quinta-feira, 31 de julho de 2008

CONFERÊNCIA MUNICIPAL DE SAÚDE MENTAL DE UNIÃO - 18 /19/AGOSTO


O Estado do Piauí realizou a I Conferência Estadual de Saúde Mental em outubro de 2001. O município de Teresina nunca promoveu nenhuma. Fala-se que acontecerá uma Conferência Nacional em Brasília em 2009. A preocupação do movimento de usuários representados pela Âncora e Ninho é mobilizar os municípios para que realizem suas conferências, suprindo a necessidade e importância da presença de representantes numa possível conferência estadual e naturalmente um considerável número de representantes para a nacional.
O município de União sai na frente, promovendo sua I Conferência Municipal de Saúde Mental. Parabéns pela iniciativa aos guerreiros, comandados não, "orientados" pela T.O. e coordenadora do CAPS, Marta Evellin, grande antimanicomial.

Mais uma de União:
Boas leituras no livro,União em Saúde Mental (Experiências relacionadas à saúde mental no município de União - Pi)/Lúcia Cristina dos Santos Rosa; Marta Evellin de Carvalho Bona -Teresina: EDUFPI,2007. São 14 artigos com temáticas pertinentes e instigantes para quem está fazendo ou pensando a reforma psiquiátrica no Piauí.

terça-feira, 29 de julho de 2008

HUMANIZAÇÃO NA EDUCAÇÃO


A CNTE - (Confederação Nacional de Trabalhores em Educação) e o LPT (Laboratório de Psicologia do Trabalho - UNB), realizaram uma mega pesquisa em todo o país, sobre as condições de trabalho e saúde mental no país: professores, funcionários e especialistas em educação da rede pública estadual. Os resultados publicados no livro organizado por Wanderley Codo, no livro Educação: carinho e trabalho/ Bournout, a síndrome da desistência do educador, que pode levar a falência da educação,1999, segundo Codo não existem na literatura internacional uma definição única para Bournout, é considerado uma espécie de stress laboral crônico. Diferente do stress comum, esse stress causado pelo Bournout, envolve atitudes e condutas negativas em relação ao tratamento ao usuário, cliente,organização e trabalho. É uma síndrome da desistência que acomete profissionais da área da saúde e educação quando veêm muitas vezes seus recursos pessoais, serem incapazes de solucionar problemas cotidianos do seu trabalho. O trabalhador não se emociona mais, não se envolve mais, não cria vínculo afetivo diante da impossibilidade de executá-lo.
Nas escolas estaduais ouve-se um burburinho entre professores, as regionais estão constantemente cheia de professores para resolver problemas relativos a questão de faltas e descontos por elas. Não é o caso de se fazer uma pesquisa para saber o porquê da ausência desse professor? Promover ações de motivações ou mesmo terapêuticas para ajudá-lo. Puní-lo com a falta e retenção do contra-cheque, apenas constrange, não dar voto e não resolve o problema.
Faça-se como na prefeitura, projeto-piloto, Terapias Alternativas para Docentes, executado pela professora e Terapeuta Naturista, Vera Lúcia Bezerra, na E. M. Barjas Negri, que tem ajudado muito no combate ao stress e o cansaço cotidiano de muitos professores. Humanização, melhor que punição.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

O CANTO DOS MALDITOS



Livro que deu origem ao filme Bicho de Sete Cabeças

... Cada vez mais rebelde dentro do hospício, já não sabiam mais que castigo me dar. Vivia sob o efeito da Tortulina. Enfiava o pedaço de pau na boca e, mesmo sob esse efeito, eu aprontava uma briga, apanhava, ou quebrava alguma coisa. Um dia peguei uma vassoura e sai pelo corredor estourando todas as lâmpadas que via. Fui amarrado a uma cama em um dos quartos. Os enfermeiros gostavam de tirar uma casquinha. Grudavam esparadrapos nos pêlos das minhas pernas e puxavam - eu lhes cuspia e levava mãozada na cara... eu xingava, cuspia, chorava de raiva! Podiam me arrebentar, eu estava cheio de tudo e de todos. Se algum crônico me abrisse a cabeça, seria um favor. O Orlando cortara os pulsos e iria cortar de novo se sua mãe não o tirasse daquele lugar nojento. Esquecidos pelos psiquiatras cometas. Sua mãe o tirou. Eu também iria fazer algo semelhante!
Sedavam-me ao máximo.
Carrano

quinta-feira, 24 de julho de 2008

HGV & HUT (ENQUANTO ISSO NA SAÚDE MENTAL)


Toda a imprensa hoje em Teresina, nos jornais e telejornais se mobilizava, entrevistava médicos e gestores sobre a transferência imediata do pronto socorro do HGV (Hospital Getúlio Vargas) para o "histórico, esperado e recém-inaugurado" HUT (Hospital de Urgência de Teresina), ou pronto-socorro da prefeitura. Para nós população, fica as variadas falas: não tem estrutura, do jeito desumano, em cochonetes no chão, no corredor, paciente "comprando" maca no PS do HGV e os leitos recém construídos confortáveis é que não pode ficar. Os médicos não aceitam as condições de pagamento da prefeitura, o prefeito não quer pagar os médicos como deveria. Eles já abriram mãos de muitas vantagens, em assembléia geral da categoria (???). E o ministério público avisa que omissão de atendimento é crime. E daí, o parente já morreu, perdeu a perna, etc.

... ENQUANTO ISSO NA SAÚDE MENTAL
. Estive ontem no meu psiquiatra, o de sempre, consultório pequeno, lotado, mais de 20 pacientes para nove cadeiras na ante-sala de espera.
. Estive hoje com minha filha surda numa clínica de otorrino. Pertence a quatro donos, tem vários ambientes climatizados, decorados com o bom gosto da fotografia de Antônio Quaresma, até no banheiro. Um parquinho infantil com vários brinquedos, internet (dois computadores), jogos eletrônicos, uma lanchonete de boa qualidade, várias televisões de plasma espalhadas pelas paredes dos ambientes, jornais do dia. E um excelente atendimento por parte das funcionárias. Que inveja! Minha filha só precisa repetir a audiometria uma vez por ano.

.Uma amiga ontem, outra hoje, me falam de certa colega nossa, com duas graduações, que está em crise psicótica, delirando (falando besteira) segundo elas. Me pedem segredo. Perguntam sobre o que fazer. Ora, santo desconhecimento, sobre as questões de saúde mental! Se alguém está delirante, fazendo coisas bizarras, tirando a roupa em qualquer lugar, com mania de perseguição, é necessário uma intervenção psiquiátrica. Só ter pena de alguém que "era bom do juízo" e perdeu a sanidade não resolve. O que nós gostaríamos é que essa intervenção fosse feita por uma boa equipe de CAPS. Aí, eu lembro de apaixonante texto dos italianos Giuseppe dell Àcqua e Roberto Mezzina, psiquiatras do Serviço de Saúde Mental de Trieste, Resposta à crise: Estratégia e intencionalidade da intervenção no serviço psiquiátrico territorial.
Eles dizem no tópico O Contato, que muitas vezes "não se consegue ativar os mecanismos que poderiam aliviar a carga dramática da situação e isso, de modo geral, diz respeito a quem é mais sozinho, com menores recursos, com menores meios cognitivos e de relação com o mundo externo. Pode então acontecer que a pessoa, de maneira obstinada, recuse a contato e tenda a isolamento maior. O serviço deve, a este ponto, multiplicar as "banais" estratégias de aproximação: telefonemas, envio de mensagens por baixo da porta, envolvimento de outros sujeitos (como amigos, o padre, o guarda civil, o encanador, etc.) ou mesmo buscar o encontro em locais diversos." Poderíamos até ser mais criativos, importante é que a amiga da amiga, intelectual, com família pequena, possa receber ajuda que amenize seu sofrimento psiquíco. Nesse momento sonho com a construção de um movimento de usuários pautado no suporte e ajuda mútua. Sem rabo preso aos serviços.

. A imprensa não falou mais sobre o fechamento ou não do Sanatório Meduna, que continua com seus leitos lotados. O Hospital Areolino de Abreu está reformando o espaço da urgência/emergência. Não consegui identificar quem serão os maiores beneficiados, funcionários que agora terão proteção de vidro e telas em todas as situações de contato com o paciente ou se tem alguma coisa que esteja sendo reformada para o conforto dos que ali adentram em situação de emergência. Preciso voltar lá no final da obra. Preciso saber de o Ministério Público tomou conhecimento? Se a obra está de acordo com normas de humanização preconizadas para urgências/emergências, previstas pelo Humaniza-SUS.

. Pois é...

terça-feira, 22 de julho de 2008

KINGSLEY HALL


Com base na noção de que a psicose é uma realidade semelhante ao estado de viver em sonho, não é simplesmente uma doença a ser eliminada através dos choques elétricos e psicotrópicos da tradição ocidental, mas, como em outras culturas, um estado de transe que poderia até mesmo ser valorizada como místicas ou shamântica, esforçou-se para ser um espaço em que permitisse que as pessoas esquizofrênicas explorassem a sua loucura e caos interno.
Foi uma experiência da antipsiquiatria inglesa, uma comunidade terapêutica "progressista... ninho de reflexão, onde continua sendo chocado o ovo de uma nova psiquiatria." (O que é psiquiatria alternativa, Alan Indio Serrano, coleção primeiros passos)

VIAGEM ATRAVÉS DA LOUCURA - I

AS pinturas e a merda de Mary

Mary lambuzava merda com a habilidade de um calígrafo zen. Ela liberava energias com uma de suas muitas pinceladas naturais, espontâneas e não-conscientes do que a maior parte dos artistas expressa, em toda uma vida de trabalho. Eu me maravilhava com a elegância e eloquëncia de sua imagística, enquanto os outros enxergavam apenas seus cheiros.
Seria a pintura a estrada real para o inconsciente de Mary? Poderia ela fornecer um meio de revelar os mistérios de seu mundo interior? Eu estava decidido a descobrir. Enquanto esperava até Mary está suficientemente firme, antes de sugerir que ela experimentasse crayons papel branco, além dos produtos de seu corpo e as paredes da sala de visitas, lembrei-me das palavras de John Thompson: "Esteja atento para as maneiras através das quais os homens se revelam!" John ilustrara esse conselho com um relato de como conseguira comunicar-se com um rapaz que passara muitos anos com "esquizofrênico catatônico" no pavilhão dos fundos de um hospital de Nova York.

Mary Barnes & Joseph Berke,1977 (Sobre a experiência de Kingsley Haal)


domingo, 20 de julho de 2008

DIÁRIO PÓS-CRISE



Nilo Neto mantinha em seu blog Antimanicomial a frase "Um surto sempre é possível"... eu acho que andamos sempre sobre o fio da navalha, nós psicóticos. Há um medo constante de passar para o lado de lá, ou seja, o lado que a insanidade está calma, te esperando. Havia na minha caixa de mensagem um pedido de ajuda (infelizmente antigo, não tenho tido tempo de acessar), um jovem esquizofrênico dizia que após seis anos de tratamento, o médico lhe informava que ele estava apto para o trabalho. Então, angustiado ele pedia ajuda: se os sintomas voltassem mais fortes, outra crise, se... se... que medo temos dessa mente que constantemente nos engana, que dribla o poder das medicações, das psicoterapias, da fé. E assustadoramente nos incapacita não só para o trabalho, mas para o amor, se um surto sempre é possível, o único amor possível, cheio de medos e auto-piedade e piedade pelo outro. Talvez ser cuidado, mas há um auto decreto da incapacidade de cuidar do outro. Normal, da norma racional da vida. Dois doidos é uma loucura!
Viver constantemente com a previsão da possibilidade de um surto é "paranóia" ou um auto cuidado? Pessoas que vivem com transtornos mentais, trabalham, criam filhos, estudam, enfim que se expõe o stress da vida cotidiana, evidentes que terão uma possibilidade maior de adoecerem. Agora dá para entender as preocupações do rapaz, vivemos numa sociedade que ainda não está preparada para aceitar nossas limitações, principalmente o mundo do trabalho.
Nos últimos anos criou-se uma cultura da diversidade e inclusão de pessoas com necessidades especiais. Rampas para cadeirantes, sinal de trânsito sonoro para cegos, popularização da língua brasileira de sinais, etc... Na área da saúde mental, talvez porque infelizmente, historicamente somos tutelados, não protagonistas de nossa própria defesa, o preconceito, auto-preconceito prevalece e o medo. Um medo que nos congela, "pânico" de não sermos capazes, mesmo que tenhamos talento, criatividade, iniciativa, mas estamos cá, do lado da normalidade, ansiosos ( tomando nosso santo ansiolítico ), esperando a vida passar. Quem sabe depois do quarenta consigamos casar?


PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.