um único CAPS infantil, antigo pavilhão infanto-juvenil do Hospital Areolino de Abreu, inaugurado em 1997 para abrigar crianças e adolescentes com transtornos mentais, adolescentes em situação de risco, levados na maioria das vezes pelo Conselho Tutelar da época, quando tinham que pernoitar, ficavam nas enfermarias clínicas ou ante-salas dos pavilhões dentro do hospital. Os cuidados ainda são de modelo bem hospitalar. Somente em 2006 a condição de CAPS foi legalizada.A falta de gratuídade em transportes coletivos, ambulância, ônibus do próprio CAPS ou distribuição de vales transportes inviabiliza o tratamento de algumas crianças e adolescentes. Argumentam alguns profissionais que lá trabalham.
Alguns pais e professores consideram estigmatizante enviar as crianças para tratamento num CAPS que fica dentro de um hospital psiquiátrico. Minha última experiência acompanhando algumas mães e crianças ( com vales transportes fornecidos pela escola ), foi bem reveladora da situação: as crianças comentavam entre si que iam a um hospital de loucos, onde abririam suas cabeças com serras e colocariam letrinhas. Chocada, eu repetia que não era um hospital era um CAPS. E definir esse lugar para eles era dificil, claro. Chegando lá, o acolhimento foi a visão de adolescentes medicados, não ajudou muito. Apesar de encontrarmos uma caixa de brinquedos num canto, onde imediatamente parecendo alheios sentaram-se no chão, "vadiando" com os velhos brinquedos. Nunca mais voltaram. A escola não tinha mais vales. Coisas de Edileuza! Exclamava minha competente diretora.




VIAGEM ATRAVÉS DA LOUCURA ( Mary Barnes & Joseph Berke )

A EXPERIÊNCIA DE KINGSLEY HALL ENQUANTO ESPAÇO DE LIVRE EXPRESSÃO DA LOUCURA? ROMANTIZAÇÃO DO SOFRIMENTO PSIQUICO? ATÉ QUE PONTO AS INFLUÊNCIAS DE OUTROS MOVIMENTOS LIBERTÁRIOS DOS ANOS SESSENTA INFLUENCIARAM A IDÉIA DE COMUNIDADE TERAPÊUTICA INGLESA? O QUE A CLÍNICA DA ATENÇÃO PSICOSSOCIAL CARACTERÍSTICA E EM CONSTRUÇÃO NA REFORMA PSIQUIÁTRICA BRASILEIRA TEM A APRENDER COM KINGSLEY HALL?

"Ocasionalmente tínhamos "sessões de pensamento". A finalidade dessas sessões era considerar o que se passava com ela, comigo, entre nós e em Kingsley Hall. Os assuntos iam desde a polarização da comunidade ( totalmente negada: -- Joe você está errado. Sei que as pessoas amam umas às outras e só querem ajudar-me a melhorar.) , passando por esses desejos e ciúmes sexuais ( parcialmente negados: -- Joe, quero voltar para o convento e ser uma freira contemplativa. __ Eu: __ Diga dez aves-marias e falaremos disso amanhã.) , até os sentimentos de raiva e fúria ( __ Joe, eu me sinto muito ruim hoje. __ Eu: É porque você quer matar a mim e a Roberta.).
A mutilação da comunidade e o sexo eram indigestos. A raiva e a violência não o eram. Isso foi o auge da primavera para nós dois. Mary, finalmente, começara a aceitar sua própria experiência da raiva. Passamos horas examinando como, quando e onde ela se sentia zangada. Essa foi uma questão fundamental. A COISA era o resíduo vomitado de pênis e vaginas não digeridos. Mary tinha de examinar seu vômito, a fim de chegar à parte cosmetível da matéria e nutrir-se com ela.
Encorajei Mary a gritar a berrar e chutar e morder. Usava meu tamanho e peso superiores para absorver seus apertos, mordidas e golpes. Um hábil trabalho dos pés evitava que eu fosse chutado em lugares vitais. Esses intercâmbios primitivos tinham muito efeitos benéficos. Mary tornou-se mais capaz de "suportar a COISA" quando o medo da sua raiva diminuiu. Ela começou a ver que sua experiência de ser torturada e assassinada por outras pessoas tinha algo a ver com seus próprios desejos de torturar e assassinar as pessoas que pensava irem "entrar nela". Adquiriu a capacidade de reconhecer as múltiplas modalidade a raiva.
Quando reconheceu a COISA, pôde fazer a si mesma a pergunta superimportante: "Por quê? Elucidava-se para Mary, que era uma senhora muito ciumenta.

[...] Infelizmente, a infra-estrutura emocional de Mary era esmagada pela combinação de ciúmes sexual e caos social. Isso provocava mais ansiedade, medo e culpa do que a recém-descoberta consciência de Mary podia enfrentar. Em conseqüência, a primavera de 66 viu Mary entrar numa "descida" da qual não voltou por quase um ano."

Joseph Berke agradece aos conceitos de Ronald Laing, referindo-se, a consciência de que a psicose pode ser um estado da realidade, com natureza cíclica, através do qual o eu se renova; e à consciência de que a pessoa pode funcionar em vários níveis de regressão ao mesmo tempo.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.