terça-feira, 10 de junho de 2008

DIZEM QUE SOU LOUCO... mas juro que é melhor não ser um normal.


Estou aqui há meia noite, "intelectual braçal", num trocadilho sartreano. Mas preciso denunciar. Qualquer dia saio nua na rua, dessa vez sem surto, só em forma de protesto. Não será uma visão muito agradável, doida nua, depois dos quarenta.

Minha bronca:
Dia 23 de abril na perícia médica do IAPEP, o perito, clínico geral, pergunta o que sinto. Olha para o atestado, pergunta pela última receita. Falo que esqueci, mas estando em tratamento desde agosto de 2007, tenho em mãos, a receita de outubro de 2007. Ele insinua que sem receita, meu médico, poderia ser apenas um amigo meu, me ajudando a fraudar o sistema. Nega a licença de 60 dias, me dá apenas um atestado de 15 dias.
A direção da escola não quis nem saber. Voltei ainda em crise aguda bipolar, trêmula. A vice diretora insistiu que eu estava de licença, eu afirmando que não. Não entregou meus vales transportes do mês de maio, informou os dias do atestado como faltas, que foram descontadas. Trabalhei quinze dias do mês de maio com limitações, chegou a greve, aderi. Por está doente e por acreditar no movimento que reinvindicava mais que a questão salarial, mas melhorias de condições de trabalho e qualidade na educação.
Voltei ontem (09/06, segunda) a greve acabou quinta. Novamente me deparo com a intolerância e patologia da maldade dos "normais". De novo me negaram os vales transportes, pior, arbitrariamente formularam um documento afirmando que eu havia abandonada a escola, não havia dado uma aula no mês de maio e para assumir minhas turmas já havia sido designado um estagiário . E novamente houve um desconto maior no contracheque do mês de maio. Ainda bem que tenho as chamadas assinadas e testemunhos dos alunos. Surtei de indignação. Me sentia sem sintomas. Tive uma crise de pânico diante dessa situação limite, e o tremor voltou ao corpo.
O colega e também professor marido da vice-diretora, fez uma cirurgia no joelho e gozou de três meses de licença médica. É maravilhoso quando nossos direitos são repeitados. Ele paga imposto de renda, eu também. Mas não posso adoecer da mente, da emoção, ainda é doença fingida.

Bronca 2:
Dias 29/30/31 realizamos o II Encontro Piauiense da Luta Antimanicomial, dias antes, de 19 a 24 Associação Piauiense de Psiquiatria fez um "contra-movimento", com palestras gratuitas num shopping da cidade, afirmando está esclarecendo a comunidade sobre transtornos mentais e combatendo preconceitos e estigmas. Já falei e torno afirmar a comunidade que frequenta o shopping vai a um consultório (desconfortável como clínica de aborto clandestina), paga psicoterapia e busca um atestado de normalidade, o controle e a cura. É um "mutante" desprezível. Nas periferias, nas escolas públicas, no seio dos trabalhadores em educação e saúde é que é preciso fazer prevenção, monitorar a síndrome de Bournau. Diagnosticar com precisão e acompanhar crianças filhas de pais psicóticos. Que haja uma psiquiatria infantil resolutiva que impeça que psiquiatras manicomiais só os aguardem para internação integral aos dezoito anos.

Bronca 3:
Acredito que ainda por desconhecimento, não descaso, não quero acreditar nisso. Porque respeito muita gente dos movimentos sociais, não conseguimos ainda sensibilizá-los dentro de suas causas próprias para o ativismo em saúde mental. Não compareceram a contento. Mas continuaremos a provocá-los a interlocução: movimento negro, negro enlouquece, numa incidência sugestiva para uma pesquisa, mulher enlouquece e usa mais medicação psicotrópica que o homem, também merece pesquisa. É trágico a situação das pessoas soro positivas nos serviços psiquiátricos, infelizmente, pela segunda vez não conseguimos conversar com alguma entidade representativa. No desespero da crise, a família em sua busca de aliviar seu sofrimento e do ente amado, costuma levar sua dor, às casas espíritas ou umbandistas, também não conseguimos ouvir relatos dessas experiências, que podem ser somadas a redes de apoio e suporte.

PSIQUIATRIA SEM HOSPÍCIO

POR UMA CLÍNICA DA REFORMA PSIQUIÁTRICA: COM SUBJETIVIDADE, MEDICAÇÃO COM MENOS EFEITOS COLATERAIS E MAIOR PODER DE RESOLUTIVIDADE ASSOCIADA A PRÁTICAS INTEGRATIVAS E COMPLEMENTARES.